Filho de porteiro escreve carta aos alunos do dia 'Se nada der certo'

'Gente que não deu certo existe pra isso: mimar os que deram certo', escreveu Marcio Ruzon em seu Facebook 

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Por Redação
Atualização:
'Se nada der certo': tema de evento escolar gerou críticas Foto: Twitter / @Ayrton_F

Na última segunda-feira, 5, o caso do colégio Instituição Evangélica de Novo Hamburgo (IENH), no Rio Grande do Sul, que promoveu o dia 'se nada der certo', parou a internet. Alunos foram vestidos como faxineiros, porteiros e atendentes de restaurantes fast food. Por isso, muitos internautas fizeram publicações rechaçando a atitude da instituição, acusando-a de elitismo e discriminação. 

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No mesmo dia da divulgação das fotos dos alunos na escola, Marcio Ruzon, filho de um porteiro, escreveu um texto em seu Facebook, criticando fortemente a atitude dos alunos e do colégio. 

"Meu pai aposentou-se como porteiro. O mesmo que vocês têm aí na entrada do Colégio, que os pais 'que deram certo' passam e nem cumprimentam", escreveu. "O que meu pai recebia de salário era uma mensalidade que as famílias 'que deram certo' pagam pra vocês ensinarem essa ética (ou falta dela) aos estudantes." 

"Aprendi a profissão com meu pai. Fui porteiro por anos. Vi o que é você comer em pé ou no banheiro porque não tem ninguém pra substituí-lo nos intervalos. Cansei de atender pessoas na guarita enquanto mastigava um ovo frio", continuou Ruzon. 

"Meu pai não deu certo. Criou três filhos junto com a minha mãe que ficava apreensiva em casa: -" Será que ele volta?" Porque meu pai pegava estradas perigosas de madrugada, aliando-se ao fato de muitas vezes cuidar de galpões abandonados, que era alvo de bandidos. Mas ele não deu certo." 

"Conseguiu sustentar 3 filhos (e minha mãe administrando como uma Economista) com pouco mais de um salário, hoje todos bem e com família, mas infelizmente ele não deu certo. (..) Meu pai tem um Palio que vive quebrando, e mesmo debilitado pela idade, levava todos os netos às escolas públicas. Levava e buscava. Mas, que pena! Meu pai não deu certo", desabafou. 

"Gente que não deu certo existe pra isso: mimar os que deram certo. Tenho orgulho de ter um pai que não deu certo, Colégio Marista. E eu tenho orgulho de não ter dado certo também. Já pensou, criar minha filha num ambiente que debocha de profissões, que em vez de promover a isonomia e empatia, fomenta a segregação e a eugenia?" 

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Leia o texto na íntegra: 

Em seu texto, Ruzon se dirigiu ao Colégio Marista, que realizou a mesma atividade em 2015 pela última vez. Ações como o 'Se Nada Der Certo' ainda são comuns em diversas escolas, e as imagens divulgadas acabaram espalhando informações falsas. Um post do Facebookque já foi compartilhado mais de 8 mil vezes usa uma notícia antiga do site do Colégio Marista Champagnat, em Porto Alegre, para acusá-lo de ter feito a atividade.

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