A estudante Renata Meireles, de 18 anos, resolveu procurar, via internet, o livro Harry Potter and the Order Of the Phoenix. Acabou comprando-o por R$ 75,99. Em outro varejista virtual, o livro saía por R$ 148,83. A pesquisa foi feita em poucos minutos, num serviço de comparação de preços. "Pela internet, as encomendas normalmente chegam rápido e o preço é menor", diz Renata. Enquanto muitos lamentavam o estouro da bolha da internet, em abril de 2000, acontecia uma revolução silenciosa. A rede mundial consolidou-se como um canal importante do varejo. A Saraiva.com.br vende mais do que qualquer loja física da livraria, respondendo por 13% a 15% do faturamento total. No caso do Ponto Frio, as vendas por internet e por telefone (que são contabilizadas em conjunto) também já ultrapassam as da maior entre suas 350 lojas físicas. As vendas remotas respondem por 4% do faturamento, enquanto a Megastore da Marginal Tietê, em São Paulo, é responsável por 3,5% Num momento em que o varejo tradicional enfrenta estagnação, as vendas via internet têm crescimento consistente. Em abril, as lojas virtuais brasileiras, excluindo as montadoras de automóveis, faturaram R$ 133,6 milhões, um crescimento de 54% sobre os R$ 86,7 milhões registrados em agosto do ano passado, quando a E-Consulting e a Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (Câmara-e.net) começaram a medição. "Existe um processo claro de substituição", disse o presidente da Câmara-e.net, Gastão Mattos, explicando por que o comércio eletrônico consegue crescer mesmo com um desempenho fraco do varejo tradicional. Para este ano, Mattos projeta um avanço de 50%. Há espaço para o varejo virtual crescer mesmo sem reaquecimento da economia e com base estagnada de internautas. Ainda são poucos os consumidores virtuais no País. De acordo com Mattos, 2,3 milhões de brasileiros haviam comprado pela internet no período de 12 meses encerrado em maio, num universo de 24 milhões de pessoas com acesso direto ou indireto à rede mundial. "A barreira é o hábito", disse o diretor-geral do Submarino, Flávio Jansen. "Depois da primeira compra, existe um índice alto de pessoas que voltam a comprar." A empresa, que faturou R$ 130 milhões em 2002, projeta de R$ 180 milhões a R$ 200 milhões para este ano. Entre os grandes varejistas da internet, só o Submarino surgiu na rede. Os demais já possuíam lojas físicas. Percepção A presença na internet pode mudar a percepção dos consumidores em relação à marca. A Americanas.com, por exemplo, foi a mais lembrada em eletroeletrônicos na pesquisa E-bit, feita entre consumidores da internet. Fora da internet, as Americanas não são conhecida por esta linha de produtos. No ano passado, a loja virtual faturou R$ 170 milhões. O diretor-executivo do Ponto Frio, Ike Zarmati, destacou que a experiência de comprar na internet pode ser melhor do que nas lojas físicas. "Criamos um serviço no site chamado consultor de vendas. Se o cliente quiser um ar-condicionado, entra com as características do ambiente e o site calcula a capacidade necessária", disse Zarmati. "Na loja, nem sempre o vendedor sabe responder. O site sempre sabe." Já a livraria Saraiva aposta na integração entre as lojas físicas e a virtual. "A Saraiva.com tem estoque próprio, mas também usa o estoque das lojas para atender aos clientes da internet", explicou o diretor-geral da Saraiva.com.br, Ledo Camargo. Além disso, se o consumidor for a uma das lojas da rede e não encontrar o que quer, pode encomendar o produto, para receber em casa. "Quem opera o serviço é o braço virtual." Hábito Para o diretor de Estratégia da E-Consulting, Daniel Domeneghetti, o principal obstáculo é a falta de cultura de compra remota no País. O brasileiro nunca teve costume de comprar por catálogo e só agora começa a se habituar ao consumo por telefone e via internet. "A saída é potencializar o boca-a-boca e ter o foco no usuário que já está na internet." O medo do consumidor de usar o cartão de crédito, um dos grandes entraves nos primeiros anos do comércio eletrônico, já não preocupa os lojistas. "Não tenho pesquisas a respeito, mas, intuitivamente, acredito que o medo de usar o cartão é a expressão racional do temor de um canal de vendas que o consumidor ainda não conhece", diz Camargo, da Saraiva "Nunca tive problema", contou a estudante Renata, consumidora virtual há dois anos, principalmente de livros, CDs e DVDs. Ela às vezes opta pelo boleto bancário, mas o meio de pagamento que mais usa é o cartão de crédito do irmão mais velho.
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