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Disney: planos bilionários de crescimento incluem portos, navios e novos hotéis

Parques temáticos devem gerar um lucro de US$ 10 bilhões este ano; intenção é investir cerca de US$ 60 bilhões na próxima década na expansão nos EUA e fora do país

Por Brooks Barnes

THE NEW YORK TIMES – Os parques temáticos da Disney, segundo estimativas, vão gerar um lucro de US$ 10 bilhões este ano, uma alta em relação aos US$ 2,2 bilhões de uma década atrás. Nada mal para uma empresa de 68 anos, sobretudo levando em consideração a devastação causada pela pandemia há apenas alguns anos.

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Mas o quanto ainda dá para crescer?

No mês passado, quando Robert Iger, CEO da Disney, destacou a divisão de parques como “um motor-chave de crescimento” durante uma teleconferência relacionada à divulgação de resultados, Wall Street franziu a testa. A Disneylândia em Anaheim, na Califórnia, é vista há muito tempo como algo que chegou ao seu limite, com pouco espaço para expansão.

O Walt Disney World, perto de Orlando, na Flórida, tornou-se um ponto de interrogação, pois Iger disse que a batalha legal da empresa com o governador da Flórida, Ron DeSantis, poderia colocar em risco os US$ 17 bilhões para a expansão planejada do resort na próxima década. Os parques da Disney fora dos Estados Unidos — com exceção do Tokyo Disney Resort, do qual a empresa recebe royalties, mas não é dona — às vezes têm tido dificuldades para lucrar.

Na terça-feira, a Disney ofereceu uma perspectiva mais clara da oportunidade que vê, a qual só pode ser descrita como colossal: a empresa revelou em um documento legal a intenção de investir cerca de US$ 60 bilhões na próxima década na expansão de seus parques nos EUA e fora do país, além de continuar desenvolvendo a Disney Cruise Line. O valor é o dobro do que a Disney gastou com os parques e a linha de cruzeiros na última década, o que por si só já tinha sido um período de investimentos maiores.

Na última década, a Disney inaugurou o Shanghai Disney Resort, mais do que dobrou a capacidade de sua linha de cruzeiros e adicionou atrações inspiradas em obras como “Star Wars”, “Guardiões da Galáxia”, “Tron - Uma Odisseia Eletrônica”, “Homem-Aranha”, “Avatar” e “Toy Story” aos seus parques nos EUA. Ela também investiu dinheiro em seus parques de Paris e Hong Kong, expandindo as atrações temáticas relacionadas a “Frozen” e a outros filmes da Disney previstos para estrear em breve. Mais três transatlânticos estão a caminho, deixando a frota da Disney com oito navios, e a empresa está prestes a concluir um novo porto em uma ilha das Bahamas. (A Disney já tem um porto em uma ilha particular.)

Parques da Disney atraíram aproximadamente 121 milhões de visitantes no ano passado Foto: Todd Anderson/The New York Times

Se isso é o que US$ 30 bilhões podem comprar, imagine o que US$ 60 bilhões poderiam fazer.

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“Há muito menos limites para nossos negócios de parques do que as pessoas pensam”, disse Iger por e-mail.

“A trajetória de crescimento é muito convincente se não fizermos nada além do que aquilo com que já nos comprometemos”, continuou ele, referindo-se às atrações e aos navios que foram anunciados, mas ainda não estão funcionando. “Ao aumentar drasticamente o nosso investimento — construindo grandes [atrações], sendo ambiciosos, mantendo a qualidade e os padrões elevados, e recorrendo às nossas criações mais populares —, ele será turbinado.”

Depois da notícia, as ações da Disney caíram 3% na terça-feira, para cerca de US$ 82. Analistas disseram que alguns investidores estavam preocupados com a capacidade da empresa de gerar fluxo de caixa livre em um momento no qual suas atividades na TV — tradicionalmente uma grande fonte de receita — foram prejudicadas pelas plataformas de streaming.

A Disney já tem uma dívida considerável, em grande parte devido à pandemia. A empresa suspendeu o pagamento de dividendos semestrais aos acionistas em 2020 para guardar dinheiro, mas a expectativa é que eles sejam retomados ainda este ano.

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“Estamos extremamente conscientes da base financeira da empresa, da necessidade de continuar a crescer em termos de resultados, da necessidade de investir com sabedoria para aumentar os retornos do capital investido e da necessidade de manter um balanço equilibrado, por vários motivos”, disse Iger na tarde de terça-feira em uma publicação de blog.

A Disney está expandindo o investimento após uma série de problemas em quase todos os seus departamentos. Os canais de TV a cabo, incluindo a ESPN, tornaram-se uma sombra de seu passado, resultado do cancelamento de assinaturas, do enfraquecimento da publicidade e do aumento dos custos com a programação esportiva. A Disney teve um verão decepcionante nas bilheterias, com filmes como “Indiana Jones e o Chamado do Destino” e “Mansão Mal-Assombrada” vendendo menos ingressos que o esperado. O serviço de streaming Disney+ da empresa continua perdendo dinheiro; Iger disse que a plataforma será lucrativa até o segundo semestre de 2024, mas alguns investidores estão céticos.

