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Os desdobramentos da robusta Selic

Investimentos ganham, mas empréstimos ficam mais caros

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Por Estadão Publishing House
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Com a escalada inflacionária, uma das medidas adotadas pelo Banco Central é elevar a taxa básica de juros, a Selic. Com isso, o índice que chegou a 2% em 2020 está, atualmente, em 13,75%. Essa elevação tem reflexo direto na economia. Funciona assim: com juros mais altos, diminui o consumo e os preços tendem a cair. Por outro lado, a produção também é reduzida, processo que afeta em cheio os níveis de emprego.

“Quando a Selic sobe, o custo do crédito aumenta e passa a ter atratividade maior para guardar dinheiro e tirar da economia. Isso é ruim, mas é algo esperado para diminuir inflação”, explica Rafael Ribeiro da Silva, especialista de portfólio da Bradesco Asset.

Do ponto de vista do investimento, a Selic mais alta é positiva para os chamados rentistas, que terão rendimentos maiores com dinheiro investido em uma instituição financeira. Significa dizer que, mesmo sem muito esforço e sem correr muito risco, é possível ter um bom retorno financeiro aplicando em ativos de renda fixa.

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Quando a Selic estava na casa dos 2% ao ano, menor patamar histórico, investidores precisavam buscar novos ativos, como ações, na tentativa de fazer os seus recursos renderem mais. “Fundos de renda fixa, LCI, LCA, passam a render mais com Selic elevada, porque eles são balizados pela taxa de juros”, afirma Guilherme Silva, assessor de investimentos da Dom Investimentos.

Divulgação Foto: Getty Images

Robson Casagrande, especialista em investimentos e sócio da GT Capital, explica que a Selic interfere diretamente no CDI, indexador que é muito utilizado em empréstimos e aplicações financeiras. “De forma simplificada, uma Selic alta torna os novos empréstimos mais caros e algumas aplicações de renda fixa (pós-fixados em um porcentual CDI ou Tesouro Selic) mais rentáveis. Esse movimento torna a renda fixa muito atraente até para investidores mais arrojados, fazendo com que diminuam o apetite a risco em outras classes de ativos”, comenta o analista financeiro.

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Os ativos que mais se beneficiam com a alta da taxa Selic são os de renda fixa pós-fixados, pois muitos deles estão indexados ao CDI que acompanha esse movimento de alta. Como exemplo, cita Casagrande, um CDB de 120% do CDI hoje está rendendo por volta de 16,38% ao ano. “Se a taxa Selic for para 14% ao ano, este mesmo título renderá próximo a 16,7% a.a.”, calcula.

Já os ativos que mais são afetados negativamente com alta da Selic são os de renda variável. “Um exemplo são os Fundos Imobiliários que perdem atratividade no mercado devido à facilidade do investidor em buscar rentabilidade em ativos de menor risco e com menos volatilidade. Com a Selic a 13,75%, facilmente o investidor consegue uma rentabilidade de 1% a.a. de forma mais segura. Este porcentual é muito próximo do que muitos fundos imobiliários pagam de dividendos. Por isso, muitos desses fundos estão sendo negociados abaixo do seu valor patrimonial”, afirma Casagrande.

Muitas ações também são impactadas negativamente com este cenário de juros altos. Com um custo de capital elevado, as empresas lucram menos e repassam menos dividendos para seus acionistas.

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José Faria Júnior, planejador financeiro pela Planejar, cita outros pontos negativos da Selic em alta: o encarecimento do crédito, redução do consumo, maior dificuldade de compra do imóvel devido aos juros mais altos na parcela. “E, talvez o mais importante, a Selic alta combina com crescimento do PIB baixo ou negativo, que reduz o emprego”, avalia.

“Assim, do ponto de vista do planejamento financeiro pessoal, muitos ajustes podem ser necessários, tanto do ponto de vista do endividamento (tentar pré-pagar a dívida no início do processo de alta da Selic, se esta for pós-fixada) quanto do investimento (evitar renda variável e títulos prefixados de longo prazo no início do processo de alta da Selic)”, finaliza o planejador financeiro. Raciocínio parecido pode ser feito em relação principalmente aos investimentos, em momentos de queda da mesma taxa Selic, o que não deve ocorrer no curto prazo.