Análise | Economia brasileira cresce, mas poderia avançar mais e com mais segurança

O crescimento duradouro vai depender, entre outros fatores, da saúde fiscal, ou seja, da condição sustentável das contas públicas

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Foto do author Rolf Kuntz

Se nenhum desastre ocorrer até dezembro, o governo Lula completará dois anos de crescimento econômico acima de 2%. Seria um resultado razoável, talvez satisfatório, para um país desenvolvido, mas é medíocre para um grande emergente. O governo aposta numa expansão superior a 2,5%, talvez bem próxima de 3%, para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2024. No mercado financeiro, a mediana das projeções indica um avanço de 2,23%, segundo a última pesquisa Focus. Em 2023, início do atual governo, o avanço foi de 2,9%. O emprego aumentou desde o ano passado, mas a inflação continua longe do centro da meta (3%) e deverá superar 4,2% até o fim do ano, segundo estimativas correntes. As contas públicas permanecem como um fator de insegurança.

O desemprego caiu para 6,9% no trimestre encerrado em junho. Desde 2014, foi a menor taxa para um segundo trimestre, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A população ocupada, 101,8 milhões de pessoas, foi um novo recorde na série histórica. Os primeiros números de julho, fornecidos por outras fontes, também são animadores. O índice de produção industrial subiu de 48,7 pontos em junho para 54,3 no mês seguinte, de acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Segundo o mesmo relatório, o indicador do número de empregados passou de 48,7 pontos em junho para 54,3 no mês seguinte.

Índice de produção industrial, da CNI, subiu de 48,7 pontos em junho para 54,3 em julho  Foto: Photocreo Bednarek/Adobe Stock

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A melhora no segundo trimestre foi registrada também pela Fundação Getúlio Vargas. Nesse período, a produção foi 1,1% maior que no primeiro. Na comparação interanual, os últimos dados mostram um avanço de 2,9% em relação ao período abril-junho de 2023. Além disso, o crescimento acumulado em 12 meses chegou a 2,9%, segundo o Monitor do PIB-FGV.

Mas o desempenho geral da economia, no mínimo razoável desde o ano passado, será menos promissor no curto e no médio prazos, de acordo com as expectativas anotadas na pesquisa Focus. Segundo o último boletim, a mediana das projeções do PIB aponta expansão de 1,89% em 2025 e 2% em cada um dos dois anos seguintes.

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A inflação seguirá acima do centro da meta e os juros básicos permanecerão elevados. A taxa básica ficará em 10,5% em dezembro deste ano, em 10% no fim de 2025 e em 9% no encerramento dos dois anos seguintes. Segundo o boletim, portanto, os juros básicos serão mantidos até dezembro e reduzidos moderadamente nos anos seguintes. Em declaração recente, o diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, admitiu a hipótese de uma elevação da taxa neste semestre, se houver dúvidas importantes quanto ao declínio da inflação. No mercado, tem-se mencionado como certa a nomeação de Galípolo para a presidência do BC.

Juros altos são empecilho ao negócios e à expansão do emprego, mas é difícil apostar numa redução da taxa básica neste semestre ou nos primeiros meses de 2025. Geralmente crítico das políticas de aperto monetário, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mudou seu discurso, recentemente, e mostrou-se disposto a apoiar decisões desse tipo, se forem anunciadas pela cúpula do BC. Antes de ser indicado para uma diretoria do BC, Galípolo, convidado pelo ministro Fernando Haddad, trabalhou no Ministério da Fazenda. Foi Haddad quem o indicou para atuar no BC. Esse relacionamento é a explicação mais provável para a mudança de Lula em relação à política monetária.

Quanto mais eficaz a ação do BC, mais velozmente a inflação será controlada e mais prontamente a economia voltará a crescer. Mas o crescimento seguro e duradouro dependerá também da saúde fiscal, isto é, da condição sustentável das contas públicas. Este item, de enorme importância, dependerá principalmente do presidente Lula, nem sempre inclinado a conter o gasto e a conduzir com prudência as contas públicas.

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Análise por Rolf Kuntz

Jornalista

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