Os EUA pagam US$ 147 milhões ao ano aos nossos cotonicultores para compensar os prejuízos provocados pelo apoio ilegal que concedem aos seus produtores. Esse fundo é o pilar de um acordo selado entre Brasil e EUA, que postergou até 2012 retaliações milionárias contra produtos americanos. A Organização Mundial de Comércio (OMC) autorizou o governo brasileiro a elevar as tarifas de importação dos produtos americanos e até a quebrar patentes de medicamentos, filmes e outros produtos.
O Brasil contestou os subsídios americanos aos produtores de algodão nos tribuinais da OMC. Venceu o processo, mas até agora não levou o prêmio para casa, que é o fim do apoio ilegal. A disputa é uma das mais emblemáticas da história do comércio mundial, porque comoveu a opinião pública americana e escancarou o quanto os subsídios dos países ricos prejudicam os agricultores das nações em desenvolvimento.
A iniciativa de Kind é uma má notícia para os produtores brasileiros de algodão, que contam com uma pequena fortuna para pesquisas e outros projetos de inovação. Mas é uma boa notícia para o sistema multilateral de comércio. Se o Congresso americano derrubar o fundo, o acordo cai por terra e o Brasil será obrigado a voltar a discutir a retaliação.
Retaliar não interessa a ninguém, porque prejudica os exportadores americanos e os consumidores brasileiros. O importante é a pressão que pode levar os EUA a efetivamente acabarem com seus subsídios. Pedro de Camargo Neto, mentor do processo do algodão, estava certo quando dizia que o fundo funcionaria como um "holofote", deixando evidente os prejuízos causados pelos subsídios agrícolas. Em tempos de crise, dói no bolso dos americanos comuns pagar US$ 147 milhões aos brasileiros, além de tudo que já pagam para seus próprios agricultores.
As autoridades brasileiras não admitem em público, mas há um certo contentamento com a emenda Kind. Se a emenda for aprovada, será uma "saia justa" para o presidente Barack Obama, que chega ao País em março. Nada melhor para trazer os subsídios do algodão ao topo da agenda entre os dois países.
p.s: No último sábado, 19 de fevereiro, saiu a contagem final e, com 246 votos contra e 183 a favor, os deputados americanos derrubaram a proposta do colega Ron Kind e mantiveram os pagamentos aos agricultores brasileiros. Lobbys de indústrias preocupadas com a retaliação do Brasil convenceram os deputados que o risco não valia a pena. Pelo jeito, o Congresso americano acredita que, sim, os EUA devem subsidiar os cotonicultores brasileiros. Tudo isso para manter os subsídios aos seus próprios agricultores...