Fim do domínio de apps dos bancos deve gerar competição e beneficiar consumidor, diz especialista

Presidente do BC, Campos Neto estima que superapps agregadores devem ser comuns em dois anos; grandes instituições e startups disputam espaço como canal digital de relação com os clientes

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Foto do author Carlos Eduardo Valim

Os superapps agregadores de informações financeiras que vão substituir os aplicativos únicos dos grandes bancos devem abrir espaço para a competição entre sistemas, com potencial de beneficiar os consumidores. A expectativa é das empresas que já estão trabalhando para essa evolução.

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O tema foi levantado pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, na sexta-feira, 10. Durante evento nos Estados Unidos, ele afirmou que, “daqui a um ano e meio, dois anos”, apps de bancos como Itaú, Bradesco ou Santander deixarão de existir. “Você vai ter um app que a gente chama de agregador. E aquele app vai, através do Open Finance, integrar todas as suas contas”, explicou.

A expectativa, segundo o presidente do BC, é que haja uma carteira digital de dados construída por um superapp agregador, que vai captar todas as movimentações dos usuários.

Uma das empresas que trabalha na ideia é a Finansystech, que já atende mais de 40 bancos, cooperativas e seguradoras que buscam plataformas para entregar a seus clientes o conceito de Open Finance, a abertura dos dados de produtos oferecidos pelos bancos e corretoras utilizados por cada cliente.

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Essas informações estarão abertas para acesso pelas instituições financeiras, se o cliente desejar, e poderão também ser todas combinadas em um único superaplicativo.

“Eu, por exemplo, tenho quatro contas ativas. Não é fácil gerenciar todas, ficar abrindo e fechando cada uma para fazer pagamento de uma e depois de outra”, afirma o CEO da Finansystech, Danillo Branco.

“Hoje, os aplicativos com que mais tenho relação são o WhatsApp e o de treino esportivo. Digamos que o app esportivo pode cuidar não só da saúde, mas também da saúde financeira, e servir como um agregador de contas bancárias.” A empresa criadora deste app não precisará de uma licença bancária para prestar esse serviço.

Danillo Branco, CEO da Finansystech Foto: Divulgação Finansystech

Segundo o especialista, quando Campos Neto mencionou a ideia, ele estava explicando que as pessoas não precisarão, necessariamente, utilizar os apps criados pelo Itaú ou pelo Bradesco para fazer a administração de suas contas nessas instituições.

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Isso não significa que os apps bancários deixarão de existir, mas que as pessoas buscarão superapps combinando informações de diversas instituições. E esses superapps podem ter sido criados por bancos ou por startups, assim como aconteceu com as carteiras digitais.

“A relação com bancos vai continuar, mas num novo canal. Campos Neto foi muito feliz na sua frase de uma guerra, mesmo que dita num contexto mais informal. Será uma disputa pela evolução dos canais de interação com cliente”, diz o executivo. “Ele usa o termo guerra, mas se trata de competitividade.”

A grande dúvida é quem vai vencer essa disputa, que pode ficar clara apenas daqui a dois anos. As grandes instituições já se movimentaram para evitar a perda de espaço.

“O Banco do Brasil já trazendo dentro para dentro do seu app dados de outras instituições. O Bradesco, por meio do Next, já permite a assinatura do streaming Disney Plus. O Itaú já está entregando questões de seguro”, diz Branco.

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Outras questões que devem afetar o consumidor são quanto à segurança e a disponibilidade dos aplicativos. Hoje, se há vazamento de dados ou se os serviços estão fora do ar no dia que vence o pagamento de uma conta importante, o cliente sabe que deverá reclamar com o banco. Com os superapps, isso fica mais complexo.

A responsabilidade pelos dados continua com quem faz a guarda da informação, ou seja, para quem o cliente passou o seu dado. O Banco Central já regula se as informações estão sendo colocadas disponíveis pelos bancos, e pode aplicar sanções se não voltarem a ficar disponíveis no tempo previsto.

Se o aplicativo está fora do ar, a responsabilidade é da empresa dona da tecnologia e a que oferece o sistema. “Hoje, temos compromisso de 99,9% de disponibilidade. Anualmente, a nossa plataforma fica fora do ar, no máximo, por 20 horas durante o ano”, afirma o CEO.

Quanto à velocidade em que esse futuro vai chegar, Campos Neto estipulou de um ano e meio a dois anos, período que Branco considera realista, visto a velocidade de adoção do PIX.

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“A estimativa de adoção do pagamento instantâneo era de que demoraria seis meses para termos 200 mil transações. Mas tivemos 10 milhões nesse período”, diz Branco.

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