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O Futuro dos Negócios

Opinião|Aprendendo a ensinar

As possibilidades do uso da Inteligência Artificial na Educação são uma importante ferramenta para professores e alunos

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Em nossa última coluna, falamos de novas carreiras criadas pela tecnologia para o setor de ciências da vida. Hoje, vamos abordar outro setor crítico da economia: a educação.

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O processo de transmissão do conhecimento envolve a figura de um mestre e de um estudante desde a aurora da civilização — de fato, salas de aula do século XVIII são razoavelmente parecidas com o que encontramos hoje na maior parte das escolas. O processo educacional, especialmente durante os primeiros quinze anos das nossas vidas, envolve não apenas a transmissão de conhecimento técnico, mas também a aprendizagem de habilidades socioemocionais: como conviver e trabalhar em grupo, respeitar o próximo, como se apresentar, cumprir com responsabilidades, e assim por diante.

Com o advento da internet comercial, na segunda metade da década de 1990, algumas iniciativas de ensino à distância começaram a ser implementadas, cobrindo atualmente desde o ensino fundamental até cursos universitários disponibilizados por algumas das instituições mais renomadas no mundo acadêmico. Hoje, é possível acessar gratuitamente cursos online ministrados por professores que vivem do outro lado do mundo e que dão aulas em escolas com anuidades na casa dos milhares de dólares.

As propostas das empresas de EdTech (ligadas ao setor de tecnologia da educação) abordam temas e currículos diversos e quase sempre procuram, de uma forma ou de outra, resolver o desafio da personalização da educação: como organizar o conteúdo de forma a engajar e maximizar as potencialidades de cada estudante. O ensino no ambiente corporativo, escolar ou universitário ganhou, com a popularização das técnicas de Inteligência Artificial, um importante aliado que, sob a orientação dos professores, pode aumentar de forma importante a eficiência do processo de transmissão do conhecimento.

Com popularização da IA, ensino ganhou aliado que, sob orientação de professores, pode aumentar de forma importante a eficiência do processo de transmissão do conhecimento.  Foto: Helvio Romero/Estadão

Projetos em EdTech tipicamente não exigem novos equipamentos ou dispositivos, sendo quase que integralmente ancorados em software, não é de se surpreender que essa seja uma área na qual o Brasil possui uma série de iniciativas, conforme discutido aqui.

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Com algoritmos de IA analisando o desempenho de cada estudante, é possível criar um roteiro de estudos individualizado, potencialmente melhorando seu desempenho acadêmico ao reforçar os pontos onde são detectadas deficiências. Profissionais especializados — sempre trabalhando com pedagogos, professores e educadores — agora podem criar “professores virtuais”, disponíveis 24 horas por dia, capazes de auxiliar com os deveres de casa e de fornecer orientação em tempo real — levando em consideração, inclusive, as necessidades específicas de portadores de deficiências físicas ou cognitivas.

Ganhos potenciais em áreas administrativas, operacionais e financeiras das instituições devem simplificar a rotina de diversos tipos de profissionais, que poderão dedicar seu tempo a tarefas mais criativas, e a própria correção das tarefas acadêmicas e a análise de artigos submetidos para publicação em periódicos científicos também podem ser realizadas por sistemas inteligentes. Estes vêm sendo aprimorados para serem capazes de identificar plágio através da detecção de similaridades com materiais existentes previamente — sendo importante ajustá-los para evitar os falsos positivos com a supervisão e orientação de um profissional de educação.

Uma das ferramentas educacionais disponíveis online mais conhecidas atualmente é a Khan Academy, da qual falamos aqui. Em 2004, Sal Khan começou a ajudar uma prima com aulas de matemática remotas, que começaram a ganhar popularidade no YouTube. Poucos anos depois, em 2008, Sal incorporou a entidade sem fins lucrativos que atualmente possui mais de oito milhões de assinantes e que, segundo a própria Khan Academy, já teve suas vídeo-aulas assistidas mais de dois bilhões de vezes. Em março de 2023, o chatbot Khanmigo foi lançado (baseado na tecnologia do modelo de linguagem GPT-4, da OpenAI): trata-se de um agente inteligente que acompanha e auxilia estudantes em seus estudos.

A combinação dos especialistas em educação com novas ferramentas oferece possibilidades de acesso, eficiência e customização no processo educacional que podem trazer benefícios importantes a um grande número de pessoas — e é essa combinação entre seres humanos e máquinas que iremos continuar a discutir na próxima coluna, com o impacto da IA no setor financeiro. Até lá.

Opinião por Guy Perelmuter

Fundador da Grids Capital e autor do livro "Futuro Presente - O mundo movido à tecnologia", vencedor do Prêmio Jabuti 2020 na categoria Ciências. É engenheiro de computação e mestre em inteligência artificial

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