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Bolsa paulista encerra inquérito administrativo no Cade

Conselho Administrativo de Defesa Econômica aprovou acordo com a B3, que pagará R$ 9,44 milhões para suspender inquérito por suposta imposição de barreiras à concorrência.

Foto do author Fernanda Guimarães
Por Fernanda Guimarães
Atualização:

A B3 colocou um ponto final em inquérito administrativo que se arrastava há cerca de dois anos e meio no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A Bolsa firmou acordo com o órgão antitruste para encerrar o processo que teve origem em denúncia feita pela ATS Brasil, que tem planos de abrir uma bolsa de valores no Brasil. A empresa acusou a Bolsa de dificultar a entrada de concorrentes. Hoje, as duas empresas travam um procedimento arbitral, em curso há quase um ano. No Termo de Compromisso de Cessação de Prática (TCC) acordado, a Bolsa pagará uma contribuição pecuniária, para encerrar o inquérito. Esse acordo não significa, porém, reconhecimento de culpa ou ilicitude em relação às acusações. A exigência desse tipo de pagamento por parte do Cade tem sido notada como uma tendência pelo órgão em casos de condutas unilaterais, como foi esse caso em questão.

B3firmou acordo para encerrar o processo que teve origem em denúncia da ATS Brasil Foto: Gabriela Biló/Estadão

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O Broadcast apurou que o julgamento foi em linha com o esperado pela B3 e que já era aguardado, inclusive, o placar de cinco a dois, visto que os conselheiros que votaram contra já vinham seguindo esse posicionamento em outros casos. A percepção, ainda, foi que manter o inquérito não fazia mais sentido, visto que o Cade aprovou a união de BM&FBovespa em março do ano passado e, na ocasião, foi aprovado também um Acordo de Controle de Concentração (ACC), o qual prevê acesso de terceiros à infraestrutura de serviços da central depositária (CSD, na sigla em inglês) da B3. O TCC assinado ontem passou a prever mais detalhamentos. Dentre eles, a B3 terá de manter aberto o ambiente para a realização de testes pelo terceiro interessado na utilização de seus serviços no período em que se estiver negociando o contrato comercial ou enquanto a arbitragem estiver em curso. Segundo fontes, tais detalhamentos estão em linha com atual conduta da B3 em relação à ATS. Todo o acordo firmado é neutro, ainda, quanto ao processo de arbitragem entre as partes.

Entenda o caso

A denúncia feita pela ATS ao Cade ocorreu no dia 7 de abril de 2016, exatamente um dia antes dos conselhos de administração de BM&FBovespa e Cetip chegarem a um acordo sobre a fusão e anunciarem ao mercado. Ao longo do inquérito, a ATS acusou a Bolsa de colocar preços para fornecer seus serviços que inviabilizavam seu projeto. Já a B3, conforme documentos que foram protocolados no Cade, rebateu, dizendo que apresentou diversas propostas diferentes, reduzindo preços, mas que a ATS não demonstrou, ao longo de todo o processo, interesse em chegar a um acordo. Na análise do ato de concentração da fusão de BM&FBovespa e Cetip, a ATS participou do processo como parte interessada, estando presente em diversas reuniões que ocorreram no Cade. A ATS Brasil chegou a pedir autorização à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para operar como uma plataforma de bolsa de valores no Brasil, em agosto de 2013. Mas o pedido não andou por conta da falta de entrega de documentos e foi arquivado em 2016. A ATS argumentou, na época, que não obteve a autorização do Banco Central para constituir sua clearing, já que não conseguiu o fornecimento do serviço de depositária da BM&FBovespa e, por isso, o processo na CVM não pôde prosseguir.A ATS é um projeto capitaneado pela ATG, empresa de Arthur Machado, que chegou a ser preso neste ano no âmbito da Operação Rizoma, que é um desdobramento da Lava Jato e mira supostas irregularidades envolvendo desvio de verbas dos fundos de pensão dos Correios - o Postalis - e do Serpros.