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De atendente de call center a escritório em Nova York: a história de Beatriz Machnick

Rejeitada em processos de trainee por não ter estudado em faculdade de elite e por não falar inglês, ela abriu o próprio negócio aos 22 anos; dez anos mais tarde, prepara-se para dar treinamento a empresários brasileiros na Big Apple

Foto do author Fernando Scheller
Por Fernando Scheller
Atualização:

Aos 16 anos, Beatriz Machnick já estava em seu segundo emprego. Ao chegar à grande sala com centenas de posições de atendimento de call center, olhou aquele mar de gente falando “boa tarde, senhora”, “boa tarde, senhor”, e avistou de longe o quadro dos melhores funcionários do mês. A primeira coisa que pensou foi: “Como é que eu faço para chegar lá?”

Desenvolveu, então, um método próprio para abordar os clientes e cobrar dívidas. “Eu não precisava dizer para eles que eles estavam devendo, eles já sabiam disso. Então, eu vinha com a ideia de oferecer uma solução para o problema deles”, conta Beatriz, hoje com 32 anos, de seu escritório em um prédio de alto padrão no bairro Batel, em Curitiba.

Beatriz Machnick, durante palestra a empresários Foto: Beatriz Machnick/Arquivo pessoal

A ex-atendente de call center é hoje dona de um negócio ainda pequeno, mas que vai contra a maré de especialização: contadora de formação, Beatriz transformou o recém-batizado BM Group (iniciais de Beatriz Machnick) em um híbrido de sua atuação original – soluções financeiras e de definição de honorários para advogados – com consultoria em gestão e motivação. Para esta última tarefa, Beatriz usa muito de sua experiência pessoal para ajudar a guiar negócios no Brasil e no exterior.

De atendente a empresária em 6 anos

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Criada em Colombo, na região metropolitana de Curitiba, Beatriz deu o salto de atendente de telemarketing a microempresária em seis anos. Cursando contabilidade à noite em uma faculdade particular – a Facinter, hoje Uninter –, conseguiu saltar do atendimento ao cliente para o departamento financeiro e, depois, fez estágio em bancos como HSBC e Citi. “Mas nunca passei em processo de trainee, por causa da minha formação e da exigência do inglês”, diz.

Foi quando arranjou um emprego em uma consultoria, no entanto, que deu o salto de funcionária para empreendedora. Incentivada pelos ex-chefes, escreveu seu primeiro livro, aos 22 anos, sobre a fórmula que criou para o cálculo da cobrança de honorários advocatícios (desde então lançou outros dois, pela Editora Juruá). “Você tem uma distância muito grande das bancas antigas, que fizeram milhões, para os jovens advogados que mal conseguem pagar suas contas. Então, eu resolvi criar uma fórmula. Mostrei para os meus chefes e eles disseram para eu escrever um livro sobre ela. E eu escrevi.”

Os chefes ficaram menos felizes quando, meses depois, Beatriz seguiu o conselho de um cliente e, em vez de trabalhar para os outros, abriu seu próprio negócio. Desde então, ampliou o foco de suas consultorias e de suas palestras, tirando a ênfase apenas do meio jurídico e entrando no discurso motivacional para homens de negócio.

Agora, percebendo que o mundo corporativo é povoado por gente rica, mas infeliz, ela adaptou seu discurso mais uma vez: quer ensinar empresários a atingir seus objetivos, mas com um toque de leveza. “Eu percebi que muita gente chega ao topo deprimida, com o emocional destruído”, conta. Como atende a empresários de maior porte, mas também a pessoas que ainda almejam dar o grande salto no mundo dos negócios, ela sabe que precisa modular o discurso. Por isso, um de seus lemas é: “Nunca despreze os pequenos começos.”

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Voos no exterior

Além da equipe que trabalha na BM em Curitiba – onde tem dez funcionários –, Beatriz resolveu também bater asas no exterior. Alugou um escritório no coração de Manhattan, em Nova York. Não se trata de um investimento que ela e sócio (e também marido) Renan Rabelo fazem com facilidade: afinal, o negócio, embora tenha dobrado de tamanho em pouco tempo, ainda é relativamente pequeno: o faturamento de 2022 deve ficar em R$ 3 milhões. “A gente foi para Nova York no fim do ano passado e decidimos que era a hora”, lembra. “Mas é claro que dá um frio na barriga.”

O que acontece é que os grandes escritórios cobram valores milionários, enquanto a maioria dos advogados não tem o que comer. Então, eu resolvi criar uma fórmula. Mostrei para os meus chefes e eles disseram para eu escrever um livro sobre ela. E eu escrevi.”

Beatriz Machnick, sobre o livro que lançou aos 22 anos

O escritório em Nova York acrescenta um toque de marketing ao grupo BM, até porque a maioria dos empreendedores brasileiros com os quais ela tem contato reside na Flórida. Além disso, por enquanto, o espaço passa a maior parte do tempo fechado por enquanto, uma vez que os contratos nos EUA ainda estão começando a ser fechados.

Mas, muito em breve, o escritório de Nova York vai passar por seu primeiro grande teste: Beatriz está fechando uma turma para um treinamento motivacional e de gestão que vai acontecer na sede que ela abriu na Big Apple. Ela está reunindo 40 empreendedores brasileiros para dois dias de treinamento sobre ganhar dinheiro sem perder a leveza. Para garantir que mesmo quem ainda não tenha “chegado lá” se anime em participar, ela está cobrando o treinamento em reais. “São exatos R$ 2.297″, adianta.

Apesar de o preço ser acessível em comparação ao que grandes consultorias costumam cobrar para eventos do tipo, ela garante que o treinamento não ficará restrito a uma sala escura. O evento de dois dias vai incluir uma visita ao “rooftop” (terraço) do edifício do escritório e até um passeio de barco até a Estátua da Liberdade.

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