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Opinião|Universidades de empresas como Petrobras e Pão de Açúcar se destacam e ganham prêmios no exterior

A educação corporativa brasileira tem nível de qualidade internacional, defende a especialista Marisa Eboli no artigo abaixo

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Por Redação
Atualização:

O assunto não é novo, mas algumas dúvidas sempre aparecem. As universidades corporativas vieram para substituir as universidades tradicionais? A resposta é negativa, por mais de uma razão.

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Inicialmente, uma tecnicalidade. As universidades tradicionais operam sob um marco jurídico estabelecido e seus diplomas têm validade legal. Nas corporativas, o nome “universidade” é fantasia e, embora algumas emitam diplomas, precisam de uma instituição de ensino superior para garantir legalidade.

Ao contrário de ser uma desvantagem, eleva a barra da eficácia, pois os certificados emitidos além do aspecto legal têm valor no mercado, pela sua utilidade no mundo real e não apenas pelo amparo da lei. Antes de tudo, são um complemento aos sistemas educativos. De resto, têm parcerias com as universidades tradicionais.

Surgiram para suprir lacunas do sistema formal de educação? Não propriamente, tanto que o conceito surgiu nos Estados Unidos que não possuem as mesmas mazelas do nosso ensino formal. Ainda assim, várias delas no Brasil possuem ações para corrigir fraquezas do sistema formal de educação. Porém, sua missão mais importante é atender às necessidades próprias de cada empresa, oferecendo formação em nichos bem específicos do conhecimento da organização.

A educação formal e a corporativa correspondem a duas abordagens distintas de aprendizado. A educação formal tem como objetivo principal a formação acadêmica dos estudantes. Já a educação corporativa é voltada para o desenvolvimento suplementar, requerido pela organização. Seu objetivo é capacitar seus colaboradores, e por vezes seus stakeholders, desenvolvendo as competências essenciais para desempenhar suas funções de maneira competitiva. Sempre alinhadas às estratégias de negócio, é claro.

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Mas, no caso do Brasil, há uma diferença gigantesca. Do lado do ensino formal, temos uma enorme fragilidade. Segundo o último relatório Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), dentre os setenta países que participam do programa, o Brasil tem ficado sistematicamente nas últimas colocações. Lamentavelmente, os brasileiros terminam o ensino médio com quatro anos de atraso acadêmico, se comparados aos europeus.

Em contraste, não existe esse hiato de qualidade ao compararmos a educação corporativa das empresas atuantes no Brasil com suas similares no exterior. De fato, faz boa figura no cenário internacional, sendo motivo para nos orgulharmos.

Neste texto, será abordado de forma sintética o desempenho da educação corporativa ou universidades corporativas (entendidos aqui como conceitos iguais) no Brasil e no mundo, levando em consideração algumas pesquisas relevantes, premiações internacionais e relatando um case de muito sucesso: a Universidade Petrobras.

No ranking realizado pelo LinkedIn sobre as Top Companies de 2022, que classifica as 25 melhores empresas para desenvolvimento de carreira no Brasil, o Itaú Unibanco ficou em primeiro lugar, seguido pelo Bradesco. Mercedes-Benz, SAP e Banco Santander também estão entre as primeiras colocadas. Segundo a plataforma, as companhias que entraram na lista têm oferecido estabilidade “mesmo em um mundo de trabalho em constante evolução, conseguindo não apenas atrair, mas reter seus funcionários”. E a educação corporativa tem tido um papel importante para tal.

Na edição de 2022 do prêmio “Lugares Incríveis Para Trabalhar”, iniciativa da FIA Business School e do UOL, que reconhece as empresas com as melhores práticas de gestão de pessoas do país, também se observou a predominância de empresas que possuem sólidos sistemas de Educação Corporativa. Destacaram-se: Bradesco, Bunge, Itaú Unibanco, Nestlé, Sabin, Samarco, Siemens, Unimed e Vivo, dentre outras.

