O Brasil queimou a largada: não é verdade que Ucrânia e Rússia têm igual culpa na guerra. Houve uma invasão criminosa pela Rússia. A posição brasileira foi pessimamente recebida na Europa e nos EUA, bem como em outras democracias. Será difícil o País se posicionar como facilitador neutro num eventual processo de cessar fogo.
O grupo Brics nunca foi algo orgânico. Brasil e África do Sul cresceram muito pouco desde que Jim O´Neill criou o acrônimo. Com a admissão dos novos países, o grupo claramente virou um artefato da política externa chinesa.
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A visão quase unânime dos analistas, com a qual eu concordo, é de que o Brasil saiu menor da reunião.
A promessa de apoio à velha demanda de entrarmos no Conselho de Segurança da ONU tem, a meu juízo, pouco valor. A mesma coisa já ocorreu quando o Brasil, em 2004, reconheceu a China como uma economia de mercado para que ela pudesse ser aceita na Organização Mundial do Comércio. Não há por que imaginar que desta vez será diferente.
A participação do dólar e de outras moedas ocidentais conversíveis no comércio e nos pagamentos internacionais é totalmente predominante, e assim continuará sendo no horizonte previsível. Isso é especialmente verdade a se confirmar a desaceleração do crescimento chinês para a faixa de 4% ao ano ou menos.
Entretanto, os esforços da China para ampliar a aceitação do yuan em transações internacionais estão avançando, especialmente após o acordo obtido com a Arábia Saudita para cotar e liquidar operações de petróleo na moeda chinesa.
Esse movimento está sendo amplificado pela crescente utilização, pelos EUA, do comércio e das finanças como arma política, via sanções internacionais. (Veja-se, por exemplo, Backfire: How Sanctions Reshape the World Against U.S. interests, A. Demarais, CGEP, 2022).
Entretanto, daí não se segue que países como o Brasil, que vende para o mundo todo, possam começar a dispensar o uso do dólar nas transações comerciais internacionais do setor privado.
Quem vai topar receber yuans ou pesos? Será preciso antes estatizar a liquidação da operação via garantias do Tesouro e/ou de bancos públicos.
Sem chance para a moeda do Mercosul.
dividerNotícias: “Foguete russo se espatifa na lua”. “Foguete indiano pousa no sul da lua.” Será que isso diz alguma coisa sobre decadência e ascensão de potências?