SÃO PAULO - Surpreendidos com o bom desempenho do comércio varejistas em julho, que cresceu 1,9% na comparação com o mês anterior, descontado o comportamento típico das vendas no período, economistas de consultorias e de bancos fizeram mea-culpa para descobrir onde erraram nas projeções.
É consenso que o erro nas estimativas ocorreu porque o impacto da desaceleração de inflação nas vendas foi subestimado. A inflação oficial do País em julho foi próxima de zero (0,03%), ante 0,26% em junho.
Segundo o economista Paulo Neves, da LCA Consultores, o principal fator para o resultado do comércio varejista ter sido tão distante da projeção foi o comportamento dos preços. A consultoria previa estabilidade para o volume de vendas do comércio varejista restrito em julho, na comparação com junho. O comércio restrito não engloba as vendas de veículos e materiais de construção.
Ele argumenta que indicadores considerados nas projeções, como mercado de trabalho, vendas de papelão ondulado e movimento do comércio, estavam "decepcionantes". Por isso, as projeções apontavam para estabilidade nas vendas. Mas o comportamento dos preços, especialmente no setor vestuário e calçados contrariou as estimativas.
O setor de vestuário e calçados foi o que registrou maior taxa de crescimento de vendas em julho na comparação com junho: 5,4%. Para Neves, o que explica esse resultado foi a deflação de 0,07% dos preços desses itens no mês, depois de uma alta de 0,39% em junho na comparação com maio. Neves calculou o deflator implícito das vendas do comércio apuradas pelo IBGE, levando em conta o volume de vendas e a receita nominal. Deflator implícito é uma espécie de inflação do setor.
"A grande surpresa veio do grupo vestuário e calçados", afirma o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. Ele observa que frio demorou para chegar e impulsionou as vendas. De toda forma, o economista, que projetava queda de 0,10% nas vendas do varejo em julho na comparação com o mês anterior, explica que é "difícil casar o IPCA com o varejo", porque os universos são diferentes.
Minha Casa. Outro ponto que pode ter levado as projeções de vendas do varejo ao erro foi o impacto do programa do governo Minha Casa Melhor. Por esse programa, o consumidor recebe um crédito de R$ 5 mil para comprar eletrodomésticos e móveis. As vendas desse grupo cresceram 2,6% em julho. Gonçalves diz que não é possível considerar o impacto desse crédito nas vendas do comércio.
Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica, que também projetava retração de 0,10% nas vendas de julho, acrescenta outro fator que não pode ser mensurado e que teria atrapalhado as projeções: a transferência de compras de junho para julho, provocada pelas manifestações de rua. Apesar das justificativas, os economistas não acreditam que esse desempenho se repita em agosto.