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Repórter especial de economia em Brasília

Haddad terá uma dura briga com a base do PT para descumprir pisos da Saúde e Educação

Como explicar para o partido que sempre defendeu mais recursos para as duas áreas que o governo não vai fazer o que manda a Constituição?

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Por Adriana Fernandes

A briga mais dura que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vai travar nos próximos meses será com a base do PT em torno do cumprimento do piso constitucional que obriga o governo a destinar um porcentual mínimo de recursos para as áreas de Saúde e Educação.

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O partido do ministro passou os seis anos de vigência do teto de gastos gritando que a regra criada pelo ex-presidente Michel Temer era uma afronta à regra constitucional que retirava recursos das duas áreas.

A razão: enquanto os dois pisos são atrelados à evolução da arrecadação, o teto de Temer corrigia o orçamento para a Saúde e Educação com base na correção do IPCA. O termo usado sempre foi o de congelamento de recursos.

Agora, Haddad está com um pepino nas mãos, que não se encerra com uma solução para 2023. O teto do governo Temer morreu assim que o presidente Lula assinou a lei do novo arcabouço. A consequência é que os pisos voltam a valer já em 2023, enquanto as regras do novo arcabouço entram em vigor, na prática, no ano que vem.

Zeca Dirceu, líder do PT na Câmara, apresentou proposta que tem efeito prático de reduzir aplicação de recursos destinados à Saúde Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

O governo se “esqueceu” de prever uma transição para os pisos ao longo deste ano. A justificativa oficial é a de que a expectativa inicial da equipe econômica é que a nova regra fiscal só seria aprovada no fim do ano.

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O problema para Lula, Haddad e ministros da articulação política é que, para cumprir o que manda a Constituição, no caso da Saúde, o governo teria de aumentar em R$ 20 bilhões o Orçamento deste ano e, com isso, bloquear despesas.

Como explicar para o PT raiz que o governo não vai cumprir o que manda a Constituição na direção do que sempre brigou? Mais estranho é ver que uma proposta de redução da aplicação dos recursos da Saúde partiu do líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu.

Haddad fez uma consulta formal nesta sexta-feira ao Tribunal de Contas da União para descumprir o piso em 2023. Qualquer interpretação para não aplicar o piso cheio da Saúde, no entanto, vai precisar de um suporte legal.

O perigo para Haddad é se sentir confortável com o pedido sobre um tema constitucional, se o TCU já disse que não faz controle de constitucionalidade. O STF disse a mesma coisa sobre o TCU. O caso vai parar no STF, com certeza.

“Com a revogação do teto, o retorno da imediata e plena vigência dos pisos constitucionais em Saúde e Educação é juridicamente incontornável”, avisa a procuradora de São Paulo Élida Graziane, uma das maiores especialistas sobre tema no Brasil. O ringue está aberto.

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