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BC atribui estouro da meta da inflação à alta das commodities e à retomada da economia

Em carta enviada à Fazenda, Roberto Campos Neto estima que a inflação deve continuar em trajetória de queda ao longo deste ano, terminando abaixo do resultado de 5,79% em 2022

Foto do author Thaís Barcellos
Foto do author Lorenna Rodrigues
Por Thaís Barcellos (Broadcast) e Lorenna Rodrigues (Broadcast)
Atualização:

BRASÍLIA – Em carta enviada ao ministro da Fazenda e presidente do Conselho Monetário Nacional (CMN), Fernando Haddad, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, citou a elevação dos preços de commodities, sobretudo o petróleo, e a retomada econômica como as principais causas para o estouro da meta de inflação em 2022, pela segunda vez seguida.

No ano passado, a inflação avançou 5,79% – acima do teto da meta estabelecida, de 5%. O centro da meta era de 3,5%. A carta é uma exigência do regime de metas, criado em 1999, quando a inflação fica fora do intervalo de tolerância, para explicar as razões do descumprimento e indicar providências para o retorno à meta, assim como o prazo para que isso ocorra.

Pandemia e guerra na Ucrânia dificultaram no controle da inflação brasileira, segundo BC Foto: Dida Sampaio/Estadão

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De acordo com o presidente do BC, contribuiu para o estouro o desequilíbrio entre demanda e oferta de insumos e gargalos nas cadeias produtivas globais, com esgotamento de estoques, escassez de semicondutores, maiores prazos de entrega e aumento de preços de fretes internacionais.

“A guerra na Ucrânia e a restrição de mobilidade na China acentuaram essas limitações e desequilíbrios”, diz o documento, destacando ainda que o confronto também aumentou os preços internacionais de grãos. O documento também aponta o aumento de preços de alimentos por questões climáticas e a retomada na demanda de serviços e no emprego, passada a fase mais aguda da pandemia de covid-19, também pressionou os preços.

O texto cita, por outro lado, fatores que agiram de forma contrária e contribuíram para reduzir a inflação, como a redução na tributação sobre combustíveis, energia elétrica e telecomunicações, e o comportamento da bandeira de energia elétrica, que passou de escassez hídrica para bandeira verde.

Perspectivas para 2023

Roberto Campos Neto reconheceu que a inflação em 2023 deve se manter superior à meta estabelecida, de 4,75%. Mas, considerando as projeções para 2024 (3,0%) e 2025 (2,8%), o BC argumenta que o “cenário é de convergência da inflação para as suas metas”.

Apesar disso, o BC estima que a inflação deve continuar em trajetória de queda ao longo deste ano, terminando abaixo do resultado de 5,79% em 2022. “A inflação ainda se mantém superior à meta, em virtude principalmente da hipótese do retorno da tributação federal sobre combustíveis nesse ano e dos efeitos inerciais da inflação de 2022″, explicou o BC.

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O governo Lula ampliou a desoneração da gasolina e do etanol até o fim de fevereiro, mas sobre diesel e gás de cozinha a taxa zero se mantém até o término do ano.

Por outro lado, Campos Neto afirmou que a expectativa é de que os efeitos da reoneração dos combustíveis e da inércia (persistência do alto patamar da inflação do ano anterior) sejam contrabalanceados em parte pela política monetária contracionista. “Embora não de forma integral, em virtude das diferenças temporais entre os impactos dos choques, de prazo mais curto, e os efeitos da política monetária, mais concentrados no médio prazo.”

Contas públicas

O presidente do BC voltou a alertar sobre os riscos da condução das contas públicas para a trajetória de inflação em meio à expansão fiscal adotada pelo novo governo.

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Citando a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em dezembro, Campos Neto destacou que o colegiado reiterou “em particular” os diferentes canais pelos quais a política fiscal pode afetar a inflação, desde os efeitos diretos na demanda agregada, passando pelos preços de ativos, a incerteza na economia, as expectativas de inflação e a taxa de juros neutra.

“O Comitê avaliou que mudanças em políticas parafiscais ou a reversão de reformas estruturais que levem a uma alocação menos eficiente de recursos podem reduzir a potência da política monetária”, disse o presidente do BC, repetindo as comunicações do Copom.

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