As negociações sobre agricultura e indústria da Rodada de Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC), chegaram a um ponto em que o êxito final depende de decisões políticas, de acordo com fontes diplomáticas. Isso porque, faltando uma semana para a reunião de boa parte dos 149 ministros de Comércio da OMC, em Genebra, as dificuldades continuam. Além disso, existem centenas de questões pendentes em relação aos projetos sobre as modalidades finais, que afetarão esses dois setores. Alguns blocos, como a União Européia (UE) e o Grupo dos Vinte (G-20), reagiram às declarações, dizendo estarem "dispostos a considerar novas opções, se os outros também se movimentarem" na área de agricultura, disseram fontes diplomáticas. O G-20, que reúne os países em desenvolvimento, já afirmou que "os grandes são os que devem se movimentar primeiro". O Brasil, em nome do G-20, pediu nesta sexta-feira aos Estados Unidos que elaborem novas propostas para a redução dos subsídios internos. O país também fez um pedido à UE e ao Grupo dos Dez (G-10), em relação ao acesso aos mercados. "Uma vez que os grandes países desenvolvidos demonstrem sua disposição de negociar, nós apresentaremos novas soluções e também negociaremos", acrescentou um representante brasileiro."Neste momento, não se trata mais de uma questão técnica. É um momento político", assinalou o presidente do comitê negociador da OMC em agricultura, o embaixador neozelandês, Crawford Falconer. Ele ressaltou que "todos os membros já sabem o que têm de fazer" nesta etapa da negociação. Objetivo A partir de 29 de junho, quase a metade dos 149 ministros se reunirá em Genebra. O objetivo é tentar estabelecer as fórmulas e os números que permitirão o cálculo do nível de cortes tarifários a serem aplicados em suas importações agrícolas e industriais. Falconer, que apresentou o projeto com possíveis modalidades para agricultura na quinta-feira, se recusou a comentar se manteria o otimismo sobre um final bem-sucedido da negociação. O neozelandês disse, entretanto, que "em toda negociação alguém pode ser surpreendido. Ninguém pode prever o que acontecerá" nas reuniões da semana que vem. Já o presidente do comitê negociador para acesso a mercados de bens industriais, Don Stephenson, que também apresentou um projeto similar sobre seu setor, declarou-se "otimista" em relação à "seriedade" com que os ministros abordarão o tema. Redução de divergências O diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, pediu que os países membros da organização não deixem passar a chance que terão na próxima semana, durante uma reunião ministerial convocada em Genebra, para reduzir suas divergências. O objetivo é definir os números e fórmulas que todos os países membros da OMC deverão utilizar para determinar o nível de cortes tarifários que aplicarão às importações de bens agrícolas e industriais. Também deverão definir o alcance dos cortes de subsídios às exportações e das ajudas agrícolas internas que os países ricos concedem a seus produtores, o que foi uma das reivindicações fundamentais do mundo em desenvolvimento nesse processo. "Temos a oportunidade, dessas que não aparecem mais de uma vez por geração, de corrigir os desequilíbrios no comércio multilateral. Peço que não a deixemos escapar", afirmou Lamy. Doha Técnicos e diplomatas negociam há quase cinco anos a Rodada de Doha, uma tentativa de promover a liberalização do comércio em diversas áreas beneficiando, principalmente, os países em desenvolvimento. A idéia é que a rodada termine no final deste ano. Para cumprir esse prazo, já adiado após o fracasso da reunião de Cancún, em 2003, é necessário que todos os acordos sejam encaminhados até julho. No entanto, as divergências continuam, e o êxito da agricultura determinará o sucesso de todos os outros setores.
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