Uma tradicional família paulistana, que sempre morou na capital, resolve abandonar o edifício onde os filhos cresceram e passar a viver em um condomínio de casas, a poucas horas de São Paulo. E qual será o tipo de imóvel escolhido? Apesar de o caso descrito ser ficcional – mesmo muita gente tendo feito isso nos últimos anos –, a resposta para o cliente é baseada em informações colhidas pelos profissionais do mercado imobiliário, que vão ajudar o consumidor a escolher a melhor opção. E isso tem mudado.
“Entre os nossos modelos mais acessados, de longe, e surpreendentemente, estão os de lotes em condomínios ocupados por casas grandes e térreas. Ou seja, as pessoas querem um apartamento um pouco maior. Não querem ter muito trabalho. O design tem ficado mais minimalista e mais enxuto. Muito do fluxo urbano está migrando para áreas maiores”, afirmou Murillo Morale, da Griffon, startup especializada em encontrar um lote dentro das especificações do cliente, ajudar na obtenção de um financiamento e, inclusive, fazer a construção da casa.
Segundo o executivo, outra preferência em alta é pela construção de espaços de home offices duplos, voltados para o exterior da residência.
“A casa de três suítes praticamente desapareceu para se transformar em casas de quatro ou cinco suítes. Sendo que uma ou duas delas estão de frente para a área de lazer para a pessoa poder trabalhar em um espaço agradável, de frente para os seus filhos ali junto da piscina. Em 70% das vezes, nossos clientes apontam isso tudo como uma necessidade”, explicou.
De acordo com Morale, e dentro de uma perspectiva que acaba por favorecer o seu negócio, esse comportamento do consumidor mostra o motivo de o número de lotes e de lançamentos de loteamentos ter crescido, assim como as vendas. “As casas disponíveis no mercado secundário não possuem essas características. Por isso, além da busca haverá a necessidade de muita adaptação para os espaços ficarem adequados ao gosto da família. O que favorece o mercado primário”, disse o empreendedor. “Claro que a parte da construção em si, a gente espera resolver”, afirmou Morale.
Vizinhança
O fato de nem todo mundo querer fugir do cenário urbano, não significa que alguns produtos bem específicos do mercado imobiliário não estejam também ganhando algum ressignificado. Ou até regiões inteiras de uma mesma cidade.
“Existe um case interessante nos Estados Unidos, de startups já voltadas para a construção de vizinhanças. O que mostra que o entorno, o compartilhamento das coisas, vai ganhar muita importância. São empresas que estão focadas na construção de bairros planejados, mas que envolve também, por exemplo, o uso maciço da tecnologia para se ter experiências integradas. A pessoa que mora no bairro tem dentro de um aplicativo acesso a todos os prestadores de serviço daquele mesmo bairro”, explicou Marcus Anselmo, cofundador da Terracotta Ventures, especializada em formatar investimentos em startups no setor imobiliário.
Garden
As unidades garden – apartamento térreos com quintais, piscinas, jardins e até aparelhos específicos de lazer – também estão em alta, segundo Marcelo Dadian, vice-presidente de Novos Negócios da ZAP Imóveis. Nos prédios mais novos de alguns anos para cá, ficou comum a unidade do primeiro andar, sempre desvalorizada, ter um terraço no lugar da varanda gourmet, normalmente, com mais espaço. Mas como ele fica embaixo do prédio, na direção da janela de muitas unidades dos andares mais altos, o risco de o terraço virar, sem querer, uma espécie de lixeira ou de cinzeiro de outros moradores não é desprezível.
“Antes havia esse folclore voltado para a história do cinzeiro, mas hoje são unidades que se valorizaram porque elas trazem muitas vezes jardim e, por isso, mais conforto. Além disso, outro mercado que cresceu demais é o dos pets. E, nesse tipo de apartamento, você pode deixar o pet dentro dele”, explica Dadian. “Essa é uma mudança de comportamento que gerou aumento da procura e valorização dessas unidades”, disse.
Êxodo
Estudos feitos pela ZAP Imóveis, segundo Marcelo Dadian, vice-presidente de Novos Negócios da empresa, mostram que a movimentação das pessoas para outros centros urbanos, além de ser algo que veio para ficar, está também transformando alguns destinos.
“Existem impactos, por exemplo, em Ilhabela. Muita gente mudou para lá e o que ocorreu? A cidade se preparou, colocou uma internet superforte, colocou mais serviços. Enfim, se preparou para os tais alunos digitais”, diz o executivo da ZAP Imóveis.
Segundo Dadian, são processos que tendem a continuar, desde que consigam ter algum lastro.
“As pessoas mudaram para ter mais qualidade de vida, mas o lado real da vida continua. Tem de trabalhar, tem de entregar resultados, o que significa acesso a tecnologia para poder estar sempre presente.”
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