Publicidade

'Quem decide sobre 5G sou eu', diz Bolsonaro sobre disputa entre EUA e China por tecnologia

Presidente disse conversar com especialistas e autoridades do Brasil e dos EUA para escolher a empresa mais qualificada para fornecer a tecnologia; governo americano quer chinesa Huawei longe do País

Foto do author Julia Lindner
Por Julia Lindner , Daniel Galvão e Nicholas Shores
Atualização:

BRASÍLIA e SÃO PAULO - O presidente Jair Bolsonaro afirmou, na noite desta quinta-feira, 3, que é ele quem vai decidir sobre o fornecimento da tecnologia para o 5G no Brasil. Bolsonaro disse que conversa com diversas autoridades sobre o tema, entre elas integrantes do governo americano. "Vou deixar bem claro, que vai decidir 5G sou eu. Não é terceiro, ninguém dando palpite por aí, não. Eu vou decidir o 5G", disse Bolsonaro durante transmissão semanal nas redes sociais.

Segundo Bolsonaro, o Brasil é "uma potência" e precisa ter "um sistema de inteligência robusto para poder trabalhar ali na frente". Ele também afirmou que não vai decidir sozinho sobre o assunto e que consulta ministros do governo e até integrantes do governo americano sobre o tema. O leilão do 5G no Brasil, previsto para o ano que vem, é palco de disputa tecnológica entre Estados Unidos e China

Brasil é uma 'potência' e precisa de 'um sistema de inteligência robusto', disse Bolsonaro. Foto: Valdenio Vieira/PR

PUBLICIDADE

A tecnologia 5G é a quinta geração das redes de comunicação móveis. Ela promete velocidades até 20 vezes superiores ao 4G. Em ambiente controlado, as redes 5G podem ter velocidades de até 1 gigabit por segundo (Gbps). Assim, permite um consumo maior de vídeos, jogos e ambientes em realidade virtual. Além disso, promete reduzir para menos da metade a latência, tempo entre dar um comando em um site ou app e a sua execução – dos atuais 10 milissegundos para 4 ms. Em algumas situações, a latência poderá ser de 1 ms, importante, por exemplo, para o desenvolvimento de carros autônomos.

"Não é da minha cabeça apenas. Eu converso com o general Augusto Heleno, do GSI (Gabinete de Segurança Institucional). Converso com o (Alexandre) Ramagem, chefe da Abin. Converso com o Rolando Alexandre, que é diretor-geral da Polícia Federal. E com mais inteligências do Brasil, com gente mais experiente. Converso com o governo americano. Converso com várias entidades, países, o que temos de prós e contras", declarou.

Em agosto, o subsecretário de Crescimento Econômico, Energia e Meio Ambiente do Departamento de Estado americano, Keith Krach, afirmou que o plano do governo americano batizado de "Clean Network" (em português, redes limpas), que deixa a chinesa Huawei de fora da estrutura de redes de tecnologia 5G "não estará completo sem o Brasil".

Ao Estadão, Krach disse que os EUA estão "prontos para ajudar de qualquer forma para garantir uma tecnologia 5G aberta, inovadora e confiável" no Brasil. "Temos tido conversas com o governo brasileiro e acho que estão indo muito bem. Esperamos que nossos parceiros brasileiros se juntem a nós na Clean Network, que não estará completa sem o Brasil. É o país mais poderoso da América Latina e tem sido um grande amigo dos EUA", afirmou.

Preços

Publicidade

A pressão crescente do governo americano para restringir a presença da chinesa Huawei no mercado de telecomunicações, no entanto, preocupa as operadoras que atuam no Brasil, que veem risco de concentração no fornecimento de equipamentos, aumento de preços e limitação de tecnologia.

Como mostrou o Estadão, as operadoras consideram que, sem a companhia chinesa, o mercado brasileiro pode ficar com apenas dois grandes fabricantes de equipamentos – a sueca Ericsson e a finlandesa Nokia. Na prática, isso se traduziria em menor competição e alta nos custos de operação, que seriam repassados aos consumidores, dizem as teles.

Hoje, os produtos da Huawei são vistos pelas operadoras como baratos e de boa qualidade, revertendo a imagem negativa de 20 anos atrás, quando a fabricante desembarcou no Brasil com itens que deixavam a desejar.

Atualmente, a Huawei tem contratos com Vivo, TIM, Claro e Oi. Sua participação no mercado gira em torno de 40% a 50% se considerados apenas os equipamentos para a rede 4G, segundo empresários. E boa parte destes equipamentos já em operação serão aproveitados pelas teles para a implantação do 5G prevista para começar no ano que vem.