Renato Meirelles, presidente do Instituto Data Popular, empresa de pesquisas de opinião focada no entendimento das classes C, D e E, diz que Michel Temer, caso chegue à presidência, "vai ter lua de mel com o mercado, mas não com a população - vai ser um inferno".
Na visão de Meirelles, que tem formação de publicitário, a quase totalidade dos políticos, inclusive Temer, não está sintonizada com os anseios da maior parte da população, e tem dificuldade de articular um discurso sobre as necessárias reformas que não aliene e sofra oposição das classes populares.
Ele cita pesquisas que mostram que 84% da população acha que o Brasil não está no rumo certo, e que 59% considera que esta é a maior crise que já viveram no País. Uma maioria de 89% dos brasileiros não consegue mencionar o nome de nenhum líder que seja capaz de tirar o Brasil da crise.
Para uma parcela de 65% da população, a corrupção é a causa responsável pela atual situação econômica do Brasil, o que não é promissor para que o governo venda a necessidade de um ajuste fiscal. O sistema partidário sofre um profundo descrédito, e 62% dos brasileiros concordam com a afirmação de que "o Brasil seria melhor se não tivesse partido político nenhum". Uma esmagadora maioria de 92,3% dos brasileiros acredita que todo político é ladrão.
Especificamente em relação ao governo Temer, de acordo com pesquisa da Datafolha de abril, 38% acham que será ruim ou péssimo, e apenas 16% pensam que será ótimo ou bom. Em comparação com o governo atual, 26% dizem que o do vice-presidente será pior, 27%, melhor, e 37% apostam que será igual.
Já pesquisa do Ibope, também de abril, indica que 62% dos brasileiros consideram que a melhor saída para a crise é que Dilma e Temer saiam e novas eleições sejam realizadas; 25% dizem preferir que Dilma continue seu mandato com um novo pacto entre governo e oposição; e apenas 8% disseram que o melhor seria o impeachment seguido de um governo Temer.
Quando se pensa em reformas estruturais para adequar as transferências previdenciárias e sociais às possibilidades fiscais, uma das tarefas que muitos analistas atribuem ao possível governo Temer, a situação se complica.
Uma parcela de 38% da população brasileira quer um Estado pouco atuante, e, entre estes, 36 pontos porcentuais correspondem a pessoas que se declaram oposicionistas ao atual governo. Por outro lado, 62% dos brasileiros querem um Estado atuante, e, entre estes, um quinhão de 44 pontos porcentuais se diz decepcionado com Dilma. Em outras palavras, a indicação é de que há mais eleitores decepcionados com a atual presidente pela desaceleração do Estado em termos de programas como Pró-Uni, Pronatec, creches gratuitas, etc. do que oposicionistas contrários à Dilma porque querem um enxugamento do Estado.
Além disso, a maioria da população brasileira quer serviços gratuitos para todos ou pelo menos para os mais pobres em diversas áreas: 52% no caso de moradia; 54% para a Internet; 55% para o transporte; 71% para o Ensino Superior; 73% para remédios; 90% para educação básica; 90% para creches; e 91% para hospitais e postos de saúde.
Para Meirelles, é fundamental que qualquer discurso a favor das reformas saia da lógica aritmética dos economistas, e tente comunicar à população que o ajuste está sendo feito de forma a garantir o melhor possível para quem mais precisa. (fernando.dantas@estadao.com)
Fernando Dantas é jornalista do Broadcast
Esta coluna foi publicada pela AE-News/Broadcast em 2/5/16, segunda-feira.