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Mercado prevê ao menos mais dois cortes de 0,25 ponto na Selic nas próximas reuniões do Copom

Para a reunião de julho, expectativa de outro corte de 0,25 ponto porcentual é o cenário-base de 25 de 33 casas (78,7%) consultadas em levantamento

Por Daniel Tozzi Mendes (Broadcast), Gabriela Jucá (Broadcast) e Marianna Gualter (Broadcast)

Após o comunicado da reunião de maio do Comitê de Política Monetária (Copom), na quarta-feira, 8, o mercado destacou a discordância entre membros do colegiado sobre o nível de corte na Selic, vista como uma sinalização da possibilidade de um comportamento mais “dovish” (com expectativa de queda nos juros) por parte do Banco Central a partir de 2025, de acordo com economistas consultados pelo Projeções Broadcast.

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O comitê decidiu na última reunião reduzir a taxa em 0,25 ponto porcentual (pp.), interrompendo um ciclo de seis cortes consecutivos de 0,50 pp. Os juros básicos da economia caíram de 10,75% para 10,50% ao ano, em decisão dividida dos nove membros do colegiado.

Votaram por uma redução de 0,25 ponto porcentual os membros mais antigos do Copom: o presidente do BC, Roberto Campos Neto, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Otávio Ribeiro Damaso e Renato Dias de Brito Gomes. Já os indicados pelo governo Lula votaram por uma redução de 0,50 pp.: Ailton de Aquino, Gabriel Galípolo, Paulo Picchetti e Rodrigo Teixeira.

Para o próximo encontro do comitê, em junho, a ampla maioria do mercado (88,5%) projeta que deve haver mais um corte de 0,25 ponto. Este é o cenário-base de casas como o Bank of America, XP Investimentos e Itaú Unibanco.

Entre 26 casas consultadas, 20 (77%) avaliam como provável um cenário em que o ciclo de cortes na Selic seja retomado em 2025, após uma pausa neste ano Foto: André Dusek/Estadão

O economista-chefe do Banco BMG, Flávio Serrano, manteve, por ora, a projeção de mais três cortes de 0,25 ponto na Selic, levando o juro básico para 9,75% no final do ciclo de afrouxamento em setembro. Ele destaca, porém, que o cenário hoje está um pouco mais desequilibrado em favor de uma Selic terminal de 10%, e que pode concretizar a mudança a depender do conteúdo da ata da reunião, divulgada na próxima terça-feira, 14.

“É um cenário em que há elementos para maior conservadorismo”, observa Serrano, que considera que houve uma inclinação mais “hawkish” (agressiva) por parte do Copom no comunicado de quarta.

O economista-chefe da Quantitas, Ivo Chermont, por sua vez, projeta que deve haver apenas mais um corte de 0,25 ponto na taxa Selic em junho, com o juro básico encerrando o atual ciclo de afrouxamento em 10,25%. Para ele, porém, a possibilidade do comitê não fazer mais cortes no juro e mantê-lo em 10,50% no próximo encontro, não pode ser desprezada.

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Chermont atrela a possibilidade de Selic parada no atual nível aos desdobramentos da decisão dividida de quarta. Para ele, os votos dos diretores mais recentes da autarquia sinalizam uma postura “dovish” para o BC a partir de 2025, o que pode se traduzir em desvalorização do câmbio e na elevação das expectativas de inflação nos próximos boletins Focus.

“Se isso se confirmar e não acontecer nenhum sobressalto positivo no cenário internacional, teremos impacto no modelo do próprio BC. Então, quando chegar a próxima reunião, as coisas podem estar piores e vai ser muito difícil votar por um novo corte”, diz.

Retomada do ciclo de queda em 2025

Entre 26 casas consultadas, 20 (77%) avaliam como provável um cenário em que o ciclo de cortes na Selic seja retomado em 2025, após uma pausa neste ano. Para Chermont, da Quantitas, essa retomada nos cortes da Selic está atrelada à composição mais dovish do BC, em um contexto em que o Federal Reserve (Fed, o BC americano) já terá iniciado o processo de redução no juro.

“Nem de perto (essa retomada dos cortes da Selic) tem a ver com inflação indo para a meta em 2025″, atenta o economista. “Não significa que os dados vão vir melhores ou piores, mas sim que (a nova diretoria do BC) será menos dura na reação a eles”, complementa Chermont, que prevê juro básico em 9,5% no ano que vem.

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Serrano, do BMG, também vê retomada do ciclo de cortes em 2025, provavelmente a partir do segundo trimestre. “É uma janela que parece favorável”, aponta. Ele ressalta, contudo, que as expectativas de inflação para 2025 podem piorar ainda mais, como reflexo de um BC mais “dovish” e das incertezas com a desinflação dos alimentos, o que é um ponto de atenção para a retomada do afrouxamento monetário à frente.

Já para o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, a retomada dos cortes na Selic em 2025 não só não será possível, como o juro deve voltar a subir. Ele projeta juro básico em 10,5% no próximo ano, após 9,75% em 2024, de acordo com seu cenário-base.

Vale atribui o cenário a vetores como o provável retorno do presidente Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, o que tende a piorar o cenário fiscal e colocar um piso elevado para as taxas longas de juro nos EUA. No cenário doméstico, o economista destaca que a nova composição do BC, aliado ao contexto de ano pré-eleitoral e pressão no lado fiscal, fará com que as expectativas de inflação se elevem ainda mais, forçando a retomada da alta do juro. “Mas será um BC parecido com o do período da (ex-presidente) Dilma, ou seja, vai subir menos do que precisa”, afirma.

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