Em contrapartida, os parques e os cruzeiros da Disney têm sido um ponto positivo, sustentando em muitos aspectos toda a empresa. No trimestre mais recente, a Disney Parks, Experiences and Products gerou US$ 2,4 bilhões em resultado operacional, um aumento de 11% em relação ao ano anterior. A Disney Media and Entertainment Distribution teve US$ 1,1 bilhão em lucro operacional, uma redução de 18%.

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Os gastos por visitante nos parques da Disney aumentaram 42% desde 2019, em parte devido aos preços mais altos de ingressos, alimentos, produtos e quartos de hotel.

Mesmo assim, o aumento do investimento em parques temáticos oferece um risco maior. É um negócio que será sempre sensível a fatores fora do controle da Disney: oscilações na economia, preços da gasolina, furacões, terremotos, tensões entre os EUA e a China. A Disney aumentou bastante a segurança, recorrendo a seguranças disfarçados e instalando detectores de metais, mas esses resorts movimentados — os parques da Disney atraíram aproximadamente 121 milhões de visitantes no ano passado — poderiam se tornar cidades fantasmas no caso de um evento violento.

Josh D’Amaro, presidente da Disney Parks, Experiences and Products, disse que as pessoas focando nesses riscos subestimam a resiliência dos fãs de parques temáticos. Ele chamou a atenção para o fato dos clientes terem voltado aos montes quando os parques da Disney reabriram durante a pandemia.

“Toda vez que houve um momento de crise ou preocupação, conseguimos nos recuperar mais rápido do que qualquer um esperava”, disse ele.

Gastos por visitante nos parques da Disney aumentaram 42% desde 2019, em parte devido aos preços mais altos de ingressos, alimentos, produtos e quartos de hotel Foto: Todd Anderson/The New York Times

D’Amaro recusou-se a especificar como a empresa planejava gastar os US$ 60 bilhões. Entretanto, deu algumas pistas, observando que filmes da Disney como “Viva – A Vida é uma Festa”, “Zootopia: Essa Cidade é o Bicho”, “Encanto” e outros ainda não tinham sido incorporados aos parques da empresa de formas significativas.

“Imagine dar vida a Wakanda”, disse ele, referindo-se ao reino fictício de “Pantera Negra”. “Em termos de trazer as criações mais recentes da Disney-Marvel-Pixar para os parques, não chegamos nem perto de tocar no assunto. E aprendemos que a incorporação dessas obras da Disney aumenta significativamente o retorno do investimento.”

A Disney tem cerca de 404 hectares de terrenos não utilizados em seus resorts de parques temáticos existentes, observou D’Amaro. (Para efeito de comparação, segundo ele, esse é o tamanho de sete Disneylândias.) Uma das maiores áreas de oportunidade, disse ele, envolve a Disneylândia original, inaugurada em 1955. Se a empresa conseguir convencer a cidade de Anaheim a alterar um plano, adotado na década de 1990, que limita a área onde hotéis, estacionamentos e atrações podem ser construídos, a Disney planeja reurbanizar terrenos próximos à Disneylândia, ampliando significativamente sua capacidade. A empresa também planeja transformar uma área de estacionamento ao sul do parque em um distrito temático de compras, restaurantes e hotéis.

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A Disney divulgou um estudo de impacto ambiental de 17 mil páginas sobre o projeto na semana passada. A Câmara Municipal de Anaheim deve votar as mudanças em meados de 2024.

O quanto a Disney vai investir na Flórida talvez dependa da justiça, onde a empresa está lutando contra DeSantis e seus aliados pelo controle do plano de crescimento do Disney World. Irritado com as críticas da Disney a uma lei educacional da Flórida, DeSantis encerrou em abril a capacidade de longa data da empresa de autogovernar seu resort com cerca de 10 mil hectares como se fosse um condado. No entanto, a Disney afirma que os contratos anteriores protegem sua capacidade de controlar o lugar.

Josh D’Amaro, presidente da Disney Parks, Experiences and Products, posa para foto em parque da empresa Foto: Todd Anderson/The New York Times

“Queremos continuar crescendo e investindo, temos planos ambiciosos para a Flórida”, disse D’Amaro. “Para o benefício de nossos visitantes, elenco e da economia da Flórida central, esperamos que existam condições para fazermos isso.” Ele se recusou a dar mais detalhes.

No momento, a Disney não planeja construir parques em novos países ou cidades. (No passado, a empresa considerou construir um parque na Índia, por exemplo, e expandir-se para além de Hong Kong e de Xangai, na China.) Em vez disso, a empresa focará na construção de novos portos para seus navios.

A partir de 2025, um novo navio de cruzeiro — o maior da frota da Disney por enquanto, com espaço para mais de seis mil passageiros — terá como base Cingapura. Os navios da Disney têm se tornado cada vez mais temáticos, com personagens e ilustrações de franquias como “Frozen”, “Star Wars” e “Os Vingadores”, da Marvel, incorporados em restaurantes e nas zonas de entretenimento.

“É como trazer um parque temático para uma nova parte do mundo”, disse D’Amaro a respeito da Disney Cruise Line, que recentemente teve 98% de sua capacidade reservada./Tradução de Romina Cácia

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