Faculdades apostam em laboratórios 'maker'

Difundida nos Estados Unidos, a ideia propõe que os alunos botem a mão na massa ainda na universidade

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'Foi a primeira chance de aplicar a teoria e ver o que funciona', diz Ricardo Coji Foto: Rafael Arbex / ESTADAO

Menos cópia de texto da lousa, mais experiências com cortadora a laser e impressora 3D. A cultura “mão na massa” - ou movimento maker, tendência difundida nos Estados Unidos - tem avançado no ensino superior brasileiro. A ideia é, com a prática, aumentar o interesse e melhorar a aprendizagem dos alunos. O novo modelo ganha espaço em vários campos, como Engenharia, Arquitetura, Artes e Design.

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A Universidade de São Paulo (USP) é uma das pioneiras em levar atividades “mão na massa” para alunos de graduação, como nas Engenharias. E a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP abriga, desde 2011, o primeiro laboratório de fabricação digital (Fab Lab) do País credenciado por parâmetros internacionais. O Fab Lab é um dos principais tipos de espaço maker. 

Agora, outras escolas têm investido na criação desses espaços. O Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, por exemplo, abriu neste ano um laboratório de fabricação digital e prototipagem, com impressora 3D e cortadoras a laser.

No local, é possível trabalhar com materiais diversos, como madeira, plástico e tecido. Os projetos podem ser aqueles pedidos em aula ou de interesse pessoal dos alunos. 

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O principal projeto desenvolvido pelos alunos dos cursos de Arquitetura e Urbanismo e Design de Produto foi um abrigo de madeira. O acessório resolveu um problema real dos estudantes: proteger as pessoas do sol em uma área anexa ao prédio da faculdade. 

“Foi a primeira chance de aplicar a teoria e ver o que funciona”, diz Ricardo Coji, de 21 anos, que estuda Arquitetura.

Segundo o aluno, o trabalho no laboratório incentiva a desbravar os softwares e tornar a execução mais precisa. Enio Moro Junior, coordenador do curso de Arquitetura, diz que os projetos do laboratório têm sido mais criativos, refinados e funcionais. “Também é bom aprender pelo erro. É tão importante quanto o acerto no percurso.” A Belas Artes já estuda ampliar o espaço de criação digital em 2016.

Integração. No Insper, os cursos de Engenharia - de Computação, Mecânica e Mecatrônica - nasceram em 2015 já com um Fab Lab, inaugurado na escola no ano anterior. “O processo de fazer está junto do pensar. Não é a teoria primeiro e a prática depois, como é comum nas universidades”, explica Heloísa Neves, coordenadora do laboratório.

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Matheus Marotzke, de 19 anos, aluno de Engenharia Mecânica, passa mais de duas horas diárias no laboratório, mistura de oficina e sala high-tech. Quando não estão envolvidos em trabalhos de classe, os alunos têm autonomia: desde explorar aparelhos eletrônicos antigos até projetar novidades em três dimensões - como a prótese de uma mão, um dos projetos em andamento. “Quanto mais diferente, melhor.”

O interesse pelo Fab Lab foi tanto que ele já atua como monitor no espaço. “A gente tenta não dar respostas diretas, mas indicar o caminho correto de raciocínio.”

Além de ser frequentado pelos estudantes da faculdade, o laboratório é aberto ao público externo às quintas-feiras, das 12h30 às 21 horas. “Não há pessoa ou instituição que saiba mais que o outro. Tentamos criar o conhecimento em conjunto. Abrimos à comunidade para poderem nos ensinar também”, afirma Heloísa, uma das principais pesquisadoras sobre Fab Labs no País. 

No Instituto Mauá de Tecnologia, o espaço maker serve para projetos especiais, em que alunos de Engenharia se dedicam a atividades práticas. Os espaços ainda não são abertos para todos os projetos, mas só os propostos em classe. Em 2015, o principal objetivo do espaço é produzir skates, que depois são doados. No ano que vem, serão patinetes. 

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Calouro de Engenharia de Produção do instituto, Rodriggo Basile, de 20 anos, já vive dilemas da indústria. “O tipo e o formato do skates nós tínhamos de escolher. E também saber se os processos eram possíveis de replicar, se os custos eram bons.” 

Criação própria. Quando a escola não tem o espaço maker, os alunos também podem dar um jeito. Foi o que aconteceu no câmpus de Bauru da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Alunos de Design e Arquitetura, da graduação e da pós, resolveram iniciar, no fim de 2013, uma rede de criação colaborativa e fabricação digital, batizada de Sagui Lab.

O grupo faz oficinas, em que improvisam laboratórios “mão na massa” em salas ociosas da Unesp. Lá, os colegas e o público externo usam equipamentos de criação digital - até uma impressora 3D montada pelos próprios membros da rede. O próximo passo é montar um laboratório maker em um contêiner no câmpus.

Além da experiência prática, o Sagui Lab transforma a cultura acadêmica. “Os alunos estão aprendendo como é trabalhar com projetos abertos, dar sua contribuição independente da área”, diz Vitor Marchi, de 25 anos, um dos fundadores da rede. “O laboratório promove o acesso e a desmistificação da tecnologia”, completa o aluno de Design.

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