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Bastidores do mundo dos negócios

Eletrobras negocia perdão com investidor para retomar venda na Isa Cteep em 2024

Empresa tem fatia de 36% na transmissora de energia

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Por Aline Bronzati (Broadcast), Altamiro Silva Junior (Broadcast) e Luciana Collet (Broadcast)
A venda das ações faz parte de um programa maior com o objetivo de se desfazer de ativos não estratégicos Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

A Eletrobras está negociando um perdão junto a investidores, o chamado “waiver” no jargão de mercado, para poder retomar os planos de vender a fatia de 35,85% que detém na ISA Cteep, transmissora de energia controlada pela colombiana ISA, apurou o Broadcast. Sem esse mecanismo, a companhia só pode vender ao ano o equivalente a 2% de seu patrimônio líquido, ou corre o risco de ver decretado o vencimento antecipado automático de bilhões de reais em debêntures.

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O desinvestimento na Isa Cteep seria feito por meio de uma oferta secundária de ações, conhecida como “follow on”, que poderia movimentar cerca de R$ 5 bilhões, caso toda a fatia fosse vendida. A operação foi cancelada menos de uma semana após ser anunciada, no fim de outubro, envolvendo somente as ações preferenciais. A Eletrobras detém 52,48% das ações PN, mais líquidas, além de 9,73% das ON.

O motivo do cancelamento da oferta foi a descoberta da existência de cláusulas nas escrituras das debêntures emitidas pela companhia no passado, os chamados “covenants”, que impediam a venda sob o risco de antecipar os vencimentos dessas dívidas. Pela restrição, e considerando o patrimônio de R$ 113 bilhões no fim do terceiro trimestre, a Eletrobras só poderia vender o equivalente a R$ 2,26 bilhões este ano, bem menos do que pretendia no desinvestimento da ISA Cteep.

Limitação é herança estatal

Diante do diagnóstico, a Eletrobras negocia neste momento um “waiver” com investidores que compraram essas debêntures no passado para poder vender o ativo. As negociações têm avançado, mas a retomada da oferta de ações que seria a ponte para a saída do negócio depende de condições de mercado para ser reativada, diz uma fonte próxima à companhia, que pediu anonimato. “São ainda falhas do tempo de estatal”, afirma esse interlocutor, ao avaliar a existência da cláusula nos títulos de dívida.

O presidente da companhia, Ivan Monteiro, admitiu, durante teleconferência com investidores, no início de novembro, que “no passado, várias subsidiárias faziam emissões e algumas continham cláusulas e ‘covenants’ absolutamente incompatíveis com a realidade da companhia”. Na ocasião, citou que alguns instrumentos de dívida foram emitidos prevendo restrições ao volume total de venda de ativos em determinado período, normalmente de 12 meses.

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Para ter o aval dos debenturistas e conseguir vender as ações, o processo é longo. Exige a realização de assembleias com os detentores desses papéis. Como a cláusula está na escritura de várias emissões, envolve um grupo grande de investidores e serão necessárias diversas assembleias, explica o diretor de um banco de investimento, que prefere não ter o nome revelado.

Sem oferta em curto prazo

Apesar de admitir as limitações impostas pelos “covenants”, o presidente da Eletrobras também sinalizou a analistas e investidores no mês passado a influência de limitações no montante da venda de ações da Isa Cteep relacionadas aos empréstimos compulsórios. “Esse processo de acordo de empréstimo compulsório, esse sim possibilita o desbloqueio dessas ações e um grau de liberdade maior para fazer a operação do tamanho, na quantidade e no momento mais adequado”, disse ele, na ocasião.

Diante deste quadro, fontes ouvidas pelo Broadcast acreditam que dificilmente uma operação para a venda da Eletrobras na Isa Cteep vá a mercado no curto prazo. Não sai no primeiro trimestre de 2024, descarta uma delas. A companhia tinha contratado até os bancos assessores para tocar a oferta: Citi, Itaú BBA, Safra e a XP.

O vice-presidente executivo financeiro e de relações com investidores da Eletrobras, Eduardo Haiama, disse que o processo está suspenso até que as negociações com os investidores sejam concluídas, mas que a empresa espera retomar a oferta no próximo ano, de acordo com o BTG Pactual.

Papéis estão sob pressão

Desde que a Eletrobras desistiu da oferta para vender sua fatia na Isa Cteep, as ações da empresa chegaram a acumular ganhos de mais de 7%, mas que se reduziram após o pregão de ontem, dia 13. Do lado positivo, os papéis foram incluídos na primeira prévia da carteira teórica do Índice Bovespa válida para o período entre janeiro e abril de 2024, e ainda o efeito do anúncio do pagamento de juros sobre capital próprio (JCP) no valor de R$ 1,452 bilhão.

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Na contramão, o UBS BB rebaixou a recomendação das ações da Isa Cteep, para venda, e também cortou o preço-alvo para 12 meses, para R$ 23,50. Dentre as justificativas, estão o fato de o banco considerar os papéis “pouco atrativos” face ao valor atual e ainda a intenção da Eletrobras de desinvestir o ativo. “Os esforços da Eletrobras para vender suas ações na Isa Cteep poderiam exercer pressão descendente sobre as ações”, dizem os analistas do UBS BB, Giuliano Ajeje, Gustavo Cunha e Henrique Simões, em nota a clientes.

Companhia tem programa de desinvestimentos

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A venda das ações da Isa Cteep faz parte de um programa maior de desinvestimentos da Eletrobras. O objetivo é se desfazer de ativos considerados não estratégicos. Dentre eles, estão térmicas a gás, cujo processo pode render à empresa entre R$ 5 bilhões e R$ 8 bilhões, conforme mostrou o Broadcast. O plano de desinvestimentos teve início na gestão passada e está no foco da administração atual, sob o comando de Monteiro, que foi presidente e diretor financeiro da Petrobras e fez carreira no Banco do Brasil.

Monteiro disse, no início de novembro, em conversa com analistas e investidores, que os “covenants” existentes em algumas emissões e a suspensão da oferta da Isa Cteep não interferiam nos objetivos de venda de ativos. E salientou que os avanços nas negociações de empréstimos compulsórios – como o acordo fechado nesta semana com a Petrobras, no valor de R$ 1,15 bilhão – destravam ações dadas em garantia e que passam a fazer parte da gestão de portfólio da empresa.

Procuradas, a Eletrobras e a Isa Cteep não comentaram. No início do mês, a transmissora disse, por meio de comunicado ao mercado, que a “efetiva realização de qualquer oferta pública secundária de ações de emissão da companhia de titularidade de seus acionistas é decisão exclusiva destes e não está sujeita à obtenção de qualquer aprovação societária da companhia”.


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Este texto foi publicado no Broadcast no dia 14/12/23, às 10h58

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