USP e Unesp esperam definição do Enem para avaliar adiamento de vestibular

Indefinição de datas prejudica tomada de decisão e gera ansiedade em estudantes, que seguem se preparando em meio às incertezas

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Foto do author Ludimila Honorato

SÃO PAULO - Mesmo com o anúncio de mudanças no vestibular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) devido à pandemia do novo coronavírus, a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual Paulista (Unesp) mantiveram a posição de aguardar a definição da nova data do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que foi adiado pelo Ministério da Educação, para avaliar o adiamento de suas provas.

Nesta sexta-feira, 5, a Unicamp comunicou que a primeira fase do vestibular 2021 será realizada em janeiro e a segunda, em fevereiro. Além disso, o exame terá 72 questões, não mais 90, e os estudantes terão, no máximo, quatro horas para completá-lo, em vez das cinco anteriores. Procurada nesta sexta, a Unesp disse ainda estudar "medidas para adequação da realização do seu vestibular à nova realidade em que vivemos, entre as quais o seu possível adiamento".

A Fuvest divulgou a lista dos aprovados para a segunda fase do vestibular de 2021, principal acesso à Universidade de São Paulo (USP). Foto: Felipe Rau/Estadão

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A diretora executiva da Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest), Belmira Oliveira Bueno, afirmou que "o calendário da Fuvest (principal exame de ingresso na USP) está sujeito a revisões, mas consideramos prematuro definir novas datas". Ela afirma que a fundação também aguarda desfecho sobre as novas datas do Enem, mas, enquanto isso, a equipe tem se "dedicado a analisar e prever como as provas poderão ser viabilizadas, levando em conta as normas estabelecidas pelo governo de São Paulo e as recomendações das autoridades sanitárias".

Entre as medidas previstas estão aumentar o número de locais onde as provas serão realizadas a fim de garantir o distanciamento social, estimular os candidatos a usarem máscaras durante o exame e disponibilizar sabonete líquido em todos os banheiros dos locais de provas, bem como álcool aos candidatos e profissionais que irão atuar diretamente na aplicação dos testes.

Estudo a distância exige foco, dizem professores de cursinho

Apesar de o anúncio da Unicamp ter surpreendido e sido visto como uma atitude antecipada, diretores de cursinhos pré-vestibular ouvidos pelo Estadão veem o adiamento dos vestibulares e do Enem com bons olhos. Ter mais tempo para que os estudantes se preparem é um fator positivo unânime, mas eles orientam que os candidatos devem continuar estudando, não parar com a perspectiva de que poderão recuperar conteúdos adiante.

Professores de cursinhos pré-vestibular orientam que estudantes mantenham rotina de estudos apesar de incertezas sobre datas das provas. Foto: JF Diório/Estadão

"O que muda é que o curso vai ter de se adaptar para oferecer simulados que sejam compatíveis com os novos modelos de prova. Até agora, a gente não tinha nenhum formato de prova novo, a Unicamp é o primeiro. Contudo, tem de aguardar possíveis mudanças no formato de prova do Enem, Fuvest e Unesp", aponta Daniel Perry, diretor do Anglo Vestibulares. Ele avalia que adiar a prova para janeiro é bom porque, possivelmente, a situação da pandemia estará mais sob controle.

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Para Edmilson Motta, coordenador geral do Grupo Etapa, o que mudou mesmo na preparação dos alunos para os vestibulares foi a própria pandemia. "Você ter de estudar à distância exige um tipo de foco, dedicação e rotina bem diferentes, demanda muito mais esforço de autonomia do que a rotina de aulas de ir para a escola ou cursinho", afirma.

Manter rotina de estudos na quarentena é desafio

A barista Midori Martins, de 26 anos, está fazendo cursinho online com a meta de cursar Letras na USP. Para ela, a incerteza se a Fuvest será adiada não interfere no planejamento de estudos, porque está com o foco no aprendizado. "Estudar está sendo um ponto de equilíbrio psicológico, de ter uma meta. Estudar está sendo bom no sentido de que tenho um norte", afirma. "Não estou com essa ansiedade de saber datas, porque a gente está em uma situação tão surreal que não tem como você ficar querendo que as coisas aconteçam da forma normal."

Já o estudante Gabriel Alves, de 21 anos, sente que essas indefinições de datas das provas atrapalham. Morador da Vila Inglesa, periferia de São Paulo, ele já enfrenta dificuldades com a falta de um computador para seguir com as aulas. "Não tenho mais o tempo e o cronograma que tinha antes da pandemia, e a necessidade de criar outro foi extremamente urgente. Mesmo assim, ainda não consigo ter um retorno bom, já que tive de 'me virar nos 30' e tentar usar o pouco recurso que tenho para acompanhar os alunos do cursinhos", relata o jovem, que pretende cursar Medicina na USP.

Salário de Gabriel está sendo pago pelo governo federal, que anunciou um pacote de R$ 40 bilhões para garantir renda dos trabalhadores de pequenas e médias empresas Foto: Gabriel Alves

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Por causa das medidas de distanciamento social, os cursinhos também adotaram aulas online, gravadas ou ao vivo, o que, segundo os diretores, vai permitir aos alunos manter a preparação para os vestibulares. Porém, Gilberto Alvarez, diretor do Cursinho da Poli, observa que os estudantes que usam a plataforma lançada pelo governo estadual para continuidade das aulas estão com sobrecarga de conteúdos. "Isso atrapalha o planejamento deles de estudo. Na soma, a carga está sendo maior para quem tem acesso à internet", diz.

Outra medida anunciada pela Unicamp, e cogitada também pela Unesp, é preparar as provas dos vestibular com maior ênfase nos conteúdos do 1º e 2º anos do Ensino Médio, uma vez que alunos do 3º ano enfrentam dificuldades em 2020 para acompanhar as aulas. "Não sei se isso vai fazer a prova ser mais fácil, mas não dá para contar que a prova será mais fácil porque esse período de isolamento, de fato, está gerando desigualdade muito grande", diz Alvarez.

Essa também é uma preocupação do diretor e professor do Cursinho Maximize, Tony Manzi. "Se as escolas estão padronizadas, na teoria é legal, mas as escolas não são padronizadas. Escola particular pega conteúdo do 3º (ano do Ensino Médio) e condensa nos dois primeiros anos e o 'terceirão' é uma revisão de conteúdo. As escolas públicas não têm isso de 'terceirão'. Na verdade, acredito eu, a Unicamp deve abrir um pouco mais os olhos para as escolas públicas e vai ter de divulgar novo edital para dizer qual conteúdo vai cortar", diz ele. Para Alvarez, prorrogar a prova para janeiro "não é suficiente", porque não há indícios de que haverá equidade para os estudantes.

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Faculdade privada adota até vestibular online

A Faculdade Armando Alvares Penteado (FAAP) também decidiu mudar o formato e a data do vestibular. O exame será online e ocorrerá em 14 de junho, com 36 questões e uma redação. Já a Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus Campinas, manteve o vestibular em 18 de julho, sendo que as provas serão aplicadas em um único dia no próprio campus da instituição.