A Unio Partners, butique de investimentos criada em 2020 por executivos egressos do Credit Suisse, está com a meta de crescer 50% em sua área de M&A (fusões e aquisições) este ano. Na aposta por um próximo “ciclo virtuoso” para o mercado de capitais, a empresa espera crescer para 25 ou 30 projetos, dos atuais 20 em curso.
O sócio fundador da Unio, Marco Dorigon, avalia que, dadas as condições macroeconômicas, este ano será melhor para o mercado de capitais do que 2023, mas sem abundância de liquidez vista no período entre 2020 e 2021. “Essa volta da atividade é muito boa para M&As porque capitaliza empresas, e essas companhias passam a ter mais condições de crescimento e compra de outras de menor porte. Acredito que isso vai acontecer, mas de forma mais parcimoniosa, mais responsável”, disse, em entrevista à Coluna.
Para o executivo, quando se tem um mercado de capitais “pequeno” como o brasileiro, movimentos como foi a explosão de IPOs (sigla em inglês para oferta pública inicial de ações) alguns anos atrás podem gerar alguns “excessos”. “Acredito que os movimentos de agora serão mais responsáveis e isso vai ser proveitoso para todo mundo”, afirma Dorigon, acrescentando que acredita na volta dos IPOs este ano, embora espere follow-ons (ofertas públicas subsequentes de ações) com maior recorrência.
Gestão de patrimônio e assessoria corporativa
A Unio tem dois negócios, a gestão de patrimônio, com R$ 49 bilhões de ativos sob gestão, e o “corporate advisory”, no qual assessora empresas de diferentes setores em “movimentos que levam a eventuais mudanças na estrutura de capital”.
As companhias atendidas pela Unio valem desde R$ 70 milhões até R$ 6 bilhões, com a média atualmente em R$ 300 milhões. A meta é atuar com tíquetes maiores. O objetivo para este ano é crescer 50% da receita em relação ao crescimento do ano passado, no qual a receita triplicou sobre 2022. Em 2022, já havia dobrado na comparação com 2021.
Cerca de 85% dos projetos de M&A da Unio estão fora de São Paulo, sendo que todos os projetos acima de R$ 1 bilhão estão em outros Estados, de acordo com Dorigon. “O cliente de São Paulo é mais bem atendido, mais assediado. Mas há muita riqueza Brasil afora, e esse cliente é mal assistido. Tem muita oportunidade de negócio”, afirma o executivo.
Fatores que fazem a diferença
A Unio busca esses clientes ativamente e também os recebe via indicações. Dorigon entende que estas companhias ouvem sua proposta por um de três fatores que, ele acredita, fazem a diferença.
O primeiro fator é a equipe pequena, que faz o nível de atenção aos projetos e clientes ser constante. O segundo fator é a diretriz de criar relacionamentos longevos, uma vez que a área de gestão de patrimônio também busca atrair esses clientes após o evento de liquidez. E o terceiro fator é que, por não ter a “placa de uma grande instituição financeira na parede”, as ideias apresentadas precisam ser “muito boas” para o cliente parar e ouvir.
“Quando se tem a placa de uma grande instituição financeira, a gente se acomoda, pois o empresário vai me atender porque sou do Credit Suisse, assim como deve ser em outros bancos. Isso acontecia. Aqui, para o indivíduo me receber, eu preciso falar algo que faça muito sentido, algo que ninguém lhe falou ainda”, afirma Dorigon.
Mudança de rumo
Um exemplo que ele menciona é a reestruturação societária da Panatlântica, que foi fechada no início deste ano, mas estava em negociação há meses. Segundo o executivo, a Unio foi inicialmente contratada pela companhia para trazer um fundo de “private equity” para aportar capital, ajudá-la a crescer e, em algum momento no futuro, fazer um “re-IPO”.
Mas houve uma divergência de planos no meio do caminho, o que exigiu novas ideias da Unio e mudou todo o curso do negócio: um dos três sócios aumentou sua fatia de 27% para 65% e consolidou sua participação na empresa, com alavancagem por meio da estruturação de uma dívida financiada pela XP; e a CSN, que detinha 11%, foi para quase 30%.
Este texto foi publicado no Broadcast no dia 29/04/24, às 18h45
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