Profissionais com sonho de empreender buscam cursos de MBA

Futuros empreendedores investem em Master Business Administration em instituições de ponta para se diferenciar

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Por Victor Vieira
Atualização:
Daniela Bouissou fez MBA em Stanford e tem site de agendamento de consultas Foto: Felipe Rau/Estadão

Um Master Business Administration (MBA) em universidades americanas de ponta é um passaporte para grandes empresas. Muitos alunos, porém, optam pelo risco: usam a experiência da pós para se aventurar em um negócio próprio. A alta do empreendedorismo nos últimos anos vem mudando os cursos e o perfil de quem busca um MBA. 

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A passagem pelo master na Universidade de Stanford, na Califórnia, foi o processo inicial para que a médica Daniela Bouissou, de 41 anos, se tornasse empresária. Após fazer o MBA, em 2008, ela trabalhou em uma prestadora de serviços na área de saúde. Três anos depois, decidiu abrir uma companhia de agendamento online de consultas médicas. “Sempre tive a ideia de montar meu negócio”, diz a proprietária do Boa Consulta.

O MBA foi a opção para fazer a guinada na carreira para o mundo empresarial. “O perfil empreendedor de Stanford pesou na escolha da instituição”, diz Daniela. “Outro ponto importante foi a preocupação da universidade com o social, o que tem a ver com meus interesses”, afirma.

A demanda por formação de mais empreendedores, de acordo com especialistas, é uma tendência nas universidades dos Estados Unidos nesta década. Algumas instituições - como Stanford, Berkeley e Massachusetts Institute of Technology (MIT) - já tinham forte vocação empreendedora e aproveitaram a onda para incrementar seus currículos. 

Outras mais tradicionais reforçaram a discussão sobre empreendedorismo mais recentemente. A Escola de Babson, em Massachusetts, é considerada a pioneira nesse tipo de ensino. MBAs de outros países também devem seguir esse caminho em seus programas.

Novo paradigma. A médica Daniela, com o jaleco recém-aposentado, “respirou” empreendedorismo no MBA pelas disciplinas, pelos projetos práticos e pelas palestras com personalidades dos negócios. A partilha de experiências também ajudou a mudar sua perspectiva de mercado. “Vários dos meus colegas, de todas as partes do mundo, já tinham empreendido.” 

O conselho dos professores do curso, segundo ela, era seguir caminho solo após o curso. “Eles nos estimulavam a recusar ofertas de bancos e consultorias para empreender”, diz. “No meu caso, decidi trabalhar em uma empresa grande primeiro porque não tinha tanta experiência na área.”

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Já o engenheiro Felipe Amaral de Mattos, de 28 anos, montou sua empresa antes mesmo de terminar o MBA. Durante o curso em Wharton, na Universidade da Pensilvânia, ele criou uma plataforma digital de ensino adaptativo. Pela análise de dados sobre erros e acertos, o sistema oferece conteúdos segundo as necessidades e dúvidas de cada aluno.

“Os dois anos do curso não têm riscos”, diz Mattos. “Quis usar esse tempo para tentar coisas novas, diferentes.” Deu certo. Com a ajuda de dois sócios e o investimento de empresas maiores, a startup, chamada Studiare, ganhou fôlego. A empresa já contribuiu com o desempenho acadêmico de cerca de 70 mil alunos em provas como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). 

Barreiras. A opção de se tornar o próprio chefe, entretanto, não é fácil. Uma das dificuldades para abrir o negócio logo após o MBA é o saldo da conta bancária, já que um master internacional pode consumir centenas de milhares de dólares. “Há incerteza dos ganhos que terão como empreendedores”, alerta Vivianne Wright, uma das diretoras do MBA House, preparatório para pós fora do País. 

Antes de seguir seu sonho, Mattos recusou uma boa oferta da empresa de consultoria em que já havia trabalhado. “Era um bom aluno e sempre tive retorno positivo da família. Naquele momento, surpreendi a todos com a decisão de abrir uma empresa”, relata Mattos. “Minha mãe até chorou.” 

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Para ele, a vivência nos Estados Unidos foi essencial na recondução da trajetória. “Lá, a cultura empreendedora é grande. Nossa sociedade é avessa a riscos”, afirma. Apesar de ter feito uma boa graduação no Brasil, reconhece Mattos, o empreendedorismo passou longe das aulas na faculdade.

Segundo consultores, os brasileiros que se interessam por MBAs geralmente têm perfil mais conservador. “A maioria busca vaga nas empresas grandes”, diz Roberto Mendes, gerente da Education First, que oferece preparatórios para MBAs no exterior. Entre aqueles que miram o empreendedorismo, diz ele, boa parte pretende assumir uma empresa familiar. 

A perspectiva para os próximos anos, por outro lado, é de maior apetite por negócios próprios. Isso acontece pela mudança de mentalidade da nova geração de profissionais, que opta por não fazer toda a carreira na mesma empresa.

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Outro motivo são as recentes crises financeiras. Sem a criação maciça de empregos nos setores tradicionais, muitos empresários usam seu “faro” para encontrar novas brechas no mercado. As áreas de saúde e educação são duas das principais apostas.

Alternativa. Mesmo para quem planeja um percurso de trabalho mais convencional, a experiência empreendedora é considerada grife no currículo. Ex-donos de empresas menores e de startups podem levar vantagem sobre outros candidatos na disputa para chefiar novos departamentos ou subsidiárias de grandes companhias. “Isso é mais comum em um estágio tardio da carreira, quando esse profissional busca novos desafios”, explica Roberto Mendes, da Education First. 

O engenheiro Charles Sieh, de 37 anos, não é mais dono de um negócio, mas manteve a rotina de empreendedor. No segundo ano do MBA, em 2009, ele apostou em um portal de compras coletivas, mercado emergente naquela época. 

Desde que o site encerrou as atividades em 2013, ele se dedica a estruturar uma nova seção em uma empresa que vende aparelhos médicos. “Muito do que vivi no meu empreendimento também vivo aqui. A diferença é que agora tenho uma estrutura maior.” As discussões sobre empreendedorismo no MBA na Universidade de Michigan, seja nas disciplinas ou no convívio com os colegas, foram fundamentais para Sieh colocar a mão na massa. 

A validade dos MBAs para empreendedores não é unanimidade no mercado. “A linguagem dos cursos é para executivos, não para empresários”, critica César Souza, presidente do Grupo Empreenda, de consultoria para a formação de empreendedores e lideranças. 

Além da falta de verbas para um MBA internacional, candidatos a abrir um negócio próprio também têm pressa. “Ele não quer passar dois anos fora do País e prefere cursos rápidos e congressos na área de interesse”, aponta Souza. 

Serviço: 

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MBAs de Stanford

Inscrições: até 7/1

Duração: dois anos

Preço: cerca de R$ 500 mil (com opção de hospedagem no câmpus da universidade)

Site: www.gsb.stanford.edu/mba

Wharton

Inscrições: até 5/1

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Duração: dois anos

Preço: cerca de R$ 480 mil

Site: mba.wharton.upenn.edu/mba

Universidade de Michigan

Inscrições: até 5/1

Duração: dois anos

Preço: cerca de R$ 560 mil (com opção de hospedagem no câmpus)

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Site: michiganross.umich.edu

* Em geral, as universidades restringem as seleções de março aos candidatos americanos.

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