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Economista, doutor pela Universidade Harvard e professor da PUC-Rio, Rogério Werneck escreve quinzenalmente

Opinião|Governo insiste em discurso econômico arcaico e torto, que continua a amplificar incertezas

Planalto parece não ter a menor ideia de quão danosa, para a percepção de risco de investimento no País, vem sendo sua ingerência na Vale; e agora também na Petrobras

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Há boas razões para festejar o crescimento de 2,9% da economia no ano passado. Mas tal desempenho encerra uma fragilidade preocupante. O investimento agregado – a formação bruta de capital fixo – desabou 3% em 2023. O País investiu só 16,5% do PIB no ano passado.

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O governo deveria estar empenhado em reverter essa queda do investimento e transformar a formação de capital no motor da expansão da economia. Não é o que se tem visto. O Planalto não consegue deixar de insistir num discurso econômico arcaico e torto, que continua a amplificar as incertezas que já cercam decisões de investimento no Brasil.

Tem recebido menos atenção do que merece a entrevista concedida pelo presidente Lula da Silva à Rede TV, em 27/2, disponível na internet. No trecho relevante para o que aqui se argui, já nos 12 minutos finais, o presidente é instado a avaliar a relação do governo com a Vale.

Lula não deixa margem a dúvidas sobre sua profunda irritação com a empresa. E termina por externar a essência do que lhe irrita. “O que nós queremos é o seguinte: as empresas brasileiras precisam estar de acordo com aquilo que é o pensamento de desenvolvimento do governo brasileiro”.

Governo tomou decisão de não pagar dividendos extraordinários a acionistas da Petrobras em 2024 Foto: Pedro Kirilos / Estadão Conteúdo

Lula rememorou sua indignação, em 2011, já no governo Dilma Rousseff, com a decisão da Vale de importar da China grandes navios graneleiros, de 400 mil toneladas, quando “a gente estava tentando reconstruir a indústria naval brasileira”. A empresa era então presidida por Roger Agnelli. “Tiramos ele”, bravateou Lula.

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É difícil que qualquer empresário não se horrorize com o pesadelo por que teria passado, ao longo dos últimos 13 anos, caso tivesse sido obrigado a gerir sua empresa “de acordo com o pensamento de desenvolvimento do governo brasileiro”.

O governo já não tem a posição acionária que tinha, em 2011, quando exigiu que Roger Agnelli fosse “tirado”. O que lhe resta é recorrer a uma participação de 8,7% das ações detida pela Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil.

Não chega a ser uma posição acionária que, por si só, lhe permita tumultuar a governança da empresa, a menos, claro, que o Planalto se disponha a recorrer a todos os meios a seu alcance para, como em 2011, fazer valer seu peso junto a acionistas privados mais suscetíveis às suas pressões.

O governo parece não ter a menor ideia de quão danosa, para a percepção de risco de investimento no País, vem sendo sua ingerência na Vale. E agora também na Petrobras, que passou a ser gerida do Palácio do Planalto. Outro capítulo deplorável da mesma história.

Opinião por Rogério Werneck

Economista, doutor pela Universidade Harvard, é professor titular do departamento de Economia da PUC-Rio

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