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USP desiste de imprimir jornal universitário

Notícias do veículo serão produzidas apenas para o meio digital, que deve ser reforçado; estimativa é de economia de R$ 500 mil

Por Luiz Fernando Toledo
Atualização:
Vista do câmpus daUniversidade de São Paulo (USP), na zona oeste da capital paulista Foto: NILTON FUKUDA/ESTADÃO

SÃO PAULO - A Superintendência de Comunicação Social da Universidade de São Paulo (USP) decidiu cancelar a impressão do jornal da USP, mais antigo periódico universitário do País, distribuído desde 1985. As notícias do veículo serão produzidas apenas para o meio digital, que deve ser reforçado. A TV USP, que era transmitida no Canal Universitário, já está disponível somente na internet desde o ano passado. Com as mudanças a estimativa é de economia de R$ 500 mil com os gastos de impressão e distribuição.

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As medidas foram tomadas pela USP após a conclusão de um relatório de um grupo de trabalho da superintendência que recomendava a economia. O objetivo do grupo, que iniciou as atividades em 2014 e entregou o relatório em novembro do ano passado, era "racionalizar os gastos", mas sem prejudicar o funcionamento dos serviços. Ainda não há previsão da realocação do valor que deixará de ser gasto.

Também foi reduzido o número de funcionários da área, de 118 para 104. A mudança trouxe economia de R$ 123 mil, reduzindo a folha de pagamento de salários, benefícios e encargos do setor de R$ 1,46 milhões para R$ 1,34 milhões. Segundo a USP, 11 dos 14 servidores não estavam ligados à área fim da unidade, ou seja, não participavam da produção de conteúdo dos veículos do setor, mas só da área administrativa. Todos foram transferidos para outras unidades da USP com carência de funcionários.

A USP enfrenta uma crise financeira desde 2014 e, naquele ano, aprovou um Programa de Demissão Voluntária (PDV) que levou à saída de 1.382 funcionários. A ação, que reduziu 4,4% da folha de pagamento, foi a principal aposta contra a dificuldade econômica da instituição.

Com a saída, diversos setores começaram a enfrentar dificuldades, como o bandejão, que teve reclamações de aumento nas filas, e o hospital universitário, com redução nos atendimentos. Em janeiro deste ano, a USP gastou 104,7% de seu orçamento com a folha de pagamento e já usa suas reservas para honrar compromissos.

Para o superintendente Eugênio Bucci, a mudança considerou o hábito das novas gerações, que preferem o formato digital, a demora na entrega dos jornais impressos e a periodicidade das notícias, que na internet poderão ser diárias e não semanais. "Em seu formato impresso, o jornal não cumpre satisfatoriamente sua função", disse.

Ele explicou que o jornal era fechado na quarta-feira, mas só chega à maior parte das unidades da instituição na terça-feira da semana seguinte."Temos um jornal semanal que traz as notícias não da semana passada, mas, na prática, da semana retrasada".

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Bucci negou, no entanto, que a medida tenha sido tomada por causa da crise financeira da universidade. "É claro que isso trará também uma economia de recursos, que será muito bem vinda para as contas da USP. Eu só queria registrar, porém, que a razão principal não foi a economia orçamentária, mas a eficiência da comunicação".Reforça ainda que o jornal não será descontinuado. “O site do jornal será reforçado, melhorado e ampliado”. A previsão de estreia do novo padrão digital do jornal da USP é no fim de abril.

Para o professor Ciro Correia, da Associação dos Docentes da USP (Adusp), há um "desmonte" de diversos setores da universidade. "Já está comprometendo uma série de programas e atividades essenciais para a pesquisa e agora avança também nos setores da cultura. Isso é muito grave e é preciso que esse estado de coisas mude, em prol do interesse público", avalia.

A defesa da entidade de Correia é a de pleitear aumento na cota que as universidades estaduais (incluindo Unicamp e Unesp) recebem da arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que tem diminuído no Estado em função da crise econômica. As universidades já pediram que o valor seja ampliado para 9,907% - hoje é de 9,57% - mas a solicitação não foi atendida pelo governo estadual.