PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Dicas e curiosidades sobre animais

Como adestrar um cão surdo?

Muitos cães já nascem surdos. Como fazer para se comunicar, educar, adestrar? Será que cães aprendem linguagem de sinais. Confira essas e outras respostas.

Foto do author Luiza  Cervenka
Por Luiza Cervenka
Atualização:

É possível treinar e se comunicar com cães surdos - Eric de Boer/Creative Commons Foto: Estadão

Por trabalhar com comportamento canino, eu adoro ver e aprender técnicas de treinamento. O adestramento é muito mais do que ensinar comandos. É criar uma comunicação efetivo, mostrando ao cão os comportamentos que você deseja que ele execute. A maior parte da nossa comunicação humana é feita verbalmente. Inclusive, muitos tutores começam a se comunicar (ou tentar se comunicar) com os cães apenas falando. O cão não sabe o que é "senta". Ele precisa ser ensinado a tal. E não é falando várias vezes ou gritando que ele vai aprender. Afinal, o cachorro não é surdo, apenas não entende o que significa deita.

PUBLICIDADE

Mas peraí, e se o cachorro é surdo mesmo?! Como chamá-lo? Como dizer o que deseja? Como solicitar um comportamento a distância? Como explicar que eu vou sair e já volto? Como me comunicar e criar um laço com ele?

É aí que entra a Carolina Jardim, psicóloga e uma baita profissinal do comportamento canino. Eu passo horas e horas consumindo os reels e stories dela com seu cão, o Milka. Surdo de nascença, Milka tem suas dificuldades, como qualquer cão. Porém, o fato de não escutar faz com que ele seja ainda mais especial. Carol (sou íntima já!) explica que um cão acometido pela surdez pode desenvolver comportamentos que comprometem não só a sua saúde e qualidade de vida, mas também de toda a família tutora. "Muitas vezes, a surdez não é identificada, mas ela pode ser a causa de agressividade, ansiedade, ou até mesmo uma aparente falta de atenção do cão por seus tutores", afirma Carolina.

Carolina Jardim ensinou seu cão surdo a se comunicar por sinais - Foto: Divulgação

Para entender melhor a incidência de surdez congênita na população canina, um veterinário da Escola de Medicina Veterinária, na Universidade de Louisiana conduziu o estudo Breed-Specific Deafness Prevalence In Dogs. Depois de testar 10 mil cães de 14 raças, a pesquisa concluiu que a raça com maior incidência de surdez congênita são os Dálmatas, que têm 28% de probabilidade de nascerem com surdez unilateral ou bilateral.

Desde 2009, quando fundou a Turma do Focinho, ela se dedica à pesquisa sobre problemas comportamentais e comunicação com cães surdos e ao trabalho de atendimento direto de tutores para ajudá-los no dia a dia com seus cães, a partir de um programa idealizado por ela ao longo desses 13 anos. Melhor ainda é saber que não importa a idade ou a raça do pet, sejam eles filhotes ou adultos com surdez congênita ("de nascimento"), ou que tenham adquirido surdez a partir de alguma doença, ou mesmo aqueles que acabam perdendo a audição pela idade avançada.

Publicidade

[veja_tambem]

"Nesse período, já atendemos, mais de 60 cães surdos aqui no Brasil e até em outros países. Como a raça com maior incidência de surdez congênita são os Dálmatas, eles são maioria entre os cães que atendemos", explica Carolina.

Inclusive, ensinando linguagem de sinais humanas para os cães. Sim, o Milka entende muitos dos sinais. Ele entende a lingua de sinais que a Carol inventou e também entende a lingua de sinais humanas. Ele é bilingue!

Surdez em cães idosos

Mas a surdez não é só congênita. Os nossos velhinhos podem ter perdas auditivas. Nas últimas décadas, a expectativa de vida dos cães praticamente dobrou e, com isso, cada vez mais tutores passaram conviver com um novo desafio: a idade avançada do seu pet. "Assim como entre os humanos, o aumento da sobrevida trouxe, como desafio, o fato de que muitos cães passaram a ter perdas sensoriais com o avanço da idade, principalmente na audição e na visão".

Publicidade

O tratamento destinado ao cão idoso difere em vários aspectos daquele destinado a cães que nascem surdos. Quando a surdez chega por conta da idade, o animal começa gradualmente a apresentar diferenças de comportamento e demonstra dificuldade para se adaptar às atividades de rotina. Para Carolina, este é o melhor momento para identificar a causa e, constatada a surdez, estabelecer uma nova forma de comunicação, para ajudá-lo a se adaptar a um novo modo de estar no mundo, sem um dos sentidos.

PUBLICIDADE

É fundamental que todas as pessoas que já tenham convivido, ou venham a conviver com um cão surdo, saibam que, independentemente da raça, idade, ou se a surdez é de nascença, se foi adquirida, eles podem ser cães extremamente equilibrados. Eles precisam, sim, de uma dedicação maior, adaptações na rotina, na comunicação e, principalmente, motivação por parte dos tutores para aprender como fazer tudo isso.

Mas, são cães muito especiais, que, segundo a especialista, estabelecem uma conexão única com seus tutores. "Uma vez que você tem um cão surdo, você sempre vai querer ter um. É o meu caso. Posso dizer que conviver com cães surdos faz parte do que sou como profissional e como mãe de cachorro. Eles nos ensinam uma forma de amor que é difícil colocar em palavras. A experiência vale cada segundo de dedicação", finaliza Carolina.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.