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Economista e diretor-presidente da MCM Consultores

Opinião|A queda do custo de reduzir a inflação

Manter expectativas sob controle é fundamental; no Brasil, cabe um elogio à condução da política monetária

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Atualização:

A curva de Phillips, desenvolvida pelo economista neozelandês William Phillips, em meados do século passado, mostra que uma menor/maior taxa de desemprego provoca aumento/queda da inflação, no curto prazo. Ao longo do tempo, os modelos estatísticos que simulam a curva de Phillips foram se sofisticando, mas ela continua sendo uma importante ferramenta para os bancos centrais conduzirem suas políticas monetárias.

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Tomemos o caso dos Estados Unidos, embora comportamentos muito semelhantes tenham sido observados em quase todo o mundo, inclusive no Brasil. Em decorrência dos desequilíbrios na cadeia internacional de suprimentos provocados pela covid-19 e, possivelmente, pelos estímulos compensatórios, monetários e fiscais, para proteção da população contra o desastre econômico que a pandemia poderia provocar, as taxas de inflação observadas superaram muito as metas.

Isso provocou acirrado debate em relação a qual seria a taxa de sacrifício que o Fed, o banco central norte-americano, deveria impor, mediante elevação da taxa básica de juro (Federal Funds Rate) e outras medidas monetárias e creditícias. Os pessimistas, como Lawrence Summers, achavam que, para controlar a inflação, a taxa de desemprego teria que subir muito, algo em torno de três a quatro pontos porcentuais. Os otimistas, como Paul Krugman, Nobel de Economia de 2008, acreditavam que, uma vez normalizadas as cadeias de suprimentos, moderados aumentos na taxa de desemprego seriam suficientes.

Os dados recentes mostram que mesmo os otimistas estavam relativamente pessimistas. A média móvel anualizada nos últimos seis meses do deflator das despesas de consumo (PCE) já está um pouco abaixo da meta de 2% ao ano, enquanto a ocupação, na chamada prime age (entre 25 e 53 anos de idade), subiu, ao invés de cair.

Manter expectativas sob controle é fundamental; no Brasil, cabe um elogio à condução da política monetária. Foto: ANDRE DUSEK/ESTADAO

Um excelente estudo publicado na Chicago Fed Letter n.º 475, de janeiro de 2023, mostrou que a curva de Phillips ficou muito mais inclinada após a pandemia do que no período 2013-2019, o que significa que o custo em termos de aumento de desemprego para controlar a inflação foi muito menor no período pós-pandêmico. E isso ocorreu não só nos EUA, como em outras 28 economias avançadas. Se olharmos os dados do Brasil veremos comportamento muito semelhante.

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Milagre? Claro que não. Não existe almoço grátis. O estudo mostra que duas variáveis tiveram importância capital nesse desempenho benigno, pelo menos até agora: a normalização da cadeia de suprimentos e a não desancoragem das expectativas de inflação, ao contrário do que ocorreu na década de 70 do século passado, situação que influenciou muito a visão dos pessimistas.

Portanto, manter as expectativas de inflação sob controle é fundamental. Aqui no Brasil cabe um elogio à condução da política monetária. A alta dos juros começou no momento certo e a flexibilização está sendo feita de forma firme, mas cautelosa.

Opinião por Claudio Adilson Gonçalez

Economista e diretor-presidente da MCM Consultores, foi consultor do Banco Mundial, subsecretário do Tesouro Nacional e chefe da Assessoria Econômica do Ministério da Fazenda

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