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Petróleo deve chegar a US$ 90 o barril e pressionar ainda mais os preços da Petrobras

Empresa estatal tem mantido os valores da gasolina e do óleo diesel inalterados nos últimos meses

Por Denise Luna (Broadcast) e Gabriel Vasconcelos (Broadcast)

Rio - O vaivém do preço do petróleo no mercado internacional em um patamar elevado, acima dos US$ 85 o barril, deve evoluir neste segundo semestre para US$ 90 ou mesmo ultrapassar essa marca, trazendo mais tensão para os preços da Petrobras no mercado nacional, principalmente em relação ao diesel. O último reajuste, para baixo, ocorreu há 85 dias. O produto está escasso no mercado internacional, o que também tem ajudado a puxar para cima a alta do derivado.

O movimento pode ser uma pedra no caminho da Petrobras, que tem conseguido manter os preços estáveis tanto do diesel quanto da gasolina, esta última sem reajuste há 40 dias. Segundo o especialista em combustíveis da Argus, Amance Boutin, os efeitos do descolamento dos preços da Petrobras das referências de importação já têm efeito nítido no mercado de combustíveis, que reedita os tempos de carga curta de 2022.

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Os preços da estatal, que abandonou a política de preços de paridade de importação (PPI) em meados de maio e adotou uma estratégia comercial mais flexível, na qual o preço é formado cliente a cliente, fecharam as janelas de importação para o diesel e a gasolina por pequenos importadores.

Sem aumento do diesel há tantos dias, e escassez do produto no mercado internacional, a expectativa é que um reajuste seja feito em algum momento pela empresa.

Nesta terça-feira, o diretor de Logística, Comercialização e Mercados da Petrobras, Claudio Schlosser, disse em evento do setor de dutos que a nova estratégia comercial da Petrobras tem sido positiva para a companhia. Ele descartou eventuais prejuízos pelo fato de a estatal manter os preços dos combustíveis inalterados, apesar da alta do petróleo no mercado internacional.

“Nós hoje vivemos um momento muito forte de volatilidade, os preços internacionais do petróleo e do diesel tiveram um aumento, mas dentro do que entendemos da estratégia comercial é absorvido, porque no passado teríamos que fazer reajustes contínuos para acompanhar isso”, explica Schlosser.

Petrobras tem tentado evitar aumentos de preços dos combustíveis Foto: REUTERS/Ricardo Moraes

Os preços nas refinarias da Petrobras registram defasagem de 26% no diesel e de 22% na gasolina em relação ao mercado internacional. A Refinaria de Mataripe, na Bahia, controlada pela Acelen, única refinaria de grande porte privada do País, reajusta os preços semanalmente e a defasagem é de 6% e 3%, respectivamente, segundo dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom). Na semana passada, a Acelen elevou o preço do diesel em cerca de 8%.

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Com menos produto no mercado e ameaça de escassez pontual nos próximos meses, os agentes já têm começado a comprar diesel nos portos a preços até R$ 0,90 mais caro por litro que o vendido pela estatal. De acordo com o analista da Argus, com a escalada das cotações internacionais do Brent e do diesel russo, que vinha irrigando as importações brasileiras, teve uma interrupção na semana passada.

“Os preços ultrapassaram o teto permitido para os produtos russos (petróleo e diesel russo) e a cadeia, com seus transportadores e seguradoras, parou de fechar negócios pelo menos na última semana para não sofrer retaliações”, diz Amance.

O diesel russo não é embargado, mas tem um preço limite (US$ 100 por barril) que, se for desrespeitado, leva à punição de empresas envolvidas pelo establishment ocidental. Nesse cenário, os importadores brasileiros tiveram de voltar aos tradicionais fornecedores do Golfo, o que fez a distância para os preços da Petrobras aumentar ainda mais.

De acordo com distribuidoras ouvidas pelo Broadcast, o fornecimento de diesel já está restrito em alguns mercados.

Estresse

Para o especialista, não há risco de desabastecimento generalizado, mas o mercado brasileiro tende a continuar sob estresse com a alta das referências internacionais de preço.

Jean Paul Prates, presidente da Petrobras Foto: PEDRO KIRILOS

“Os cortes da Opep e a melhora da economia dos Estados Unidos foram determinantes para essa subida de preços. A demanda chinesa continua abaixo do esperado e, se crescer de forma significativa nesse segundo semestre, vai colocar mais um ingrediente para a alta dos preços”, diz. “No mercado físico, há um cenário sazonal de oferta (de derivados) mais baixa na Europa, mais apertado do que se imaginava meses atrás. Os preços subiram muito e o curto prazo é nebuloso, ainda mais com o teto (de preços) para a Rússia restringindo ainda mais a oferta”, completou.

Também o consultor de gerenciamento de risco da Stonex, Thiago Vetter, afirma que os cortes de produção anunciados por membros do grupo OPEP +, principalmente Arábia Saudita e Rússia, mantém o mercado em expectativa de déficit de suprimento para os próximos meses.

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“Enquanto isso, o mercado busca precificar o lado da demanda, que no momento está incerta. mas tendendo ao otimismo, na medida em que os EUA podem ter chegado ao fim do movimento de aumento de taxas de juros e a China anuncia medidas para incentivar sua economia, cuja recuperação pós-covid tem sido aquém do projetado”, explica Vetter.

Para ele, o petróleo tipo Brent vai oscilar na faixa de US$ 85 a US$ 90 dólares por barril durante o segundo semestre, mas que é possível que chegue a romper os 90 dólares em algum momento.

“Esta instabilidade se dá em função de novos dados a respeito de perspectiva de oferta e demanda, e são normais neste tipo de preço de commodity cotado em bolsa”, avalia o analista da Stonex.

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