Não deixa de ser uma boa notícia mas as mulheres ainda estão longe do topo empresarial. Bem longe. O último levantamento da Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostra que apenas algo entre 5% e 10% das empresas brasileiras têm mulheres no primeiro escalão, mesmo patamar de China, Itália, México e Espanha. Na Finlândia, Noruega, Reuno Unido e Suécia esse índice sobe para 20%.
As CEOs ouvidas para esta reportagem dizem que não há um único caminho das pedras para chegar lá, mas elas têm uma particularidade em comum: começaram na base da pirâmide corporativa, circularam por várias áreas dentro das empresas e, garantem elas, não se preocuparam muito com a questão de gênero - embora não neguem que ela faz diferença, sim. "Em mais de uma ocasião tive meu estilo de comando questionado, especialmente por homens cujo estilo é o de terra arrasada", lembra Fiamma Zarife, CEO do Twitter. No final das contas, diz ela, o que importa é entregar o resultado. "E eu sempre entreguei". Trinta porcento da força de trabalho do Twitter no mundo é formado por mulheres e, segundo Fiamma, essa proporção é um pouco maior no Brasil.
Resultado e relevância - Foi a capacidade de recuperar uma empresa em dificuldade que levou Denise Santos, ao comando da centenária BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo. Depois de 18 anos de Siemens, a engenheira foi contratada para reestruturar a rede de hospitais São Luis. Os resultados foram tão relevantes que, depois de cumprir o acordo de não concorrência, Denise foi parar na BP para novo processo de reestruturação. "Tive mais dificuldade por começar muito jovem do que por ser mulher", diz a executiva que se diz atenta às questões da diversidade e inclusão. "Minha escolha pessoal é quanto mais diferenças a gente tiver dentro da equipe, mais diversificadas serão as possibilidades de solução para nossos problemas", diz a executiva que comanda um exército de 7,5 mil funcionários, dos quais, 70% do sexo feminino. "Adoraria não ter mais que tratar da questão de gênero, mas ainda estamos longe desta realidade".
Compromisso por escrito - Érica Takeda, CEO da alemã Brenntag, passou 26 anos de sua trajetória na Dow Química onde começou como estagiária. Em 2015 foi a primeira mulher a ocupar a diretoria de produtos da empresa. "Você acaba se cobrando bastante mas a recompensa vem quando o resultado vem." Para Érica, o mais importante que as lideranças têm a fazer é não tomar decisões no lugar do funcionário. Ele, ou ela é quem deve dizer se é um bom momento assumir novo desafio. "Não parta de nenhum pressuposto. Deixe que o funcionário ou funcionária decida qual é o melhor momento. Digo isso porque em algumas ocasiões, percebi que meu líder queria me proteger ou não queria me expor."
A executiva diz que está atenta às questões de inclusão lembrando que dos cinco principais executivos de seu time, três são mulheres e que é uma das signatárias do Princípios de Empoderamento das Mulheres (WEPs, da sigla em inglês), iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) de promoção da igualdade entre homens e mulheres no local de trabalho e na sociedade. Cento e cinquenta companhias brasileiras assinam o compromisso.
Pauta para o futuro - Antes de aportar na Puratos, empresa belga que produz insumos para panificação confeitaria e chocolates, Simone Torres Soares, fez uma longa carreira internacional e isso a fez identificar diferenças culturais entre países e estilos de lideranças. Hoje, diz ela, sua principal preocupação é garantir um bom ambiente de trabalho a seus funcionários. "Nunca estive em ambientes tóxicos mas isso não quer dizer que eles não existam", conclui ela que, ao lado de Fiamma do Twitter, Denise, da BP e Érica da Brenntag, faz parte do CEO por Um Dia, programa internacional da Odgers Berndtson.
No Brasil o programa é realizado em parceria com o jornal O Estado de S. Paulo, a PDA International, Machado Meyer Advogados e Centro de Carreiras da FGV Eaesp.
Voltado para o público universitário que esteja prestes a concluir o curso, o programa CEO Por Um Dia vai selecionar 23 estudantes para acompanhar o dia do comandante das empresas participantes. As inscrições vão até o próximo dia 29 e podem ser realizadas no hotsite especialmente criado para o CEO por Um Dia (www.ceox1dia.com.br).
"Vamos ter uma agenda normal para que o ou a estudante tenha contato com a nossa realidade, que não é fácil mas que é prazerosa quando se faz o que gosta", afirma Simone.
Fiamma, do Twitter, afirma que além de manter a agenda corrida do dia a dia, abre espaço para participar de eventos relacionados à pauta feminina. "Embora minha realidade seja diferente do que acontece lá fora, o mundo corporativo tende a ser inóspito e, às vezes, muito hostil. O que me anima é que a questão de gênero não está na pauta da minha filha de 13 anos. Isso é um bom sinal", completa ela. "O ideal será não ter de debater este tema porque será algo natural. Mas até lá, é preciso promover o detate", afirma Denise Santos, da BP.