BRASÍLIA - Um dos principais indexadores da economia brasileira, criado em 1991 junto com o Plano Collor 2, a Taxa Referencial (TR) deixou de existir. Pelo menos, extraoficialmente. Embora o Banco Central continue calculando diariamente o indicador, utilizado principalmente na correção da caderneta de poupança, das prestações da casa própria e dos saldos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), o resultado dessa conta segue sendo zero há cinco meses.
A TR é calculada com base na taxa média dos CDBs prefixados, de 30 dias a 35 dias, oferecidos pelos 30 maiores bancos. Para se chegar ao número final, é utilizado ainda um redutor que torna a correção menor, compatível com os juros dos empréstimos para habitação.
Há dez anos, a TR rendia mais de 4,5% ao ano. Há algum tempo, no entanto, a queda dos juros já havia reduzido o peso desse indicador, que foi criado para ser a principal taxa de referência da economia brasileira. Depois que o BC reduziu a taxa básica para 8% ao ano, em 11 de julho do ano passado, o indicador chegou a ficar positivo durante alguns dias. A partir do dia 7 de agosto, entretanto, a TR não saiu mais do zero.
E com a perspectiva de manutenção nos juros nos atuais 7,25% ao ano por um tempo prolongado, a tendência é que a TR permaneça nesse patamar por pelo menos dois anos. "Vai continuar sendo zero por muito tempo. A projeção para a Selic para os próximos 12 meses é de 7,25% ao ano e, mesmo que aumente um pouco, a TR deve continuar em zero. Mesmo se chegar a 8%, o que não está previsto agora, ficará em torno de zero, dependendo do dia", diz o economista José Dutra Vieira Sobrinho.
Isso vai contribuir, segundo o economista, para que o rendimento da poupança fique abaixo da inflação em 2012 e 2013 para alguns poupadores. Com a TR zerada, o rendimento fica em 0,50% ao mês para os depósitos feitos até 3 de maio de 2012 (antes da mudança na regra de correção anunciada pelo governo) ou 6,17% ao ano. Para os depósitos após essa data, a correção está hoje em 0,4134% ao mês (5,075% ao ano), o equivalente a 70% da taxa Selic. A projeção de inflação para o ano passado e para o atual está próxima de 5,5%.
Em relação ao FGTS, corrigido em 3% ao ano + TR, a diferença é ainda maior. "O FGTS, que já deu rentabilidade real negativa nos últimos quatro anos, vai continuar dando prejuízo", disse Sobrinho.
O economista destaca que, por outro lado, essa mudança beneficia as pessoas com financiamentos imobiliários. "Como as taxas são prefixadas, ninguém terá aumento no valor da prestação", afirmou.