Greves de servidores e prestadores de serviços por falta de pagamento já paralisam serviços essenciais como saúde, coleta de lixo e até o preparo da merenda escolar em prefeituras do interior de São Paulo. Em outros casos, os próprios municípios suspenderam os serviços por falta de condições financeiras. Os gestores alegam dificuldade para manter em dia os pagamentos devido à queda na arrecadação.
A greve das merendeiras atingiu as escolas estaduais de Marília, na última quinta-feira, quando as funcionárias interromperam o serviço por falta de pagamento do salário. A empresa terceirizada alegou que não tinha recebido o repasse da prefeitura. Com a promessa do pagamento ser feito no dia 25, elas retornaram ao trabalho na sexta. De acordo com o sindicato dos servidores, das 96 merendeiras que atendem a 30 escolas, 60 cruzaram os braços, num movimento inédito na cidade. As mulheres fizeram uma passeata e foram até a Câmara.
Em Cubatão, funcionários do Hospital Municipal saíram em passeata na quinta em protesto contra o atraso nos salários. O atendimento no hospital foi suspenso parcialmente. A prefeitura alegou que o contrato firmado com a gestora prevê que ela tenha capacidade para suportar eventuais atrasos nos repasses.
Uma greve de médicos por atraso de salários paralisou unidades de saúde de Sumaré. O juiz Gilberto Vasconcelos Pereira Neto, da 1.ª Vara Cível, determinou que a Associação Pró-Saúde, contratante dos profissionais, retome os serviços por serem essenciais. A entidade alega que não recebeu os repasses do município de agosto e setembro. A prefeitura informou que, pelo contrato, tem até 90 dias para pagar pelos serviços, mas vai reduzir o prazo.
Atrasos em repasses municipais levaram a Santa Casa de Igarapava a suspender as cirurgias eletivas. Desde que o hospital foi municipalizado o débito chega a quase R$ 300 mil. Sem receber, médicos pediram demissão. A prefeitura, que já foi notificada pelo Ministério Público, alega que os cortes se devem à “severa queda” na receita.
Em Americana, 10% dos 4,4 mil servidores estão em greve há oito dias por atraso nos salários, afetando o atendimento em 11 unidades de saúde, além de prejudicar o funcionamento de oito escolas e seis creches. Os serviços de coleta de lixo, sinalização urbana e limpeza de galerias também foram afetados. A prefeitura fez um depósito de R$ 550 para cada trabalhador e alega que apenas 3 mil ainda têm saldo a receber. O município está em estado de calamidade financeira.
Em Sorocaba, a prefeitura suspendeu a coleta seletiva de lixo em bairro do Além-Linha e desagradou moradores como o aposentado Eduardo Yamamura, de 73 anos, acostumado a separar o material em casa. “É pena, porque agora tudo o que é reciclável vai para o lixo comum.” Já o serralheiro Flávio Augusto, de 39 anos, ficou feliz com o corte de gastos que levou à suspensão do serviço. Com seu carrinho, ele percorre as ruas recolhendo o material reciclável. “Estou desempregado há dois anos e preciso sustentar mulher e dois filhos”, diz. Só de papel e plástico, ele coleta o suficiente para receber R$ 50 por dia.
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