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Bolsonarismo, Hitler e as crianças

No horror do Brasil atual, não há só a destruição de políticas educacionais. Bolsonaristas se sentem à vontade para sugerir como exemplo o que existe de mais repugnante na história mundial

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Por Renata Cafardo
Atualização:

O presidente Jair Bolsonaro em seu encontro rotineiro com apoiadores semana passada foi instigado a adotar política de Adolf Hitler na educação. Um bolsonarista citou o ditador nazista e disse: “Nosso Ministério da Educação já poderia estar fazendo um trabalho com as crianças para voltar à conscientização”.

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Bolsonaro não reprimiu o comentário e respondeu que o MEC era “um transatlântico” muito difícil de mudar. Emendou dizendo que já queria há tempos ter voltado com educação moral e cívica nas escolas, mas não conseguiu.

A educação durante a Alemanha nazista ensinava que a raça ariana era superior e que pessoas eram catalogadas – quem não servia, morria. As escolas questionavam a ciência, como a Teoria da Relatividade, de Albert Einstein, que era judeu.

Para Bolsonaro, uso da "linguagem neutra" poderia "estragar a garotada". Foto: Dida Sampaio/ Estadão

O admirador de Bolsonaro disse ainda que “Hitler trabalhava muito com as crianças”. Além das 6 milhões de pessoas que morreram em campos de concentração, entre elas muitas crianças, havia programas de assassinato infantil. Eram exterminadas as crianças consideradas deficientes, esquisitas e irremediáveis. 

O livro As Crianças de Asperger (Editora Record), da historiadora Edith Sheffer, mostra que o médico Hans Asperger e outros enviaram milhares de crianças a instituições durante o Terceiro Reich. Elas seriam pretensamente tratadas, mas eram analisadas e mortas “lenta e dolorosamente, com a privação de alimentos ou recebendo overdoses de barbitúricos”.

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O nome do austríaco ficou conhecido porque a Síndrome de Asperger tornou-se nos anos 1980 o diagnóstico para autistas altamente funcionais. Hoje, deixou de ser usada nos EUA. Sheffer revela que apesar de Asperger ter sido um dos primeiros a apoiar crianças atípicas que acreditava serem capazes de aprender, ele desprezava as menos eficientes.

Documentos mostram experimentos de remédios e vacinas feitos por médicos nazistas com “bebês que eram injetados, infectados e forçados a morrer de fome”. Meninas com “conduta impossível em casa” tinham o mesmo destino. 

Para além dos ideais raciais e físicos, “o nazismo impunha normas mentais e emocionais, na direção de uma personalidade-modelo”, diz Sheffer. Crianças com questões comportamentais, sociais, deficiências ou transtornos do desenvolvimento foram tiradas de suas casas e mortas. Os nazistas as consideravam “não educáveis”. 

No horror do Brasil atual, não há só a destruição de políticas educacionais. Bolsonaristas se sentem à vontade para sugerir como exemplo o que existe de mais repugnante na história mundial.

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