PUBLICIDADE

Publicidade

O universo 3D chegou às notícias

Projeto da Vice News quer utilizar a realidade virtual para recriar eventos e acontecimentos

Por EMILY STEEL
Atualização:

Uma jovem aparece no meio de uma multidão de manifestantes marchando por uma rua de Nova York. Ela protesta contra a brutalidade policial, contra pessoas dizendo que as vidas dos negros não importam. "O meu povo não merece isso", ela grita, a centímetros do seu rosto. "Temos o direito de protestar, de ter raiva". Você olha para a esquerda e vê manifestantes segurando uma placa que diz "A supermacia branca é mortal". Vira para a direita e vê espectadores com expressões sérias. Essas imagens vívidas são parte de uma experiência de realidade virtual de oito minutos que lança o público para dentro da Marcha dos Milhões em Nova York, em dezembro. Criada por dois diretores experientes, Chris Milk e Spike Jonze, em parceria com a Vice News, o projeto é uma transmissão jornalística em realidade virtual. Sua estreia foi anteontem no Sundance Film Festival e em um novo aplicativo móvel de realidade virtual chamada Vrse, disponível no site da Vice News. Existem três opções para ter a experiência em casa. A primeira é um óculos de realidade virtual, como o Oculus Rift. A segunda é o aplicativo Vrse, que pode ser baixado em um smartphone e conectado a um visor simples, como o modelo de papelão que o Google desenhou para ser montado pelo próprio usuário. Finalmente, espectadores podem baixar o aplicativo e assistir ao filme diretamente no telefone, o que é próximo da experiência, mas perde alguns dos recursos tridimensionais. Considerada uma atração do mundo dos games, a realidade virtual representa uma nova fronteira para o jornalismo. Por anos, reportagens têm sido testemunhas de eventos importantes para o mundo. Agora, diretores e repórteres estão experimentando com tecnologias de realidade virtual que essencialmente transportam pessoas para dentro dos eventos.Aplicativo. Além do protesto da Marcha dos Milhões, Milk está lançando um projeto de realidade virtual em colaboração com as Nações Unidas que investiga a vida de uma menina síria de 12 anos num campo de refugiados na Jordânia. O projeto, chamado Clouds Over Sidra ("nuvens sobre Sidra", em tradução livre), estreou ontem no Fórum Econômico Mundial, em Davos, e no aplicativo Vrse. Milk, conhecido por suas experiências em contação de histórias movidas a tecnologia para música e museus, chamou as tecnologias da realidade virtual de "máquinas de empatia". "Estamos entrando nos sistemas de áudio e visual do seu cérebro", ele disse. "Uma parte importante do jornalismo é pintar um quadro para as pessoas de como é estar no lugar. Com isso, o público sente de verdade que está lá." Também em Sundance, Milk anunciou uma empreitada com a produtora de Megan Ellison, Annapurna Pictures, responsável por filmes como Ela e American Hustle, para a criação de projetos de realidade virtual.Óculos. Uma série de desenvolvimentos com realidade virtual e aumentada está tornando estas formas de jornalismo mais acessíveis ao público. Na quarta, a Microsoft lançou um óculos chamado HoloLens que irá permitir que as pessoas interajam com imagens holográficas. Outras empresas importantes de tecnologia estão trabalhando em dispositivos de realidade virtual, como a variante de baixa tecnologia do Google, que pede apenas um visor que custa menos de US$ 30 e um smartphone. "Estamos bem no começo desta mídia, disse Jonze, cujos filmes incluem Quero Ser John Malkovich e Ela. "É fascinante pensar e falar sobre quais formas de contação de histórias irão surgir." A Vice planeja trabalhar com Milk em uma série de projetos de realidade virtual, além de investir uma soma não revelada na empresa de realidade virtual de Milk, chamada Vrse.farm. Esse financiamento é um de vários investimentos em tecnologia que a Vice Media fez desde que recebeu uma série de investimentos em setembro que totalizaram US$ 500 milhões - parte será dedicada à criação de tecnologias para a distribuição de mídia. Eddy Moretti, o chefe de criação da Vice, disse que a realidade virtual é o próximo passo lógico para a empresa, que há tempos vem se dedicando a narrativas imersivas e pouco convencionais, com reportagens de países como Coreia do Norte, Ucrânia e Groenlândia. Eles disse que a empresa tinha muita vontade de usar a realidade virutal para novos projetos de notícias, assim como para experiências ligadas à música e comida. "Essa tecnologia é feita para uma imersão real dentro de uma história ou cultura", explicou o executivo. "Estamos interessados nas ideias e emoções e não em passeios de montanha russa."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.