O novo rebaixamento do rating soberano brasileiro pela Standard & Poor's (S&P) surpreendeu pelo "timing", mas não na direção, pois a queda na escala de avaliação de risco pelas agências internacionais de rating já estava antecipada pelo mercado.
A única maneira de a tão atrasada Moody's surpreender e provocar alguma reação nos preços dos ativos será se rebaixar o rating soberano do Brasil em dois graus de uma vez só. Por enquanto, a Moody's é a única das três grandes agências de classificação de risco que mantém o Brasil com o status de grau de investimento, ou seja, de bom pagador.
A contínua piora da avaliação de risco - via rating soberano - do Brasil, portanto, não pegará os investidores no contrapé.
Ou seja, se a Moody's decidisse cortar hoje, quinta-feira, a nota de risco soberano do Brasil, o mercado poderia até se surpreender com o "timing", mas não perderia dinheiro dada a antecipação desse movimento, a não ser que esse rebaixamento aconteça em dois graus, numa ação atipicamente mais agressiva.
Assim como se a Fitch Ratings anunciar novo corte da classificação do risco soberano brasileiro, os preços dos ativos pouco se mexeriam.
Aliás, foi isso que aconteceu com o anúncio da S&P nesta quarta-feira, quando rebaixou o rating brasileiro de BB+ para BB, atribuindo uma perspectiva negativa, isto é, ameaçando cortar a nota mais ainda.
No fechamento dos negócios nesta quarta-feira, os contratos de cinco anos do Credit Default Swaps (CDS) - que serve como uma espécie de seguro contra eventual calote de um emissor de dívida - do Brasil subiram muito pouco, para 477 pontos-base (pb). Isso porque a grande movimentação nesse indicador de percepção de risco aconteceu quando a S&P tirou o selo de bom pagador do País em setembro do ano passado, agravada depois pelo rebaixamento idêntico da Fitch Ratings.
Antes do anúncio do rebaixamento pela S&P, o CDS brasileiro estava sendo negociado próximo de 470 pb, ou seja, o Brasil já estava sendo visto como um risco bem pior do que sua nota até então (BB+, antes do novo rebaixamento). Por exemplo, o CDS da Rússia (com rating BB+) fechou ontem a 334 pb, enquanto o da Turquia (também rating BB+) encerrou o dia a 301 pb.
Isso quer dizer que o mercado já está esperando que o rating soberano brasileiro siga caindo escala abaixo das agências internacionais de classificação de risco, embutindo, inclusive, o impacto sobre os ratings corporativos, como o da Petrobras.
Se quanto ao CDS e à cotação do real versus o dólar os investidores parecem já precificar esses rebaixamentos adicionais, isso acontece também com o patamar atual da Bovespa, sendo negociada a 41.674,59 pontos por volta das 10h25 desta quinta-feira?
Há interlocutores desta coluna que acreditam que o nível do CDS brasileiro já não deva ser tão mais afetado por futuros rebaixamentos do rating soberano do País que possam significativamente mudar a percepção de risco refletida na taxa de câmbio ou nos preços das ações negociadas na Bovespa.
Desde o início deste ano, a Bovespa vem sendo afetada por fatores externos, como a sinalização de uma postura "dovish" (mais inclinada ao afrouxamento monetário) pelos principais bancos centrais de países desenvolvidos, como o Federal Reserve (Fed) americano, o Banco do Japão (BoJ) e o Banco Central Europeu (BCE).
A partir de agora, com a volta a todo vapor dos trabalhos no Congresso, os ruídos da política também poderão afetar a Bovespa, especialmente na votação de medidas importantes para a economia brasileira, como a reforma da Previdência.
De qualquer forma, se o impacto de novos rebaixamentos do rating soberano pode até vir a ser mais limitado no futuro próximo, dada a antecipação já feita pelos investidores da piora da avaliação de risco do País, o abalo na confiança dos agentes domésticos e internos sobre as perspectivas do Brasil tornará muito mais difícil uma recuperação da economia brasileira.