Após o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) manter os juros básicos da economia americana na faixa entre 1,50% e 1,75%, o dólar atingiu no Brasil sua maior cotação em quase dois anos. A moeda fechou o dia valendo R$ 3,55, alta de 1,36%, maior valor desde 2 de junho de 2016, quando alcançou R$ 3,58. Com a alta, o Banco Central anunciou que vai agir para amenizar a disparada da moeda a partir desta quinta-feira, 03, para “suavizar movimentos no mercado de câmbio”.
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A notícia do Fed era esperada pelo mercado, sobretudo quanto ao futuro. O comitê foi pragmático e reiterou que prevê mais elevações graduais nos juros, mas que eles devem ficar por algum tempo abaixo dos níveis esperados para o longo prazo.
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A Bolsa de São Paulo, B3, encerrou o pregão em queda de 1,82%, com o índice Ibovespa, que congrega as ações mais negociadas no mercado local, aos 84.547,08 pontos. + Fortalecimento do dólar pressiona economia de países emergentes
Local. O cenário doméstico também ajudou a pressionar o dólar ante o real, sobretudo com preocupações com a cena política local a poucos meses das eleições presidenciais de outubro.
“Vemos crescimento (econômico) patinando, indefinições sobre as eleições, nossa moeda vem sofrendo”, destacou o diretor de câmbio do Banco Paulista, Tarcísio Rodrigues.
Intervenção. A intervenção do Banco Central no mercado de dólar ocorrerá através dos contratos de swap – transação financeira que equivale à oferta de dólares. A última ação da instituição para conter movimentos da moeda foi em maio de 2017, quando gravações de Joesley Batista aumentaram a volatilidade no mercado.
O anúncio de que o BC voltará a agir foi divulgado nesta quarta-feira, 02, após a moeda subir 1,55% e fechar o primeiro dia de negócios de maio em R$ 3,5518. A intervenção ocorrerá a partir desta quinta, 03, quando o BC oferecerá aos investidores até US$ 445 milhões em um leilão no final da manhã. Quem comprar esse instrumento receberá do BC a variação do dólar até o fim do contrato, que pode vigorar até janeiro de 2019. Em contrapartida, pagará juro à instituição. Essa troca do câmbio pelo juro – swap, em inglês – oferece proteção à oscilação cambial ao investidor que, por exemplo, tem dívida no exterior.
O BC tem realizado leilões de swap ao longo dos últimos meses para renovar contratos antigos que estavam próximos de vencer. Ou seja, o BC apenas alongou operações existentes. A partir desta quinta, a ação muda porque o BC poderá oferecer volume de swap superior ao vencimento dos contratos antigos. Em outras palavras, o volume de dólares do BC no mercado futuro vai aumentar.
Se o BC mantiver o ritmo da oferta desta quinta até o fim do mês terá oferecido US$ 8,445 bilhões ao mercado em maio. O valor é US$ 2,795 bilhões superior ao próximo vencimento dos swaps, em 1º de junho. Não há, porém, nenhuma garantia que a oferta seguirá esse padrão. Um gestor de moedas de um banco estrangeiro considerou o montante extra como uma “intervenção pequena”. Ele reconhece, no entanto, que o mais relevante no momento é a sinalização ao mercado de que, agora, o BC começou a agir.
Nas últimas semanas, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, vinha afirmando que o BC seguia monitorando o câmbio para evitar exageros. Ele advertia o mercado de que o câmbio é flutuante e a autoridade tem munição - reservas internacionais e estoque de swap cambial, além de ofertas de linhas de dólares, se for necessário.
Fluxo. Na semana em que o mercado acionário brasileiro comemorou dois lançamentos de ações, US$ 4,3 bilhões entraram no País. Entre 23 e 27 de abril, duas operadoras de saúde – o grupo NotreDame Intermédica e a Hapvida – lançaram ações na bolsa paulista e exportadores continuaram com firme volume embarcado.
/ COLABORARAM PAULA DIAS E ANA PAULA RAGAZZI
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