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A Petrobras é uma das empresas brasileiras que têm universidade corporativa premiada no exterior Foto: Sergio Moraes / Reuters

No cenário internacional, as empresas do Brasil com educação corporativa também têm brilhado. Citamos apenas duas das premiações mais cobiçadas na área de treinamento, desenvolvimento e educação no mundo:

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  • ATD Best Award 2023, oferecido pela The Association for Talent Development que é a maior associação mundial dedicada aos que desenvolvem talentos nas organizações. A Petrobras foi a única empresa brasileira dentre as vencedoras.
  • O Global CCU Awards 2023 (Global Council of Corporate Universities) premiou 21 Universidades Corporativas que atuaram no mais alto nível de excelência, criando valor para pessoas, negócios e sociedade. Além de grandes empresas da Alemanha, Espanha, França, India, Indonésia, Jamaica, Turquia e Ucrânia, muitas empresas do Brasil estavam dentre as finalistas. Na categoria principal “Best Overall Corporate University”, duas empresas brasileiras foram as vencedoras: Petrobras (ouro) e Caixa Econômica Federal (prata). Na categoria “Social and Climate Change Impact”, Ernest Young (do Brasil) levou o troféu de prata. Banco do Brasil ganhou ouro no quesito “Technology for Impact”. E a GPA – Companhia Brasileira de Distribuição ficou com bronze em “Branding and Durability”.

Em edições anteriores também já obtiveram troféu na categoria “Best Overall Corporate University”: Banco do Brasil, UniBB (2015); Banco Bradesco, UniBrad (2017), Caixa Econômica Federal, (2021). Em anos anteriores foram premiadas em diversas categorias as Universidades Corporativas: Banco Central do Brasil, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Ernest Young (Brasil), FCA - Fiat Chrysler (Brasil), McDonald’s (Brasil), Santander e Vale.

Em resumo, a educação formal e a educação corporativa desempenham papéis distintos na formação das pessoas. Ambas são importantes e complementares. São investimentos cruciais para o desenvolvimento social e econômico de um país. No caso do Brasil, a educação corporativa oferece muitas lições para a nossa educação formal.

O caso da Universidade Petrobras

A Petrobras é uma das maiores produtoras de petróleo e gás do mundo, atuando principalmente na exploração e produção, refino, geração e comercialização de energia. A Petrobras é uma das empresas mais inovadoras do Brasil, sendo a empresa brasileira que mais registrou pedidos de patentes em 2021. No ano de 2022 tinha um total de 1067 patentes ativas.

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A Universidade Petrobras (UP) foi criada em 2005. Atualmente, atua em rede com quatorze “Academias UP”: Gerenciamento de Projetos; Exploração; Financeira; Logística; Operações e Sistemas de Superfície; Poços; Refino e Gás Natural; Reservatório, Elevação e Escoamento; Segurança, Meio Ambiente e Saúde; Sistemas Submarinos; Suprimentos; Transformação Digital e Inovação; Liderança e Competências; e Disseminação da Cultura de Integridade.

Oferece mais de 20 mil soluções educacionais no portfólio, o que viabilizou a realização de 59 horas de treinamento por empregado no ano de 2022. Isso é 73% superior à média das empresas de grande porte em todo mundo (34 horas). São mais de 200 empregados atuando nos processos de treinamento e desenvolvimento, para atender aos mais de 38 mil empregados da companhia. Orçamento anual de T&D equivalente a US$1.233 por empregado, sendo um valor bem superior à média das empresas de grande porte no mundo (US$739).

A UP vem criando soluções, programas e ações internas que contribuíram inclusive para a transformação cultural da Petrobras nos últimos anos. Os principais são:

  • Realização de congressos e eventos utilizando plataformas imersivas
  • Salas de Aula Flex
  • Robô de Telepresença
  • Serviços de Autoria Digital
  • Cabines de Aprendizagem
  • Implantação do Laboratório de Experiências de Aprendizagem com Metodologias Disruptivas (Expamd Lab) em 2022

A Universidade Petrobras trabalha com o conceito de lifelong and lifewide learning, ou seja, entende que o aprendizado não tem data para acabar e acontece em qualquer lugar.

“O mundo do trabalho continua evoluindo, e o contexto empresarial está passando por uma rápida transformação com novas tecnologias e a transição energética global, exigindo colaboração e inovação ainda mais amplas de nossos colaboradores. Desta forma, ter uma universidade corporativa capaz de se adaptar e evoluir de forma ágil tem sido fundamental para suportar a empresa neste contexto”, declara Danilo Garbazza, Gestor da Universidade Petrobras.

Para os interessados no assunto, os cases das Universidades Corporativas do Bradesco, do Grupo Pão de Açúcar, do McDonalds e da Petrobras são alguns dos que compõem a parte IV - “Educação Corporativa na Prática: Dez Casos Nota Dez”, do livro “Educação Corporativa no cenário pós-pandemia”, que está no prelo e em breve (previsão de 25/6) estará à venda no site da Editora Qualitymark.

*Marisa Eboli é doutora em administração pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP e especialista em educação corporativa. É professora do mestrado profissional e coordenadora da pós-graduação em gestão da educação corporativa, na FIA Business School. (meboli@usp.br)

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