O que são e como vão funcionar os títulos verdes emitidos pelo governo

Governo federal anunciou a primeira emissão do título com selo de boas práticas ESG

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Por Jessica Brasil Skroch
4 min de leitura

O governo brasileiro anunciou nesta segunda-feira, 13, a primeira emissão de títulos verdes do Tesouro Nacional, com o selo de boas práticas nas áreas ambiental, social e de governança (ESG, na sigla em inglês). O novo título sustentável será emitido em dólares no mercado internacional com prazo de sete anos, com vencimento em 2031. Veja, abaixo, o que são e como funcionam títulos verdes.

O que são títulos verdes?

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Também conhecidos como “green bonds”, títulos verdes são emitidos por governos, instituições financeiras ou empresas para financiar projetos ou atividades que tenham benefícios ambientais e sustentáveis.

Os títulos verdes permitem ao governo pedir dinheiro emprestado a investidores, prometendo devolver esse dinheiro com juros em um prazo determinado. Os recursos devem ser destinados exclusivamente a projetos sustentáveis, como transição energética, transporte sustentável etc.

Dessa forma, estes títulos oferecem aos investidores uma oportunidade de aplicar seus recursos em iniciativas que promovam a sustentabilidade, enquanto proporcionam ao emissor - nesse caso, o governo brasileiro - uma fonte de financiamento para projetos públicos da agenda ambiental.

O que diferencia os “green bonds” de outros títulos?

O título verde se distingue justamente no propósito para o qual os recursos são destinados: ele possui uma estrutura que estabelece os tipos de projetos que serão financiados com a suas vendas. Por isso, é importante que títulos sustentáveis ofereçam transparência, para que os investidores saibam exatamente como os recursos serão alocados.

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Os títulos tradicionais do governo não possuem esses critérios sustentáveis, podendo usar os valores arrecadados para outras necessidades públicas.

Como vai funcionar?

O governo lançou, no início de setembro, um documento chamado Arcabouço Brasileiro Para Títulos Soberanos Sustentáveis. É por meio deste documento que o Brasil se compromete com os potenciais compradores dos títulos da dívida externa do País em fazer políticas sustentáveis.

O documento lista despesas que poderão ser feitas com o dinheiro arrecadado, como produção de energia renovável, controle do desmatamento da Amazônia e Cerrado, investimento em saneamento etc. O arcabouço destaca projetos específicos como o Bolsa Verde (pagamento a famílias que fazem a conservação de recursos naturais no meio rural pela prestação de serviços ambientais), o Bolsa Família e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).

Os projetos apresentados em cada emissão de título têm duração de 24 meses, mas serão acompanhados até o fim do prazo de vencimento do papel por meio de relatórios de execução e de impacto.

Despesas que poderão ser feitas com o dinheiro arrecadado incluem produção de energia renovável e controle de desmatamento, por exemplo. Na foto, desmatamento do Cerrado, na Bahia. Foto: FLORENCE GOISNARD / AFP

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Segundo o Tesouro Nacional, a primeira emissão de títulos soberanos sustentáveis do Brasil no mercado internacional destinará de 50% a 60% dos recursos a projetos de meio ambiente, enquanto projetos sociais devem ficar com os 40% a 50% restantes.

O que o lançamento dos títulos verdes significa para o Brasil?

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse em setembro que a emissão de dívida externa sustentável do Brasil vai ajudar o País a atrair mais dinheiro de investidores estrangeiros.

Para André Alírio, responsável pela Distribuição de Fundos e Renda Fixa na Nova Futura Investimentos, ainda não é possível dizer se os títulos verdes serão o principal caminho para financiar projetos ambientais e sociais do governo federal. “É um processo. O perfil do investidor está mudando e a necessidade de ter ativos que tenham algum benefício socioambiental está crescendo. Porém, ainda não é o principal mote dos portfólios”, afirma.

Ainda que tardia em relação a outros países, como Chile, Colômbia e México, a emissão desse tipo de título é um marco para o Brasil, afirma Daniel Leal, que atuou na coordenação geral de operações da Dívida Pública no Tesouro Nacional e é atualmente estrategista de renda fixa na BGC Liquidez.

Leal diz que o lançamento causa impacto na visão sobre como o País lida com as questões climáticas, “apresentando o protagonismo do Brasil nessa discussão”. Segundo ele, a emissão pode guiar precedentes positivos para que o mercado privado olhe para o Tesouro Nacional como referência./Com colaboração de Adriana Fernandes.

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