Publicidade

‘Política fiscal está menos coordenada com a monetária’, diz Campos Neto

Presidente do Banco Central ainda comenta cenário de juros nos Estados Unidos e impactos no Brasil

Foto do author Cicero Cotrim
Por Marianna Gualter (Broadcast) e Cicero Cotrim (Broadcast)

A política fiscal está ficando cada vez menos coordenada com a política monetária, disse o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, nesta segunda-feira, 15. Para Campos Neto, se as pessoas perderem a confiança na âncora fiscal, a âncora monetária será afetada.

PUBLICIDADE

O presidente do BC ponderou que a autarquia tenta não comentar sobre a política fiscal tanto quanto possível, mas frisou que, se há perda de credibilidade ou transparência no fiscal, há aumento de custos da política monetária.

“Dito isso, o mercado tinha um número muito pior para o fiscal do que a nova meta realmente adotada”, salientou Campos Neto, em referência à alteração promovida pelo governo na meta fiscal de 2025.

O presidente do BC ressaltou a importância de tentar não alterar as metas e fazer o máximo de esforço para garantir que elas sejam cumpridas. Ele afirmou, no entanto, que se por alguma razão for necessário fazer uma mudança, é importante que ela seja bem comunicada, a fim de que a confiança na âncora fiscal não seja perdida.

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central Foto: ALEX SILVA / ESTADÃO

Campos Neto relembrou que no início da pandemia era bem mais fácil coordenar as variáveis, diferente da saída. “Não há nada mais permanente do que um programa temporário de despesas”, disse em referência a uma citação do economista Milton Friedman. “Você vê isso em muitos lugares diferentes e acho que se tornará um problema.”

O debate sobre a dívida global deve se tornar a próxima grande questão, disse Campos Neto, que citou que o custo de rolagem das dívidas soberanas dos Estados Unidos, da Europa e do Japão - que representam boa parte da dívida total global - era de 1% e está chegando próximo de 3%.

“O fato de (os Estados Unidos) estarem adiando o ciclo (de juros), mas também terem uma taxa terminal mais alta vai fazer as pessoas falarem sobre isso”, pontuou. Campos Neto ressaltou que as expectativas sobre a taxa terminal de juros nos Estados Unidos têm efeito na taxa terminal de vários países, o que implica em uma relação, até certo ponto, das taxas no mundo.

Publicidade

O banqueiro central relembrou que havia uma expectativa de início dos cortes do Federal Reserve (Fed) em março e que a “decepção” com esse prazo acarretou em uma mudança de janela. “Mais recentemente, os dados também decepcionaram, então as pessoas não apenas mudaram a janela, mas houve também um efeito sobre a taxa terminal.”

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.