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Campos Neto diz que melhora na inflação abre espaço para corte de juros, mas é preciso ‘paciência’

Presidente do Banco Central avalia que mercado tem visto credibilidade na política monetária e diz que decisão ‘de forma artificial’ não alcançará o resultado esperado’

Foto do author Eduardo Rodrigues
Foto do author Célia Froufe
Por Eduardo Rodrigues e Célia Froufe (Broadcast)
Atualização:

BRASÍLIA – O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, mais uma vez sinalizou que as revisões para baixo nas projeções longas de inflação abrem espaço para o BC começar a cortar a taxa Selic, hoje em 13,75% ao ano, mas reforçou que o Copom não tomará decisões artificialmente.

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“Temos que manter a inflação sob controle. O trabalho está sendo feito e entendemos que está no caminho certo. Há um cenário bom, com crescimento sendo revisado para cima e inflação sendo revisada para baixo. Isso abre espaço. Estamos perto da reunião do Copom, eu sou um voto de nove, e não posso adiantar nada do que pode ser feito”, afirmou, em evento promovido pelo Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV).

Campos Neto repetiu que o custo de não combater inflação é muito elevado, e voltou argumentar que a Selic – apesar de “super alta” – é hoje menor que a média histórica na comparação com outros países. “Entendendo a insatisfação com os juros, mas é preciso ter paciência. Entendo que as empresas estão sentido muito, algumas mais que outras, e vamos fazer uma força para atingirmos um ambiente de estabilidade para todos o mais rápido possível, mas fazer de forma artificial não alcançará o resultado esperado”, enfatizou.

Ele reforçou que a tarefa do BC é fazer inflação convergir para a meta. “Tentamos fazer o processo o antes e mais rápido para ter o mínimo de dor possível”, repetiu. “Lembrando é uma decisão de colegiado [no Copom], que o debate é amplo e técnico”, acrescentou.

Campos Neto disse que a inflação brasileira está caindo de uma maneira mais lenta nos últimos meses, mas a partir de um patamar mais baixo. “Quando a gente tira alimentos e energia, a inflação brasileira tem uma dificuldade de cair. Está ali no topo como uma das mais altas”, ressaltou.

Após a surpresa de maio, quando a inflação desacelerou para 0,23%, Campos Neto disse que o IPCA deve provavelmente ficar negativo em junho, mas depois volta a subir. “Depois de junho, a inflação deve voltar a subir lentamente e terminar o ano subindo. Teremos meses entre 0,4% e 0,5% de alta de inflação no fim do ano, o que vai fazer o resultado do ano ficar em torno de 4,5%. Isso é uma melhora em relação ao que a gente esperava anteriormente, mas é melhora lenta”, afirmou.

O presidente do Banco Central destacou que as notícias para a inflação e as projeções de longo prazo do mercado começaram a melhorar, abrindo espaço para a atuação do Copom sobre a Selic, hoje em 13,75% ao ano.

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“A taxa de juros longa tem caído bastante. Isso leva um pouco de tempo até se refletir nos empréstimos dos bancos, mas começa a haver uma queda. Isso significa que o mercado dá credibilidade ao que tem sido feito, abrindo espaço para uma atuação de política monetária à frente”, afirmou.

Banco Central manteve a taxa de juros em 13,75% ao ano nos últimos meses Foto: Dida Sampaio / Estadão

Para ele, em comparação com o mundo avançado, a inflação brasileira está menor pela primeira na história. “O trabalho que foi feito teve sua eficácia”, considerou.

Campos Neto lembrou que a América Latina aumentou os juros antes no atual ciclo. Por isso, o mercado já espera cortes de juros no Brasil, México, Chile e Colômbia. “Na Colômbia e no México a inflação surpreendeu para cima, no Chile e no Brasil a inflação de núcleos ainda está alta. Mas no mundo desenvolvido quase não se espera queda nos juros”, comparou.

PIB

O presidente do Banco Central disse que a surpresa do bom desempenho do PIB no primeiro trimestre deve levar a revisões para o crescimento da economia deste ano para perto ou mesmo um nível superior a 2%.

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Ao falar de crescimento potencial, Campos Neto lembrou que a Selic é um farol de curto prazo, ressaltando a importância de olhar para o crescimento potencial no longo prazo. “A percepção do mercado é de que a taxa de juro neutro subiu de 3,0% para 4,5% na comparação com 2021. Por outro lado, a percepção de crescimento estrutural caiu de 2,0% para 1,6%”, detalhou.

Para o presidente do BC, o que explica essa queda do crescimento potencial na visão dos analistas é a dinâmica da dívida. “Eu, pessoalmente, acho 1,6% muito baixo. Acho que o crescimento potencial é maior que esse”, completou. “Vamos fazer questionários também com economia real, com as empresas, para fazer uma comparação com os economistas do mercado. Em outros países, as empresas são mais pessimistas para crescimento e inflação”, disse.

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