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Professor de Finanças da FGV-SP

A revolta das sardinhas

Em março, ação da GameStop valia US$ 3,20; após ação de investidores, era cotada a quase US$ 194 na última sexta-feira, 29

Por Fábio Gallo
Atualização:

O mais recente “chocoalhão” no mundo financeiro foi o impulso a ações que não valiam nada e que, graças a uma ação coordenada pela internet, dispararam nas bolsas. O caso mais famoso foi a da GameStop, ação que em março de 2020 valia US$ 3,20 e que, na sexta-feira, estava quase em US$ 194. Somente em um dia da semana passada, mais de US$ 24 bilhões em ações trocaram de mãos. Alguém pode achar que isso representa uma aventura audaciosa e uma nobre vingança das sardinhas contra os tubarões do mercado. Mas essa ação pode trazer prejuízos e ferir algumas bases de mercado, trazendo ainda mais prejuízos. 

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Primeiro temos de considerar que esse posicionamento não provocou somente crescimento vertiginoso de preços somente na GameStop, mas também em Nokia, AMC, Kodak, Blackberry e até na American Airlines. No Brasil, as ações do IRB passam por esse movimento. Essa instabilidade afeta não somente o mercado financeiro tradicional. As criptomoedas também não deverão escapar. 

Alguns especialistas já creem que a coisa pode ficar muito feia. Temos de lembrar que grande parte das negociações são feitas por robôs que operam com base em algoritmos e que irão dar ordens automáticas, reagindo a noticias de sites especializados. Um exemplo é a ordem de liquidação de posição de mais de R$ 15 milhões na BitMEX feita pelo o robô conhecido como REKT menos de uma hora após essas publicações – obviamente gerando outras liquidações em sequência. 

Outros operadores estão vendo essa situação como uma onda de oportunidades de grandes retornos. Mas precisamos entender que o ambiente é de alto risco. Grandes fundos colocaram suas fichas na venda a descoberto, conhecida como “short squeeze”, apostando na queda de ações que não estavam com boas perspectivas de mercado, com base em análise desses negócios e de suas perspectivas. 

Ninguém aqui está dando atestado de boa conduta a esses fundos, mas eles agiram dentro da regra de mercado. Por outro lado, mesmo sendo romântica a visão de troco dado pelas sardinhas, isso ocorreu por ação coordenada. Tanto que está sendo objeto de investigações por parte das agencias fiscalizadoras. Essa situação pode levar a descréditos à transparência de mercado e gerar outras situações de maior instabilidade. 

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Reproduzindo a fala de Tyler Gellasch, presidente da Healthy Markets Association: “Isso é humilhante para quem mantém a ideia antiquada de que o mercado canaliza o dinheiro para uso mais eficiente.” Empresas como a GameStop não apresentam garantia alguma de que seu negócio se tornou lucrativo e que seu futuro está garantindo. 

A preocupação é com o pequeno investidor, que acaba entrando nessa história sem saber direito o que está acontecendo. Este poderá cair no esquema de pirâmide financeira e perder muito dinheiro ao entrar no momento errado e ficar no fim da fila. 

Em março do ano passado, tivemos o “Corona Crash”, espero que não tenhamos uma nova crise ou um novo “Sardine Crash”.

*PROFESSOR DE FINANÇAS DA FGV-SP