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Operação de guerra

Meio milhão de pessoas são envolvidas no processo de organização e realização das provas em 1.700 municípios

Por Estadão Blue Studio
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Não é por acaso que a logística para realização do Enem é muitas vezes comparada a uma “operação de guerra”. Tudo é coordenado pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), do Ministério da Justiça, com a integração de diferentes órgãos de várias áreas do governo federal e dos governos estaduais. As tecnologias utilizadas incluem coleta de biometria, uso de detectores de metal e identificadores de receptor de ponto eletrônico.

Divulgação Foto: Michael H

Na edição 2023, realizada nos dias 5 e 12 de novembro, foram usadas 132.466 salas para comportar 3.934.242 candidatos (aumento de 13,1% em relação ao ano anterior), média de quase 30 candidatos por sala. Essas salas estavam localizadas em 9.395 locais de prova, espalhados por 1.750 municípios, 31,5% do total de municípios do Brasil. Cerca de 500 mil pessoas foram de alguma forma envolvidas na organização das provas – o efetivo de segurança mobilizado chegou a 11.377 policiais e 8.593 viaturas.

De acordo com o balanço divulgado pelo Inep, as mulheres foram maioria, 61,3%. Os concluintes do ensino médio corresponderam a 35,6% dos candidatos, com 48,2% já tendo concluído o ensino médio em anos anteriores. Os demais 16,2% são os chamados “treineiros”, estudantes que ainda não chegaram ao 3º ano do ensino médio e querem saber como é fazer a prova para ganhar experiência. Do total de participantes, 9,4% têm mais de 30 anos.

O índice de abstenção – candidatos que deixaram de comparecer aos locais da prova – chegou a 28,1% no primeiro dia e 32% no segundo dia, parâmetros bem próximos aos constatados no ano anterior. Houve 6.510 eliminações, nos dias da prova, por problemas como portar equipamento eletrônico, sair antes do horário mínimo permitido, utilizar impressos e não atender a orientações dos fiscais. Situações como emergências médicas (a exemplo de doenças infectocontagiosas) ou interrupção do fornecimento de energia no local da prova dão direito à reaplicação, realizada cerca de um mês depois.

Rede de certificadores

A logística do Enem tem início muito antes dos dias de prova, a começar pela elaboração das questões que fazem parte do Banco Nacional de Itens (BNI) – “item” é como uma questão é chamada dentro do Inep. É do BNI que é extraído o que vai cair no Enem. Ao selecionar o conjunto de enunciados de uma edição da prova, o Inep leva em conta uma combinação que assegure a cobertura da matriz de habilidades e de competências de cada área do conhecimento e a atualidade das temáticas, além de um nível de dificuldade geral (“balanço psicométrico”, no termo técnico) equivalente aos dos anos anteriores, permitindo assim a comparação histórica dos resultados.

Até ser incluída no Enem, uma questão passa por uma série de etapas. Elas são formuladas por especialistas em cada área do conhecimento, recrutados por processos seletivos públicos. Só entram no BNI depois de revisadas e certificadas. Muitas são descartadas pelo caminho ou devolvidas aos autores para aprimoramento. As questões que entram no BNI passam por um pré-teste, com público semelhante ao do Enem, para definir o balanço psicométrico.

Em maio, quando as inscrições são encerradas, ocorre o processo de “ensalamento”, que consiste em colocar cada candidato no local de prova mais próximo possível da residência. Uma vez montado esse quebra-cabeça, a gráfica imprime as provas, em ambiente superprotegido e monitorado por câmeras. Vários dados do participante são impressos na prova – nome, número de inscrição, local de aplicação e um código de barras.

As provas saem da gráfica em pacotes lacrados e são distribuídas e armazenadas com escolta em tempo integral – até o momento em que os malotes são abertos, no momento do exame. Há uma rede de milhares de certificadores, composta por servidores públicos federais ou professores das redes municipais e estaduais, que informam ao Inep, via aplicativo, o momento de abertura do malote lacrado. Todos os cuidados são mantidos no processo de logística reversa, quando as provas voltam aos locais em que serão corrigidas.

As provas objetivas são avaliadas automaticamente por uma tecnologia de reconhecimento do cartão-resposta, enquanto as redações são digitalizadas para a correção por especialistas. Cada prova passa por dois avaliadores, sendo que a nota final é a média dessas avaliações. Se houver discrepâncias significativas entre as avaliações, dois avaliadores adicionais podem ser convocados.

De acordo com a assessoria de comunicação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia do Ministério da Educação (MEC) responsável por elaborar as provas do Enem, não serão implementadas mudanças no formato em 2024. “A autarquia segue as discussões para apresentar a proposta do Novo Enem, alinhado com a reforma do ensino médio, que está em discussão no âmbito do Projeto de Lei 5.230/23. O cronograma de mudança do exame será estabelecido, após a sanção presidencial do projeto de lei, considerando o tempo necessário para anunciar as inovações junto aos responsáveis pelas redes de ensino”, informou o Inep.

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