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Conselho avalia adiar decisão sobre sucessão na Vale; permanência de Bartolomeo está em xeque

Reunião do conselho de administração foi marcada para esta sexta-feira; parte dos conselheiros quer evitar que troca de comando represente derrota para Lula

Foto do author Mariana Carneiro
Por Juliana Garçon e Mariana Carneiro
Atualização:

RIO E BRASÍLIA – Representantes dos acionistas da Vale avaliam adiar a decisão sobre sucessão na empresa para ganhar tempo após desgaste público provocado pela tentativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em emplacar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega na presidência da companhia.

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Uma reunião extraordinária do conselho de administração foi marcada para esta sexta-feira, 2, com a missão de avaliar e decidir se o atual presidente, Eduardo Bartolomeo, deve ficar.

Segundo dois conselheiros ouvidos pela reportagem, a expectativa é que não haja uma decisão final, o que pode estender o debate sobre a sucessão na empresa até maio, quando se encerra o mandato do executivo.

Entre os sócios, Bartolomeo sofre a resistência da Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, que já demonstrou nos bastidores o interesse em trocar o executivo. Foto: Matt Writtle/Vale

Para alguns acionistas, existe a preocupação em não transformar a troca de comando na empresa em uma derrota para Lula ou para o governo. Ainda que privatizada há 27 anos, a Vale é uma grande mineradora, que depende de autorizações públicas, além de operar ferrovias sob concessão. Os demais sócios privados também têm negócios com o governo, como é o caso da Cosan e do Bradesco.

Aliados de Lula no PT não desistiram de tentar influenciar na sucessão, ainda que não tenham conseguido emplacar o nome de Mantega. Para eles, o desfecho desta sexta-feira deveria ser o conselho não renovar o mandato de Bartolomeo e sinalizar a busca por um nome novo.

Entre os sócios, Bartolomeo sofre a resistência da Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, que já demonstrou nos bastidores o interesse em trocar o executivo. A alegação é que o desempenho da Vale, frente a concorrentes, tem deixado a desejar, além do que eles enxergam como fragilidades do executivo no campo institucional, na relação com autoridades em Brasília e nas comunidades onde a mineradora opera.

Neste contexto, o nome de Luiz Henrique Guimarães, que foi presidente da Cosan e hoje está no conselho da Vale, voltou a ganhar relevância na disputa. A questão é saber se os demais sócios aceitariam a promoção dele, dado que a Cosan tem apenas 4,9% do controle da Vale, uma fatia menor do que têm a Previ e a Mitsui.

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Em abril de 2023, quando Guimarães chegou ao conselho, havia a expectativa da Cosan em fazê-lo presidente do comitê. O intento não foi adiante, segundo narram duas fontes, porque a Previ convenceu os sócios privados a ficar com o posto.

Diante de tantas variáveis, uma das opções é propor um mandato mais curto para Bartolomeo – de um ano em vez de três, como mostrou o Estadão/Broadcast. A outra seria incluir o executivo no processo sucessório como parte de uma lista tríplice, cuja escolha ocorreria mais adiante.

Essas opções dariam mais tempo para debates entre os 13 conselheiros, e a Bartolomeo para mostrar que seu ponto fraco – falta de proximidade com os governos – será superado.

Para alguns acionistas, a cobrança de R$ 25,7 bilhões por concessões das ferrovias renovadas antecipadamente, que a Vale recebeu do Ministério dos Transportes na semana passada, como revelou o Estadão, poderia ter sido evitada por uma aproximação de Bartolomeo com Brasília.

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Enquanto os conselheiros analisam as cartas na mesa, Eduardo Bartolomeo está “tranquilo”, ciente de que fez a “lição de casa”, de acordo com um interlocutor do executivo. Em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast em dezembro, após meses de ataques indiretos e rumores sobre a indicação de Mantega pelo governo, o executivo enfatizou que confia na governança da Vale.

“Eu me fio na responsabilidade fiduciária dessas pessoas [os conselheiros], que elas vão garantir que a governança seja executada. Que pode até ser assim: ‘A gente precisa de uma outra pessoa aqui’. Então, eu vou embora tranquilo, pois foi feito de forma limpa.”

Política de sucessão

A “Política de Sucessão do Presidente” da mineradora diz que, “caso a deliberação do conselho seja pela manutenção do presidente em exercício, a consequente renovação do seu prazo de gestão e de contrato será realizada em comum acordo”. Assim, seria possível criar o mandato “tampão”, de um ano, ao fim do qual poderia haver uma nova negociação. O próprio Bartolomeo apostaria mais neste caminho, de acordo com um interlocutor.

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O documento estabelece também que, se o conselho não reconduzir o CEO, tem início o processo sucessório, com a contratação de firma de padrão internacional, reconhecida por sua expertise na seleção de executivos globais. Também diz que “o conselho deverá considerar os candidatos internos mapeados no processo sucessório da Companhia para o processo de seleção e avaliação”. Esta seria uma porta por onde Bartolomeo poderia passar – seu mandato vai até 31 de maio.

O documento conclui, porém, que “o Presidente da Vale será selecionado entre os nomes propostos em lista tríplice” elaborada pela firma de headhunter. Ainda não está claro como seria possível equacionar esta exigência. Uma pessoa próxima do assunto diz que a Vila Nova Partners, do consultor Fernando Carneiro, que fez a avaliação de perfil e performance de Bartolomeo, será encarregada da lista tríplice.

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