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Escolas sem empatia: falta revisão de planejamento para considerar período de exceção na pandemia

Queremos formar um cidadão pensante em nossa sociedade ou queremos o que se deixa controlar?

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Por Rosely Sayão

Todos estão sensibilizados com os diversos tipos de dificuldades e sofrimentos dos mais novos neste período de pandemia. Afinal, eles estão sem escola, uma parte está em ensino remoto (incluindo os que não têm idade para esse tipo de atividade), isolados dos amigos e dos colegas com quem brincavam, frequentavam festas e conversavam, e com múltiplos receios e inseguranças. 

Estratégias monitoram abertura de abas e até som do ambiente Foto: REUTERS/Albert Gea

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Considerando essas questões e muitas outras que afetaram crianças e adolescentes, famílias e profissionais estão acompanhando e dando suporte e acolhimento. Nada mais natural, nesse quadro, que as escolas - a segunda instituição na vida dos mais novos - acompanhassem o movimento, certo? Errado. 

Uma boa parte dos colégios, em geral privados, tem agido de forma a ignorar solenemente esse período pelo qual seus alunos passam. Há escolas reprovando, apesar da recomendação contrária do Conselho Nacional de Educação

Mas e se o aluno não aprendeu o que a escola considera que deveria? Ora, faltou revisão de planejamento para considerar o período de exceção que vivemos, não é verdade? Organizar reforço escolar, mudar estratégias didáticas remotas, usar melhor a tecnologia a favor do ensino e da aprendizagem, por exemplo, deveriam ter sido recursos utilizados. Mas, em geral, não foram. Faltou avaliação da escola do trabalho por ela realizado. 

E, por falar em avaliação, são incríveis os depoimentos de profissionais da escola no texto publicado pelo Estadão com o título “Após aumento de notas, colégios usam tecnologia e câmeras para tornar prova online anticola”. 

Gente! Mas o que é isso??? Isso significa que, em vez de buscar melhorar o ensino remoto, debruçar-se sobre as dificuldades dos alunos para encontrar boas soluções e de colaborar com o momento tão difícil vivido por eles, a escola escolhe aprimorar seus mecanismos de controle sobre o aluno e, dessa forma, pressioná-lo ainda mais.

A avaliação escolar dos alunos não é a finalidade da educação formal, sempre é bom lembrar disso. E isso é discutido desde muito antes da pandemia. Mas muitas escolas, notadamente as que podemos classificar como conservadoras, preferem ignorar todas as reflexões já existentes a respeito da avaliação e do processo educativo e continuam a realizar avaliações quantitativas dos conteúdos e a utilizar o resultado obtido pelo aluno para classificá-lo. 

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Sabe o que é pior, leitor? Muitas famílias de alunos se convenceram de que o que importa na vida escolar do filho é a nota que ele recebe. Mal sabem que, dependendo do processo avaliativo utilizado, essa nota não tem relação nenhuma com a aprendizagem efetivamente ocorrida. A aprendizagem, principalmente em períodos de grandes dificuldades como este que vivemos, é resultado de um desafio. Pelo visto, o grande desafio de muitos alunos será o de descobrir como burlar a tecnologia para colar. Não é?

Em resumo: está mais do que na hora - aliás, já passou da hora - de muitas escolas refletirem a respeito de seus valores efetivamente praticados durante o ensino na pandemia. Se isso ocorrer, muitas instituições poderão transformar os rumos da sua prática pedagógica e, assim, colaborar muito mais para a formação integral de seus alunos.

Queremos formar um cidadão pensante em nossa sociedade ou queremos o que se deixa controlar? Queremos formar um cidadão colaborativo, empático com as questões da comunidade em que vive, respeitoso, ou queremos apenas conhecimento técnico/profissional? A prática pedagógica realizada pela escola que seu filho frequenta responde a essas questões. 

*É PSICÓLOGA, CONSULTORA EDUCACIONAL E AUTORA DO LIVRO EDUCAÇÃO SEM BLÁ-BLÁ-BLA

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