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Não há país que se desenvolveu só com educação privada - quem diz isso é o Banco Mundial

Grande maioria das crianças da América Latina está em escolas públicas e 70% delas não conseguem entender o que leem aos 10 anos de idade

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Foto do author Renata Cafardo
Atualização:

Em evento em Harvard, uma das mais prestigiadas universidades do mundo, o representante do Banco Mundial para a América Latina e Caribe, Jaime Saavedra, afirmou que não há um país que tenha se desenvolvido resolvendo o problema da educação com escolas privadas.

É o maior banco de desenvolvimento do mundo dizendo que, de Cingapura à Finlândia, do Canadá à Austrália, a solução foi e continua sendo colocar dinheiro nas redes públicas.

Investimento na educação básica da rede pública é essencial para o desenvolvimento  Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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O grande problema, diz Saavedra, economista e ex-ministro da Educação do Peru, é chamar a atenção das classes altas para isso. Em especial nos países latinos, onde 80% dos que têm renda acima do que é considerado classe média estão em escolas privadas.

Dados do Banco Mundial indicam que atualmente mais de 70% das crianças de 10 anos na América Latina e Caribe não conseguem compreender plenamente o que leem.

No Brasil, 56% dos alunos do 2º ano do fundamental estão alfabetizados, segundo avaliações de 2023.

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O evento deste mês em Cambridge, nos Estados Unidos, juntou representantes do terceiro setor e de governos de diversos países para debater e tentar criar um pacto para a região de apoio a políticas de alfabetização.

Apesar de realidades diferentes, os latinos têm em comum as instabilidades políticas e econômicas e a pouca priorização da educação, que levaram a um cenário de milhares de crianças que não aprendem a ler. Mesmo sabendo o que fazer.

Fala-se há anos que é preciso investir em bons professores, com formação e salários, dar extrema atenção à primeira infância, melhorar a prática de sala de aula, avaliar. E não colocar esforços em tecnologia sem objetivos de aprendizagem claros, completa a professora da Faculdade de Educação de Harvard, Emiliana Vegas.

“O conhecimento temos, não é nada como física nuclear. A questão é como fazer em todas as escolas, ganhar escala”, completa Saavedra.

Trata-se de uma tragédia, mas muitas vezes invisível, como diz o brasileiro David Saad, diretor presidente do Instituto Natura, também no encontro. O grupo discutiu como conseguir fazer com que o problema da alfabetização se torne mais compreensível a todos, o que ajudaria muito na implementação de boas práticas.

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A alfabetização foi comparada à crise climática, que se tornou factível quando os especialistas traduziram o problema em um número claro, fácil de compreender: o planeta estava 1,5ºC mais quente.

Pesquisas já mostraram que entre 20% e 50% do crescimento de um país estão relacionados à aprendizagem das suas crianças, mas ainda parece um problema dos outros. A alfabetização não é apenas um dos desafios da educação, é raiz de todos eles.

Nada contra o ensino privado, mas quando quase 9 em 10 crianças da América Latina estão nas escolas públicas, não há outra maneira de mudar a situação sem que se invista nelas.

Coreia do Sul, Cingapura, Estônia, entre tantos outros, mostraram recentemente que ou esses alunos aprendem a ler ou não há crescimento. Quando não se alfabetiza uma criança no início da sua trajetória escolar, a chance de ela terminar o ensino médio de forma razoável é quase nula. São milhares ou milhões de pessoas privadas de uma vida plena e de contribuir para o desenvolvimento de seu país - ou região.

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