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Mercado Livre investe em moda, atrai lojistas do Brás e vai brigar com a Shein

Empresa argentina vai dar consultoria gratuita para vendedores do maior centro de comércio de rua do País para digitalizar vendas de artigos de moda

Foto do author Lucas Agrela
Foto do author Renée  Pereira
Por Lucas Agrela e Renée Pereira
Atualização:

Em um esforço para ampliar sua relevância na categoria de moda, o Mercado Livre vai trazer os vendedores da região do Brás para o seu comércio eletrônico. A empresa dará três meses de consultoria gratuita para que os vendedores possam aproveitar ao máximo o potencial da sua plataforma online. A aposta nos pequenos e médios comerciantes de moda acontece em um ano em que a chinesa Shein entrou na mira do Ministério da Economia devido ao grande volume de vendas com pagamento reduzido de impostos em relação aos produtos nacionais. Isso levou a chinesa a anuncar um processo de nacionalização que já tem 151 fábricas para produzir no Brasil artigos de moda.

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Na consultoria para vendedores, o Mercado Livre vai ensinar como registrar produtos, interagir com clientes e gerenciar vendas online. Além disso, os lojistas terão à disposição um estúdio para que possam fotografar seus produtos em vários ângulos e usar no plataforma.

O novo esforço da moda é parte de um investimento de R$19 bilhões para a operação brasileira da companhia argentina, anunciado pela empresa no ano passado. A categoria de moda é a quarta mais vendida da plataforma atualmente, atrás de produtos eletrônicos, artigos para a casa e peças ou acessórios para veículos.

Para garantir a originalidade dos produtos vendidos pelos lojistas do Brás, o Mercado Livre contará com um processo de checagem de notas fiscais, auxílio para a formalização de pequenos negócios e uma ferramenta de denúncia sobre venda de produtos falsificados. Lojas parceiras da companhia, como a Nike, terão um processo mais rigoroso de verificação quanto à originalidade. Segundo a empresa, 220 mil vendedores da plataforma se formalizaram desde 2020.

Entre os mais de 80 milhões de usuários únicos que acessam a plataforma do Mercado Livre mensalmente, 32 milhões navegam pela categoria de moda. A primeira etapa da estratégia da empresa para aumentar sua relevância no segmento foi se aliar a marcas oficiais, que totalizam 1.260 atualmente, com nomes como Farm, Reserva e Dudalina. Agora, chegou a vez de digitalizar as vendas do maior centro comercial de moda do País.

Centro de distribuição do Mercado Livre em Extrema (MG) Foto: Daniel Teixeira/Estadão - 27/07/2022

“Selecionamos os vendedores do Brás de acordo com os seus portfólios, preenchendo as lacunas de sortimento conectadas às tendências de moda. Nesta primeira fase, estimamos que serão 400 vendedores do Brás na plataforma, entre novos entrantes e antigos que irão melhorar a qualidade dos anúncios devido ao projeto”, afirma a vice-presidente de marketplace do Mercado Livre, Julia Rueff, em entrevista ao Estadão. As categorias mais procuradas online no Brás são moda evangélica, moda infantil, moda fitness, e moda plus size, de acordo com as tendências de pesquisa do Google.

O projeto voltado ao comércio do Brás foi criado no ano passado, mas é parte de um planejamento mais amplo para aumentar o volume de vendas online de artigos de moda, uma iniciativa que começou no Mercado Livre em 2020. “A pandemia permitiu acelerar todos os projetos que tínhamos de aumento de penetração de vendas de categoria no online. Antecipamos os projetos de supermercado e moda, por exemplo”, diz Julia.

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A executiva diz que a concorrência de empresas como a Shein não foi o principal motivo para o projeto de vendas do Brás. “Em 24 anos, estamos acostumados com o ambiente competitivo. O Brasil está entre os mais competitivos de e-commerce no mundo. Há muitos jogadores nesse jogo. Trabalhamos focados na nossa estratégia de longo prazo. Investimentos na categoria de moda há alguns anos e agora estamos fazendo expansão de pequenos e médios negócios”, afirma.

Segundo dados do primeiro trimestre deste ano do Mercado Livre, a categoria de moda cresceu 27% em vendas e o número de vendedores subiu 21% em relação a igual período no ano passado.

A categoria de moda foi a terceira que mais cresceu no faturamento de vendas da companhia em 2022, com alta de 28% na venda de calçados, roupas e bolsas, ficando atrás de eletrodomésticos (+37%) e de acessórios para carros (+33%). Com isso, o artigo mais vendido na plataforma no ano passado foi a calça jeans skinny, seguida por bermudas e moletons de academia e camisetas slim masculinas.

Julia conta que os artigos de moda são os que têm grande potencial de atração de novos clientes e que o público feminino, que tem ampla participação nas compras desses produtos, têm perfil de recorrência de compras.

O esforço do Mercado Livre para levar o comércio de rua para o mundo digital vai continuar. Com a experiência do projeto do Brás, a empresa vai partir para a digitalização de outros centros de vendas do País. Será o suficiente para conter a Shein?

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