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Com Repetro, investimentos têm a maior alta no PIB desde o 4º trimestre de 2009

Formação Bruta de Capital Fixo avançou 6,6% no terceiro trimestre em relação ao segundo trimestre do ano; mudança tributária para setor de petróleo e gás inflou resultado

Por Daniela Amorim (Broadcast), Vinicius Neder e Renata Batista
Atualização:

RIO - A alta de 6,6% na formação bruta de capital fixo (FBCF, os investimentos no PIB) foi destaque na divulgação das Contas Nacionais Trimestrais nesta sexta-feira, 30, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse foi o maior avanço desde o quarto trimestre de 2009, quando os investimentos cresceram 7,1% em relação ao terceiro trimestre daquele ano, no contexto da recuperação econômica após a crise econômica internacional de 2008.

No terceiro trimestre, o PIB nacional avançou 0,8% ante o segundo trimestre deste ano, o melhor resultado desde o primeiro trimestre de 2017, quando o aumento foi de 1,1% ante o trimestre imediatamente anterior.

Na comparação com o terceiro trimestre de 2017, a FBCF teve alta de 7,8%, a maior desde o segundo trimestre de 2013 (8,5%).

Criado em 1999, o Repetro desonerava os bens adquiridos, desde que não fossem incorporados ao estoque de capital do País. Foto: Marcos de Paula/Estadão

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Analistas já esperavam que esse resultado fosse inflado pela mudança nas regras do Repetro,programa de incentivos tributários para a indústria de petróleo e gás, como revelou o Estadão/Broadcast. Com as alterações, plataformas já em atividade, que estavam registradas no exterior, foram registradas no País, contando como importações.

A coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, diz, no entanto, que, tanto os investimentos na economia brasileira quanto as importações teriam crescido no terceiro trimestre independentemente do Repetro. Nas contas do IBGE, não fossem as alterações, os investimentos teriam avançado 2,7% no terceiro trimestre ante igual período de 2017, em vez dos 7,8% de alta efetivamente registrados.

As importações avançaram 10,2% no PIB do terceiro trimestre ante o segundo trimestre e tiveram alta 13,5% ante o terceiro trimestre de 2017. Nas contas do IBGE, a alta na comparação interanual seria de 6,9%, sem o efeito da mudança no Repetro. "Essa taxa da importação está aumentada, em parte pela mudança no Repetro. O investimento também foi afetado", afirmou Rebeca.

Segundo a pesquisadora, os efeitos estatísticos causados pela mudança no Repetro não afetam o cálculo do PIB agregado. "O efeito no PIB é nulo. A importação não entra no PIB", afirmou Rebeca, lembrando que as regras anteriores do Repetro geraram, no passado, aumento inflado nas exportações. Agora, o efeito se dá sobre as importações. "Houve uma importação fictícia (no terceiro trimestre de 2018), como houve antes uma exportação fictícia", disse Rebeca. Mais de uma vez, Rebeca ressaltou que, mesmo com a retirada dos efeitos das novas regras do Repetro, ainda haveria alta nos investimentos. Essa alta foi puxada por importações de máquinas e equipamentos, por mais investimentos de empresas em caminhões, na esteira dos problemas gerados pela greve dos caminhoneiros, em maio, e pelo melhor desempenho na construção civil. 

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Nas contas do Itaú Unibanco, o Repetro provocou uma distorção ainda maior nos investimentos. "Fazendo uma estimativa considerando dados de importação e exportação de bens de capital e limpando do dado de plataformas de petróleo, chegamos a um crescimento em torno de 1,0% da FBCF ante o trimestre anterior com ajuste sazonal", explicou o economista Artur Passos.

Para o economista do Itaú Unibanco, o desempenho do PIB no terceiro trimestre de 2018 tanto na comparação com o trimestre anterior quanto em relação ao período equivalente de 2017, com altas de 0,8% e 1,3% respectivamente, demonstra a continuidade do ritmo morno da retomada econômica. "No último trimestre de 2017, o PIB chegou a crescer 2,2% na comparação interanual, dado que foi sucedido por desempenhos menores nos três trimestre seguintes. O quadro é de crescimento fraco após a recessão." O PIB do último trimestre de 2018, estima o banco, deverá crescer 0,2% na margem, o que corresponde a uma alta interanual de 1,6%. "É importante fazer a ressalva de que o PIB do terceiro trimestre na margem foi beneficiado pela fraca base de comparação do segundo trimestre do ano, que sofreu impacto da paralisação dos caminhoneiros", ponderou o economista ao explicar a taxa mais modesta no quarto trimestre do ano. Para o resultado fechado de 2018, a expectativa do Itaú Unibanco segue em 1,3%. "O dado divulgado hoje (sexta-feira) não trouxe mudanças para os cenários de 2018 e 2019", comentou Passos. Já para 2019, o economista espera expansão de 2,5%, podendo chegar a 3,0% em 2020. / COLABOROU CAIO RINALDI

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