O reajuste de 5% na gasolina e de 14% no diesel decidido nesta sexta-feira pela Petrobras carrega enormes incertezas para o futuro de curto prazo na economia.
O governo Bolsonaro foi implacavelmente derrotado na sua pretensão eleitoreira de manter achatados artificialmente os preços. Na quinta-feira, 16, o ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, foi buscar lã e saiu tosquiado quando, em pleno feriado, convocou reunião extraordinária do Conselho de Administração da Petrobras para respaldar o abortamento dos reajustes. O resultado foi o contrário. O Conselho, que tem seis membros indicados pelo governo, autorizou os reajustes, para ainda maior indignação do presidente Jair Bolsonaro.
Aparentemente, o presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, de aviso prévio por imposição do governo, optou por evitar questionamentos futuros na Justiça do Brasil e dos Estados Unidos, caso tivesse contribuído para manter o achatamento.
O reajuste manteve certa “defasagem” nos preços, o que pode ser ruim para os objetivos eleitorais de Bolsonaro, porque pode exigir novas correções mais perto das eleições.
A seguir, algumas incógnitas à frente. A manobra de rebaixar os preços dos combustíveis pela redução de impostos deve ser em grande parte neutralizada pelos novos preços. Pode-se argumentar que a queda dos impostos evitou alta ainda maior, mas a percepção do consumidor e/ou do eleitor é de que o jogo do governo não apresentou resultado.
Alguns analistas avisam que o barril do tipo Brent, hoje nos US$ 113, pode avançar para US$ 130. É previsão sujeita a muitas incertezas. Ninguém sabe até onde podem ir a guerra na Ucrânia e os boicotes dos aliados ao petróleo e derivados da Rússia, uma das causas da disparada.
A alta dos juros determinada pelo Fed, o banco central dos Estados Unidos, pode até mesmo reduzir as cotações globais do petróleo porque o dólar tende a se valorizar e, nessa condição, seriam necessários menos dólares para comprar o mesmo volume de petróleo. E se for confirmado o agravamento da recessão global, também se pode esperar pela redução da demanda de energia. Em compensação, a perspectiva de forte calor neste verão no Hemisfério Norte pode produzir efeito oposto; tende a puxar o consumo de combustíveis para viagens e para refrigeração dos ambientes.
No Brasil, as cotações do dólar em reais podem aumentar. Jogam mais lenha no câmbio a redução do diferencial entre juros internos e externos, o que tende a reduzir a entrada de moeda estrangeira, e o aumento do rombo fiscal, como o Banco Central do Brasil vem denunciando, tanto em consequência do salto das despesas públicas como do aumento da turbulência eleitoral.
Tudo isso junto é inflação na veia e juros correndo atrás.
*CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA