É fácil ser pessimista nos dias de hoje, como bem colocou o físico americano Yaneer Bar-Yam, do Instituto de Sistemas Complexos da Nova Inglaterra, numa entrevista recente. Nossa sociedade, moldada para produzir linhas de montagem, é ótima para ações em escala, mas não tem nenhuma flexibilidade para lidar com a complexidade. Por isso, diz Bar-Yam, temos a sensação de que tudo foge ao controle e de que não somos capazes de achar respostas para os problemas que se apresentam. Isso acontece, claramente, nas milhares de salas de aulas também.
Se formar bons professores já era um desafio quando o mundo e as escolas funcionavam a partir de uma lógica secular e conhecida, agora é uma tarefa hercúlea, que não compreendemos totalmente e nem sabemos como executar. Tenho pensado sobre o assunto e acho que a resposta está começando a ficar mais clara na minha cabeça. A tecnologia, é óbvio, mudará tudo e ajudará muito. Mas o mais importante para um professor, além de dominar o conteúdo, será saber contar uma boa história, envolver os alunos e instigá-los a fazer experiências em torno de seus estímulos.
Para isso, é necessário construir narrativas quer conectem diferentes conhecimentos e os apresente de forma contextualizada, interessante e irresistível. Contar boas historias pode ser o grande fio condutor para criar interesse nas crianças. E para isso há técnica. Os professores precisam ser preparados para dominá-la.
A solução pode parecer simples demais diante de uma realidade tão intrincada como a nossa. Mas faz todo o sentido. O século 21 é o século da narrativa, escreveu o israelense Yuval Noah Harari no estupendo livro Sapiens, Uma Breve História da Humanidade. A complexidade de um sistema varia de acordo com o número de coisas conectadas umas às outras que ele possui. E o que uma boa narrativa faz é exatamente conectar os pontos, costurar ideias, ações, temas e personagens de um jeito atraente, unindo, dessa forma, cérebro e coração, razão e emoção.
A histórias envolvem nossos pensamentos, emoções e imaginação ao mesmo tempo. Como ouvintes, participamos da história e mergulhamos no enredo reagindo a ele. Mais que tudo, contar histórias ensina sobre a experiência humana. E essa experiência envolve a matemática a química, a geografia, a sociologia - enfim, tudo! Além disso, como nos mostra a neurociência, a familiaridade do padrão narrativo, por estar associado a experiências emocionais positivas ainda na tenra infância, ajuda na memorização e na compreensão dos fatos.
A narrativa ou, nos termos da moda, o storytelling, tem sido parte da vida humana desde que saímos da África, há 200 mil anos, é a nossa forma de comunicação mais inerente e importante. É uma prática educativa ancestral e altamente efetiva, que transmite cultura, conhecimento, valores éticos e morais de gerações em gerações.Precisamos urgentemente resgatá-la e levá-la para as escolas se queremos um ensino compatível com a contemporaneidade.
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