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Opinião|Damos tanto aos filhos. E eles brincam?

Desejo, neste Natal, que nossas crianças tenham quereres diversos só delas, espaço e tempo lúdico

Foto do author Rosely Sayão

Já oferecemos tantas coisas aos filhos! Quisemos que eles brincassem, e demos de presente a eles muitos brinquedos: nos Natais, nos aniversários, nos Dias das Crianças, nas Páscoas, quando tiraram boas notas, quando voltávamos de pequenas viagens, quando achávamos que eles sentiam a falta de nossa presença e também quando queríamos que eles sentissem prazer. Com tantos brinquedos disponíveis, eles brincam? Para muitas, tais objetos, que deveriam ser lúdicos, servem só de enfeites no quarto. Aliás, quartos de muitas se parecem com museus de brinquedos, não é?

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Quisemos que nossos filhos fossem felizes todo santo dia. E demos mais presentes, mais brinquedos. Como se fosse possível uma criança ser feliz ao ganhar presentes. Ela poderia ter momentos de felicidade ao brincar, mas, com tantos brinquedos, não sabe qual escolher e fica angustiada, ansiosa, entediada. E a saída que encontra facilmente costuma ser: “Mãe, o que eu faço?”.

Quisemos dar aos filhos tudo o que não pudemos ter e por isso demos tantas coisas. E mais virão neste Natal. Talvez estejam aprendendo a consumir cada vez mais recebendo tantos mimos. E o consumismo que construímos – ainda desenfreado – tem nos consumido. Consome nosso ambiente, nosso orçamento, nossa saúde física, mental e social.

Que nossas crianças tenham quereres diversos só delas, ganhem tempo lúdico e espaço físico e simbólico para viver. Foto: Robert Collins/Unsplash

Quem sabe possamos querer oferecer aos filhos, neste Natal e nos outros tantos que ainda virão, outros tipos de ensinamentos? Eles podem aprender a querer por eles mesmos. Queremos por eles, e antes que eles consigam elaborar algum querer! Mas não se trata de querer o brinquedo ou o objeto da vez, tão anunciado, e que muitos colegas já têm.

Sabe aquele querer que vem de dentro, que vai se formando lentamente, e que até resulta numa certa angústia? Mas essa angústia pode levar ao movimento para a descoberta, pode colocar em ato a criatividade, o foco, a persistência, entre outras coisas. Faz buscar. Faz crescer.

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Depois, podemos oferecer tempo a elas, tão cheias de atividades escolares, de cursos extras, de telas.

Com o querer e o tempo, só falta o espaço. Não apenas o espaço físico – mas também ele! Espaço mental para que se instale um vazio que incomode a ponto de levar a criança a buscar, dentro dela, seus gostos, seus interesses, seus quereres.

Desejo, neste Natal, que nossas crianças tenham quereres diversos só delas, ganhem tempo lúdico e espaço físico e simbólico para viver. Que o Natal de cada um seja carinhoso, é o que desejo.

Opinião por Rosely Sayão

É psicóloga, consultora educacional e autora do livro "Educação sem Blá-blá-blá"

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